domingo, 20 de dezembro de 2009

ei

http://www.formspring.me/branquelazeda
me enfiei na brincadeira de perguntas e respostas, galera. haha
Então se você tem curiosidade em saber como eu consigo ser tão emofilhodaputa nos textos, é só perguntar. respondo. juro! hahahahahahaha
pergunta lá. :)

volto no ano que vem :)
e leiam o texto anterior porque até eu achei ele bonito :D

beijo.beijo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Aquela história da roda

Eu via a roda girando e girando e longe e, às vezes, tão longe que eu não me importava; até o dia em que eu percebi que as pessoas que saíam de lá traziam um sorriso no rosto.
Passei dias observando o girar daquela roda. Dias me encantando com as luzes que a cercavam e com o movimento que ela fazia.

Dias inteiros - senão meses.

E então, no meio de uma coragem súbita, decidi rodar também. Entrei para roda. Roda gigante, brilhante, produtora de sorrisos fáceis. Eu quis ver o mundo girar. E agora estou aqui. Rodando e rodando e longe, muito longe, do chão.
Eu quero sair, quero fazer a roda parar para que eu desça. Quero deixar de rodar com a roda, mas eu não consigo. Olho para os lados e as pessoas estão sorrindo e, eu não entendo o porquê de tanto fingimento. A moça de preto, que não para de me olhar, chegou a chorar de tanto desespero, eu vi. Eu juro que eu vi. Mas quando os olhares a cercam ela escolhe o sorriso mais bonito e coloca no rosto.

Às vezes eu acho que é tudo uma armação para fazer a gente entrar na roda, noutras penso que aquele fingimento é a única verdade absoluta que a cerca. Colocar um sorriso no rosto, mesmo sofrendo, não deve doer tanto quando essa é a única coisa que está ao seu alcance.

Eu olho para o lado, meio sem jeito, com medo de mostrar meu pavor, e ainda encontro o rapaz que me encorajou a entrar. Ele segura a minha mão às vezes, noutras ele segura, fortemente, a mão da moça de preto.
Deve ser por isso que ela me olha tanto.
Acho que antes, da minha coragem aparecer, a atenção do rapaz, encorajador, era só dela, apenas ela segurava as mãos quentes que acalmam.
Agora ele, gentil, se divide em dois.
Se divide e se diverte.
O sorriso nunca o abandona e eu o vi, durante aqueles dias, sair sempre com um sorriso nos lábios. A moça de preto eu só conheci quando entrei.

E foi então que eu entendi como a roda gira.

Eu nunca tinha a visto porque ela jamais saiu daqui. As pessoas que conseguem sair saem felizes. As tristes, não. As tristes ficam. E elas não ficam apenas por serem tristes, muito pelo contrario: elas ficam tristes por não conseguirem sair.

Eu olho para o rapaz.
Eu olho para moça.

Eu penso em contar a ela sobre minha vontade de voltar para casa, imaginando que ela me ajudará ao saber que eu, enfim, sumirei e o rapaz voltará a ser só dela.
Me calo.
As mãos dele estão nas minhas e eu sinto aquela coisa que eu ainda não sei nomear, mas que, com empenho, me emudece. Eu vejo alguma verdade, qualquer uma, escondida naqueles olhos. Ele pede, num gesto, que eu fique. Pede para eu ficar por perto, para eu permanecer aqui.
Eu acredito.

Eu fico.

Me sacrifico apenas por saber que as mãos me acalmarão durante o desespero.
Sem que eu pudesse evitar, passei a olhar, descaradamente, para moça. Ela deve imaginar, como eu imaginei, que a olho única e exclusivamente por ciúme do rapaz.

Ciúme: é essa a palavra-chave - senão o sentimento.

Mas eu sei, eu sei que não é apenas isso. Não há só isso. Eu tento me encorajar a deixar tudo para trás, tudo de lado. Tento imaginar o quão felizes eles poderão ser se eu descer da roda. Se eu desistir de tudo. Se eu soltar essa mão que, no momento, parece ser a coisa mais importante que eu tenho.
Às vezes, no ápice da loucura, eu tento convence-lo a fazer a roda parar de girar, mas ele não quer e eu, por mais triste que seja admitir, o entendo. Esteve tanto tempo parado, tanto tempo com os pés cravados ao chão. É encantadora a maneira como ele segura minha mão e pede pra eu ficar.
Seria ideal se, talvez, eu fosse à única a conhecer o calor daquelas mãos.

Os dias passam e eu descubro as pessoas que o cercam.
Há outras moças; muitas.
Moças que ele acalma enquanto eu durmo; e há uma, única, que ele deixou no chão - a mais importante, talvez, a que faz que com que ele pare de girar com a roda.
Ele pede para que todas fiquem, eu sei. Ele não desiste de nada e não quer sair da vida de ninguém. Às vezes eu finjo que durmo só para vê-lo tocar uma das desconhecidas. Em noites assim eu choro, baixinho para que ele não me ouça, e ao fim do choro não encontro o verdadeiro motivo.
Não sei se choro por não conseguir deixar a roda, e seguir em frente, ou por saber que quando a roda parar, de fato, ele voltará e encontrar a única que realmente importa.

Talvez eu queira ser importante.

Acho que por mais que eu queira não há como abandonar essa roda que não para. Não ainda. Não agora. A roda gira e gira e me leva para longe, às vezes para tão longe, que eu me desconheço. Passo o dia esperando os minutos da atenção direcionados a mim e qualquer sentimento inesperado me faz correr de encontro aos braços dele. Eu não sou assim. Eu não quero ser assim.
Mas parece que quanto mais a roda gira, mais eu me torno aquilo que eu não gostaria de ser.

Eu tenho tanta vontade de pular daqui, de me jogar de encontro ao chão e, de lá, dizer que dessa vez ele perdeu que eu venci que eu consegui sair da roda sozinha que eu estou feliz e que ele... Ele perdeu a chance de entrar pra história.
Essas coisas são rápidas, entende?

Quando a porta se abre você tem que estar pronto para entrar.

Estou procurando a chave para trancar minha porta, mas parece que, de propósito, só vasculho os lugares errados.
Tenho medo de trancar a porta e me arrepender.
Tenho medo de deixá-lo do lado de fora.
Tenho pena.
Tenho amor.

Talvez o amor seja a roda gigante; girando, e girando, distribuindo os papeis - triste e feliz - dentre os participantes. Talvez eu tenha inventado a roda para arrumar uma desculpa para amá-lo de alguma maneira.

Talvez tanta coisa, telespectadores.

A moça de preto me olha cada vez mais de perto e o rapaz me veste de tanta confusão que eu não posso lhe dizer se está perto ou longe, dentro ou fora.
Mas garanto, senhores: ele está!
E ele fica.
E ele não quer ir embora e eu não quero, de jeito algum, que ele se vá.

No fim de tudo acho que eu voltarei para o chão e encontrarei aquele que eu deixei; meu único, minha insegurança mais segura.
Acho que meu medo não deixará que eu o impeça de ir de encontro ao passado que ele tanto sente falta.
Talvez ele nunca tenha se desgrudado do passado.
Talvez ele ame, arduamente, a moça de preto.
Mas eu sei, meus senhores, eu sei que no fim eu vou encarar a verdade: a roda gigante jamais existiu.

sábado, 12 de dezembro de 2009

paredes

aliviada eu respiro, após o vendaval, após o vento que passou varrendo minhas memórias. a princípio o odiei e fiz promessas que o obrigavam a sentir dor aflita. depois desfiz. era necessário. é necessário. foi.

as coisas vão embora, cedo ou tarde, sempre vão. ele só adiantou a ida. só facilitou a perda. quanto se perde tudo a humildade faz a compreensão surgir com mais rapidez. de outra maneira eu jamais compreenderia. o odiaria sem me importar. agora me parece estranho, e um tanto ausente dizer, mas eu o amo; e é só.


enlouquecendo enlouquecendo enlouquecendo enlouquecendo enlouquecendo...!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sexta-feira, 11.

Me perder, pra te encontrar, em mil bocas que se beijam sem ser necessário fechar os olhos.

Os olhos não se fecham; ela nunca dorme.

Escreve por impulso, corre por impulso, beija por impulso.

Bebe.

Fala.

Impulso! Impulso! Impulso!

Quase um empurrão.

Quase qualquer coisa.

Quase qualquer quase.

As xícaras estão sendo quebradas na cozinha.

As toalhas estão sendo lavadas à mão.

O café está pronto e amargo.

Ela não está.

Jamais estará pronta.

Nunca.

Os olhos sempre abertos; ela nunca dorme.

Tem medo de mudar a pagina, de sair da linha.

Com os olhos abertos tudo permanece igual.

Mas basta uma piscada pro eterno se tornar efêmero.

Arrisca?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Qualquer coisa que o valha

Era uma vez...


Eu tentei começar a história.

Eu tentei começar uma história; mas não conseguia me desgrudar desse "era uma vez" que não exprime coisa alguma. Eu tentei sair do inicio e, desajeitada, tentei alguns passos.

Caí.

Como qualquer coisa, desajeitada, que tenta um salto e acaba no chão.

Eu tentei e tentei e ousei e até gritei por ajuda - eu sempre grito.


Silêncio.


Há horas em que ninguém sabe o que é melhor para você; há horas em que apenas você tem o poder de devorar ou destruir.

Eu sempre acabava fazendo as duas coisas e sempre, eu digo sempre mesmo, me induzia ao vômito na manhã seguinte.

O corpo, doente, já não suportava tanta indecisão.


Eu não suportava a decisão.


Ele não me dava escolhas, já havia traçado o caminho e a mim só cabia decidir continuar ou ficar aqui sentada.

Eu estou tão cansada, senhores.

Tão cansada desse disse que disse, desse chove e não molha, de ser essa coisa desajeitada que em vão tenta um salto.

Estou querendo ficar quietinha, desconhecida, no meu canto, apenas vendo o mundo girar e as coisas acontecerem.

Sempre quis saber como tudo seria sem as minhas mãos invasoras e palavras sem nexo.

Eu penso tanto nele em noites assim e, no fim, acabo o reduzindo a nada. Acabo transformando o indicio de sentimento em pó e qualquer vontade em tentativa vã.

Eu preciso parar de escrever histórias e matá-las sem saber os fins.

Eu preciso parar de escrever histórias!


Era uma vez e...



Jamais será.


ps: ando tão repetitiva. desculpa.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Inércia impura

As luzes se acenderam e, agora, eu podia vê-lo claramente.


As mãos caídas sobre as pernas, o corpo exausto e aquele ar de quem sabia onde estava, como chegara até ali e o porquê da vinda. O sorriso ainda era o mesmo, igual há três séculos – ou três minutos, não sei –, quando a gente se viu pela primeira vez. Agora só eu o via. Só eu o ouvia. Só eu, só eu.


Eu só.


Era domingo, as cortinas se fecharam, as luzes se acenderam e eu encontrei aquele que eu sentia tanta falta. Ele não me via. Não podia me ver ou não queria ou não conseguia ou apenas queria não conseguir. E eu me entorpecia daquele cheiro que vinha só dele.

Por Deus, como eu quis beijá-lo aquela noite. Como o meu coração sentiu necessidade em senti-lo, como eu precisava, arduamente, daquele corpo sobre o meu ao menos uma vez mais. Ele permanecia estático; as mãos caídas sobre as pernas, o sorriso de exaustão nos lábios. Eu já me encontrava contorcida ao chão, vestida em cólera, rezando para saudade me deixar em paz. As memórias, agora acordadas, corriam como vultos a minha volta, entoando canções que me transportavam para um mundo paralelo ao meu. Me empurravam para qualquer coisa, para qualquer um; me faziam contorcer a olhos vistos e gritar teu nome por todos os cantos do quarto. Gritei até alguém me ouvir, até a garganta sangrar, a boca arder e a audição ficar escassa.


De nada adiantou.


Você nem se moveu, sequer olhou em minha direção. Continuou imóvel, misterioso, lindo, dormindo em sua moldura de fotografia. Eu sabia que a claridade machucava, eu sabia o quão segura a escuridão podia ser. Agora me pego dançando a sua volta, tentando trazer qualquer vestígio de atenção para mim, tentando provocar qualquer sentimento por menor, e mais impuro, que seja. Qualquer um, meu bem. Me odeie, me maldiga; morra de raiva ou, então, de nojo. Cuspa em mim. Escarre. Me jogue num canto qualquer e me corte, me queime. Qualquer coisa, amor, mas, por favor, não me olhe como se estivesse olhando o nada. Tire esse sorriso do rosto, tire as mãos das pernas, feche os olhos e durma. Descanse. O mal já foi embora, e eu zelarei por você.

Os meus olhos estão cansados de olhar os seus que mais parecem promessas. Meu coração não suporta bater tão descompassado. E o meu corpo, lasso, não é capaz de abrigar tanta vontade. Sai dessa redoma que te protege, meu amor. Sai de si. Crie vida, vem para o mundo. Vem para o meu mundo e dançaremos, livremente, nesse breu que nos consola.


Ah, meu bem, se eu soubesse como lhe trazer pra perto...


Se eu soubesse como lhe tirar de dentro e colocá-lo ao lado, eu o faria, meu amor. Sem duvidas, sem culpas, sem pena.


Mas eu não sei.


Enquanto o seu viver me consome eu só peço, a qualquer um, que os telefones toquem, que as cartas cheguem e que, enfim, o porta-retrato se quebre.


Garotas da postagem anterior: Aceito QUALQUER livro do Caio. rs Aliás, acho que to quase merecendo, hein, duas décadas não é brincadeira, não. hahaha

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Carta

Pois é, Passado, mais um ano, hein? Quem diria... Eu aqui, você aí. Sem telefonemas. Sem presença. Só essa ausência que soa meio fria entre nós dois.

Preciso lhe dizer que, graças a um rapaz meio palhaço aí, quase te esqueci. Palhaçada? É. Isso mesmo: Palhaço. E mesmo que ele não tenha entrado para história, eu sou grata pelos acontecimentos; me fez acordar, erguer a cabeça, aprender algumas coisas e ver que nem tudo estava perdido. É Palhaço, mas é gente boa, e não entrou para história porque talvez seja melhor assim. Eu estou bem compreensiva ultimamente, Passado, então queria aproveitar para lhe parabenizar.

Mentira.

Na verdade eu apenas queria lhe dizer que eu não me lembrei. Que eu não apareci para matar a saudade porque a saudade também não apareceu. E que talvez eu te odeie porque eu ainda não saiba ser totalmente indiferente, mas eu ainda tenho muito a aprender. E vou. E quero.

Parece que a gente tem um "encontro marcado" no próximo ano, afinal disseram que minha felicidade anda lado a lado com você. Eu não acreditei e, se eu tiver sorte, ainda me safo e encontro a felicidade antes de te encontrar. Existem rapazes por aí, não é? O Palhaço não pôde, mas outro poderá, outros poderão. A história é longa, Passado, e agora a caneta está comigo.

Sou eu que escrevo.

Só não quero perder tempo, por isso prefiro cometer erros novos ao repetir os antigos. Olhar para frente e deixar o que ficou lá atrás. Deixar tudo aí, com você. O ressentimento, os sentimentos, a renúncia.

Eu assumo que te amei. Assumo sem problema algum (o Palhaço me ensinou a não suavizar certas coisas. É 08 ou 80). Eu te amei e ainda há vestígio desse amor, é claro, mas eu estou decidida a me libertar. Eu não quero me sacrificar pelo já acontecido. O que eu fiz está feito. O que eu disse está dito. Mas os sentimentos, Passado, ah... Os sentimentos mudam.

Parabéns, querido! Parabéns por mais um ano de vida e por cair no esquecimento.

Como disseram que eu falo muito, e faço pouco, vou tentar inovar; não vou lhe dizer, cara a cara, tudo isso, o meu silencio e minha falta de interesse lhe fará entender.

No mais quero que você seja feliz.

Camila.

02/12/2009

ps: ei, Palhaço! Obrigada rs ♥

Respondendo aos comentários do ultimo texto:

Aquele trecho foi tirado do livro O Inventário do Ir-remediável. O escritor é o Caio Fernando Abreu (minha paixão ♥ rs) e eu só li três livros dele até agora, mas o meu aniversário tá chegando e eu aceito livros de presente :D

Aqui vocês encontram textos dele.

Boa leitura.

Música no blog again! riri


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O mar mais longe que eu vejo

"Talvez, sim, talvez eu fosse mulher, porque pensava no príncipe, a minha mão direita era a minha mão e a minha mão esquerda era a mão do príncipe, e a minha mão direita e a minha mão esquerda juntas eram as nossas mãos. Apertava a mão do príncipe sem cavalo branco, sem castelo, sem espada, sem nada. O príncipe tinha uns olhos fundos, escuros, um pouco caídos nos cantos e caminhava devagar, afundando a areia com seus passos. O príncipe tinha essa coisa que eu esqueci como é o jeito e que se chama angústia. Eu chorava olhando para ele porque eu só tinha ele e ele não falava nunca, nada, e só me tocava com a minha mão esquerda, e eu cantava para ele umas cantigas de ninar que eu tinha aprendido antes, muito antes, quando era menina, talvez tenha sido uma menina daquelas de tranças, saia plissê azul-marinho, meias soquete, laço no cabelo, talvez. Sabe, às vezes eu me lembro de coisas assim, de muitas coisas, como essa da menina - como se houvesse uma parte de mim que não envelheceu e que guardou. Guardou tudo, até o príncipe que um dia não veio mais. Não, não foi um dia que ele não veio mais, foram muitos dias, em muitos dias ele não veio mais, a água do mar salgava a minha boca, o sol queimava a minha pele, eu tinha a impressão de ser de couro, um couro ressecado, sujo, mal curtido. E havia essa coisa que também esqueci o jeito e que se chamava ódio. De vez em quando eu pensava eu vou sentir essa coisa que se chama ódio. E sentia. Crescia uma coisa vermelha dentro de mim, os meus dentes rasgavam coisas. Devia ser bom, porque depois eu deitava na areia e ria, ria muito, era um riso que fazia doer a boca, os músculos todos, e fazia as minhas unhas enterrarem na areia, com força.

Tenho um livro comigo, não é um livro, era um livro, mas depois ficou só um pedaço de livro, depois só uma folha, e agora só um farrapo de folha, nesse farrapo de folha eu leio todos os dias uma coisa assim: "Tem piedade, Satã, desta longa miséria". Só isso. Fico repetindo: "tempiedadesatãdestalongamisériatempiedadesatãdestalongamisériatempiedade" tempo, tempo. Aí sinto essa coisa que ainda não esqueci o jeito e que se chama desespero.

[...]

A gruta é úmida escura fria. Não tenho roupa, não tenho fome, não tenho sede. Só tenho tempo, muito tempo, um tempo inútil, enorme, e este farrapo de folha de livro. Não sei, até hoje não sei se o príncipe era um deles. Eu não podia saber, ele não falava. E, depois, ele não veio mais. Eu dava um cavalo branco para ele, uma espada, dava um castelo e bruxas para ele matar, dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse, fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos, até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe. Mas ele não queria, acho que ele não queria, e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo.”.


Caio ♥

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cru

Se por um acaso você chegar a ler, finja que não o fez; só precisava extravasar.


Vai ficar tudo bem, Camila.

Nenhuma dor dura pra sempre.

Nenhuma confusão vigora e amanhã os seus pensamentos acordarão penteados outra vez.

Amanhã tudo isso vai ser engraçado, você vai ver.

Chora; pode chorar.

Alivia, não é?

Eu sei. Chora.

Chora a madrugada toda, fique triste, não precisa me explicar os motivos, eu sei o quanto as coisas desandaram e por isso você nem tem como explicar. Eu sei o quanto você quer esquecer o passado e o quanto acreditou que o presente poderia dar certo. Disse pra si mesma, e pra quem quisesse ouvir, que não se importava com o sentimento, mas dentro de você algo dizia que desse jeito estava bom.

Estava bom, não estava?

Mas tudo acaba, ou nem chega a começar, não sei.

É difícil assumir que não temos o controle sobre as coisas.

É triste entender que por mais que você queira querer algum é o suficiente.

E dói. Dói demais expor a falta de entendimento.

Eu sei o quanto você já riu querendo chorar e o quanto é difícil para você dizer que precisa, sim, que quer, e espera que tudo fique bem.

Essa aceitação de fachada está falida, querida, todos sabem o que você realmente é.

Eu sei melhor que todo mundo, claro.

Sei que nesse exato momento lagrimas escorrem pelo seu rosto enquanto procura, entre as palavras, algum tipo de conforto.

Você vai pegar o celular diversas vezes antes de dormir, vai escrever duzentas mensagens e não mandará nenhuma.

O seu medo de ser presente lhe faz ausente, você não pode controlar.

Eu sei que é nele que você pensa quando alguma coisa dá errada e que você nem imagina porque isso acontece. Eu sei que você não quer pensar em ninguém, e que se esforça pra isso, mas tem sido inevitável.

Não é indicio de sentimento, não é?

Nós sabemos, eu e você, sabemos direitinho que não há de ser nada.

Mas o sorriso que vem dali transmite confiança, a palavra te faz acreditar numa possível solução. Auto-suficiência é bobagem. Ele já sabe que você precisa dele, só precisa acreditar que você não quer saber do passado. Só precisa lhe pegar pela mão, olhar nos olhos e dizer que tudo ficará bem. Não é necessário nem o beijo no final. Apenas as palavras e o olhar de entendimento.

Talvez vocês sejam tão diferentes que ele tenha se transformado no seu porto seguro sem que pudesse evitar.

Talvez seja apenas uma fase que depois de passar lhe mostrará o tamanho da confusão. Talvez tanta coisa que até nós nos perdemos e acho que ninguém, aqui, está interessado em saber.

Eu sei que quando a noite cai, ou o dia vem, você espera arduamente alguma coisa - qualquer coisa - apenas pra sentir que tudo ainda tem razão. Acredita que um dia você tirará os trincos da porta e alguém finalmente vai adentrar seu cômodo vazio.

Eu sei o quanto você quer ficar contente e o quanto você se esforça pra isso.

Eu sei o quanto você despreza qualquer indicio de sentimentalismo pra se proteger e o quanto estão escassas suas armas.

Eu sei que agora tudo está perigoso demais e que sua cabeça já não suporta a tonelada de pensamentos. E sei que às vezes é difícil e que você finge que não, apenas por odiar essa palhaçada toda de sentir.

Você acredita que as coisas, mais cedo ou mais tarde, vão entrar nos eixos, não é?

Tanto quanto você acredita nele.

Tanto quanto você quer acreditar em você.

Na falta de uma mão pra te mostrar o caminho eu mesma te consolo, meu bem.

Se abrace e me leia: vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O vermelho do arrebol

Como um equilibrista.

Me mantenho nessa linha tênue, nessa corda bamba que, sem perceber, me faz inclinar cegamente para o lado do sim.

Eu me inclino, por insistência ou vontade pura.

Às vezes não enxergar faz um bem danado ao coração.

Seu corpo faz um bem maior ao meu.

Enquanto o dia nasce.

O arrebol me faz brilhar dentro desse quarto de janelas abertas.

E pertencemos um ao outro até a hora de partir.

Então volto para o meu cômodo vazio, com poeira nos cantos, e guardo a lembrança de um rosto que eu esquecerei dentro de instantes.

Volto a montar minha corda bamba para ensaiar o espetáculo do talvez.

Ando tão circense que às vezes me canso.

Ando cegamente para o lado do sim.

O arrebol me convida a desvendar seu corpo e, sem que eu perceba, ele escancara as janelas do meu quarto quase mofado.

Apos anos de escuridão, e trinco nas portas, me permito ser invadida por um suposto sentir.

Sou desvendada, com um leve sorriso nos lábios, justo por ele, por ele que não se permite tanto quando eu.

Ironia de um destino brincalhão.

Piada na apresentação do palhaço.

Palhaçada, talvez.

Tudo bem, eu não me importo.

Não peço muito e não exijo nada além do que já tenho.

Gosto do arrebol.

Gosto, mais que tudo, das cores.

Gosto de saber que amanhã tudo pode se iluminar dentro do meu quarto vazio.

Gosto de pensar que dentro de instantes - ou não - poderei ser vencida num piscar de olhos.

Sem armas.

Sem guerras.

Sem destruição em massa.

Liberdade.

Apenas a liberdade me faz fluir.

Por me deixar partir deixou uma, certa, vontade de ficar pra sempre;

Talvez eu fique.


Obs: O Blog tava de cu doce e não me deixou mexer na formatação do texto. Traduzindo: praga do Carioca. rs

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Novembro

Correu, para debaixo das cobertas, para não sentir o frio que invadia todo o cômodo. Sorriu, para o espelho, tentando disfarçar a face molhada de água salgada.
Balbuciou qualquer coisa antes que a agonia pudesse alcançar seu corpo. Fosse uma oração, um apelo, uma promessa qualquer para ser curada, ao menos por ora, daquele terrível sentimento arrasador.
Trancada no quarto, com a luz apagada, fechava os olhos com fervor para que, mesmo a força, conseguisse dormir antes do caos. As horas se passaram e ali, naquele cômodo branco, sentiu seu corpo ser invadido.

O sentimento já tomava todo quarto. Um tipo de angustia que provocava desespero, voz rouca e garganta cansada. Gritava como louca e para ninguém, como se daquela balburdia fosse surgir a solução. O coração não parava de bater acelerado e por vezes ela pegou o telefone imaginando a salvação do outro lado da linha.

Silêncio.

A agonia sabe como machucar.

A invadia, todas as noites, quando os salva-almas estavam dormindo, todos, em seus respectivos quartos em suas respectivas casas.
Ninguém acordaria para salva-la.
Ninguém a salvaria.
Encolhida entre as cobertas sente o no se formar na garganta, ela sabe onde isso vai parar.

Mais uma noite em claro evitando pensar, evitando enxergar, evitando sentir.
Mais uma noite de garganta seca e boca cheia d'água.
Mais uma noite implorando por um abraço forte e alguém para lhe dizer que vai ficar tudo bem, mesmo que não fique.
Alguém que talvez esteja tão perto, e tão longe, para querer tirá-la dali.

Na luta por sobrevivência ela sempre perde.
Morre, jogada na cama, cansada da luta diária.
No dia seguinte ressuscitará e pedirá, com força: que o dia termine bem.
Na noite do mesmo dia encontrará a angustia uma vez mais.

Eu quero ajudá-la a se salvar, a se safar talvez.
Quero tirá-la disso tudo e lhe ensinar como é suave se deixar levar.
Quero envolvê-la, olhar em seus olhos densos e lhe apontar o caminho certo.
Quero tanto.
Mas ela não me ouve, ela não me vê.
Anda lado a lado com a solidão a procura do abraço forte e das tais palavras.

Não importa o dia de amanhã se o de hoje terminar bem: diz.

Que seu dia termine bem, menina branca.
Que a semana termine bem.
Que o mês, se possível, termine sem angustias.
Que você consiga viver em paz, e lúcida, até o fim dos seus dias;
para o nosso próprio bem.

sábado, 21 de novembro de 2009

is bone!

Sabe quando você tenta ocupar a cabeça com qualquer coisa e de nada adianta?
Sabe quando sua cabeça ta tão cheia que você chega a se perder entre os pensamentos?
Os meus pensamentos estão despenteados, todos, há mais de uma semana.
E eu não sei o que eu devo fazer para colocá-los no lugar.
Penso que é só sorrir e deixar viver que o resto... Bem, o resto não importa, eu sei, mas penso que o que tiver de acontecer vai acontecer. Acho que eu to cansada de fazer acontecer, sabe? Cansada de tentar. Não que eu passe noites e dias e meses tentando. Não tento quase nunca. Mas esse "quase" já acaba comigo. É tão estranho que eu nem sei o que, e pra quem, reclamar. To ficando de saco cheio de mim. Talvez aquele cara tenha razão ao dizer que eu to "carentinha", talvez eu seja, assim, "carentinha" desde sempre. Realmente eu não sei. Ta tão estranho que às vezes parece que me falta ar. E então começo a fazer coisas por puro desespero. Falo demais. Deve haver pessoas que não suportam mais ver o meu numero no visor do celular. O cara do "carentinha" deve ser uma dessas pessoas (e eu só não ligo pra ele agora porque a realidade me impede). Sei lá. Eu quero tanto escrever qualquer coisa, boa o suficiente, pra ser postado decentemente aqui, mas a cada palavra só faço me complicar. As palavras já não aliviam. Não há remédio, entende? Não há remédio porque eu simplesmente não sei onde dói - nem sei se dói.
E enquanto isso eu fico aqui. Digitando e digitando nesse blog que, pela primeira vez, vai receber um texto sem uma segunda lida. Não paro de ouvir Ney Matogrosso e nesse exato momento estou baixando o filme do Cazuza pra assistir pela milésima vez.

Cartola foi um gênio ao escrever O Mundo É Um Moinho
"Em cada esquina cai um pouco a tua vida, em pouco tempo não serás mais o que és”.


Ainda to vasculhando as esquinas pra achar o que eu perdi.
Por vezes me pego pensando sobre quando foi que tudo mudou.
O problema é o piscar de olhos, eu sei. Quando os olhos se fecham tudo muda. E eu, simplesmente, pisco. Simples assim.
Carioca que me perdoe, mas o desespero me fez poupar os "enters”.
To sentindo um nó na garganta fodido e por mais que eu queira chorar tudo só extravasa pra dentro.
Espero que tudo se acalme.
Espero que a boa nova chegue para me acalentar suavemente.
Espero e acredito.
A minha esperança não morre.
Suavidade, Camila, suavidade: digo sempre.
Um dia eu me escuto.



"Pudesse abrir a cabeça, botar tudo pra fora, arrumar direitinho como quem arruma uma gaveta. Tomar um banho de chuveiro por dentro."

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Depois do fim

"Vamos beber livros e mastigar tapetes
Catar pontas de cigarros nas paredes"
Renato R.
Súbito, como um tiro na escuridão, percebeu: acabou.
Olhou ao redor e vasculhou dentro de si, por horas, procurando vestígios de tudo o que havia acontecido.
Nada. Não encontrou nada.
Parecia que um furacão havia passado e varrido, sem cerimônias, suas lembranças. Não se lembrava de nada. Havia esquecido tudo o que o trouxera até ali.
Estava feliz, estava bem.
Com a mão na boca, e a surpresa lhe invadindo o corpo, percebeu: acabou; estava contente de novo.

domingo, 15 de novembro de 2009

"..."

– você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

Caio F.


ta tããão doído ultimamente :/

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

É de estimação

O deserto dessas ruas me faz lembrar de coisas que um dia eu quis esquecer. Hoje eu apenas quero revivê-las - mais que tudo e, talvez, mais que todos.
Caminho por horas tentando achar o caminho de volta pra casa, tentando me achar em meio ao caminho.
Tudo é deserto.
Apenas eu e a solidão caminhamos de mãos dadas.
A lua traz seu olhar sem a necessidade de um pedido, traz seus olhos pra tão perto, e tão dentro, que eu não posso, e nem quero, evitar. Choro sem querer. Por ter querer e saber que você não está.
Lamento a ausência que pisa fundo no peito e enche de fel essa garganta cansada.
Já perdi as contas de quantas noites em claro eu passei conversando com as paredes, de quanto tempo eu fiquei em silêncio esperando uma resposta qualquer.
O silêncio predomina até hoje; e as noites são tão longas.
Os sorrisos se perdem em meio ao chão antes que possam alcançar meu rosto. Minha alegria é estéril. Estéril ao ponto de me dilacerar enquanto eu mostro os dentes tentando ser feliz. Idiota quem inventou que pra mostrar felicidade é necessário, e fundamental, mostrar os dentes. Grande criança ingênua. Se eu lhe mostrasse meu coração entenderia o que eu lhe digo.
Por ora a solidão é minha única companheira, somente ela me acolhe quando os dias são tão frios.
A saudade já se foi, há tempos; graças à memória falha, graças ao tempo que não perdoa. O tempo cura tudo - ou não cura nada -, modifica tudo aquilo que ainda não deixou de ser.
Essas ruas, caladas, me remetem àquela cama bagunçada.
Me remetem ao beijo. Eu lembro do beijo.
Traz a tona um gosto, gasto, que agora parece mais meu do que seu.
Borboletas no estomago?
Minha face continua estática, mas o coração sorri abertamente.
Somente o coração sabe a verdade, e apenas a verdade é levada em conta.
Que as mascaras caiam mostrando todos os corações.
Que os mágicos façam o desespero sumir dentro das cartolas.
Que a bailarina dance para sempre no infinito.
Que eu, palhaço de mola, consiga sair, de uma vez por todas, dessa caixa.

"Ando todo intenso. E cada vez mais míope."
Caio F.
No meu caso: cada vez mais BESTA!

domingo, 8 de novembro de 2009

Três cubos de gelo e um porre de banalidade.

E damos graças pelo circulo vicioso. Pelo vicio. Pelas vísceras - minhas e suas. Pelas unhas que nos arranham por dentro e nos levam todo o sangue; mais seu do que meu.
Eu sempre me questionei: e quando o sangue acabar?
Ainda terá a minha vontade para suprir a sua. A minha vontade vai cheirar a sangue convidando as unhas do circulo a se embrenharem em mim.
Sempre disse e sempre falhei.
Que porra de sempre é esse? Não há, eu sei você sabe, mas a esperança salta alegremente em todos os corpos. Uma porra de tesão sempre nasce sem propósito e na hora daquela boa trepada nada acontece. Broxante!
Garganta seca e a boca cheia d'água.
O corpo feito furacão se apaga sem ao menos queimar corpos; sem erupção.
Ninguém goza; todos riem.
Nesses momentos de devaneios lúcidos me vem à mente uma cafonice qualquer:
"Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia”.
Nunca me importei com isso. A burguesia fede? Deixe que feda. Que se foda! Não me importo com a porra de uma burguesia mesquinha de merda. É claro que, agora, vai aparecer alguém para dizer o quão egoísta eu sou. Egoísmo é querer mudar o outro porque me incomoda. É querer que a burguesia deixe de ser burguesia para que possa haver versos e temáticas e estrofes de quatro por quatro.
Que porra! A poesia não está no outro. É in. Eu acredito que o caminho é in e não off.
Entende?
Sente?
Ta dentro! Dentro da cabeça, das vísceras, pulsando na veia. Pulsando na vida. Em qualquer lugar. Em todo lugar e a toda hora. Enquanto as horas passam e nos levam os dias, meses, anos, coração...

Dois dedos d'água e três cubos de gelo.
Eu não quero estar lúcida.
Eu não quero estar e nem sei se aceito me ser.
Absinto-me de mim tantas vezes ao ano que no próximo quase não sei quem sou.
Mas as vísceras continuam viscerais, o sangue é fresco e minha vontade ainda supre a sua. Porra! Eu sei que eu não presto. Eu sei que, pior que isso, eu não quero prestar.
Mas a boca ta cheia d'água e a garganta ta seca, entende?
É in, não off; é infernal!

sempre me sobra banalidades

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Mal necessário

Quando eu a vi ali, dançando em minhas mãos, eu quase não acreditei. Desacreditei total. Crise total! Murmurei alguma coisa, qualquer coisa, com os olhos comprimidos de ódio; peito aberto qual fratura exposta — doía e sangrava tanto quanto. Não cicatrizava. Não cicatrizaria nunca, eu sabia. E no momento me tornei a pessoa mais burra do mundo. Idiota que nasceu sabendo que pedra atirada no vidro resulta em cacos e, ainda assim, encheu de pedras a mão do garoto na rua e disse: atira!
Cacos.
Fiquei olhando para ela, sentada na palma da minha mão, e passei a ouvir zumbidos que jamais foram ouvidos. Vinham de longe ou de dentro ou de lugar nenhum, mas vinham eu sei que eles vinham e que, agora, viriam todas as noites. Eram muitos e, todos, diferentes; traziam-me aquela antiga sensação de sentir qualquer coisa que jamais se quis sentir ou pensou sentir ou apenas sentiu. Qualquer coisa, sem sentido ou não.
Os olhos já se encontravam dilatados de puro ódio e o coração se comprimia em medo.
Um medo puro que me cortava de cima a baixo quando eu a via jogada em minhas mãos, quando eu, de fato, sentia que ela estava ali, que era minha e não iria embora. Pensei em tirá-la a força, meu deus.
Por DEUS!
Pensei em autopsia, dissecação, faca amolada e até bala perdida.
Pensei em tudo; em todos.
Até perceber que seria inútil; eu estava mais dentro dela do que ela dentro de mim. Era eu quem deveria tê-la deixado em paz, eu quem deveria ter ido embora ou, talvez, nunca ter tocado em tal fogo ardente. Tarde demais, não é?
Tarde demais: a única coisa que todos pensam quando tudo deu errado.
Eu pensei; e estava com a razão.
Acordei e a vi ali, dormindo em minhas mãos, ressonando tranqüila, com cara de gente feliz, com aquele jeito de quem veio pra ficar e que não iria embora por qualquer incisãozinha. Foi esperta; apareceu no meio da noite para não lutar contra minha recusa, para não haver recusa alguma.
Merda!
E eu, agora com a sensação me socando o rosto, acarinho suas formas de Menina-moça que virou Mulher. Ela, a Certeza, havia se tornado enorme diante dos meus olhos; e como todas as certezas que aparecem de súbito, no meio da noite, não vão embora, fui obrigada a optar pela única opção que me restara: aceitar.
Aceitei.

domingo, 1 de novembro de 2009

Contestando a noite

Voltamos nos entrelaçamos e partimos. Simples como a natureza das coisas que se modificam. Fácil como as coisas que por si próprias acabam. Sem autodestruição, apenas o fim. O desaparecimento. O atravessar da rua. Sempre há o atravessar. E há vezes em que ele ultrapassa fronteiras tão finas quanto invisíveis. Somos ultrapassados por vezes. Talvez por isso eu não acredite que eu sou a chuva.

E tão pouco desejo ser o sol.

Sou o nublado de um céu repleto de nuvens, repleto de eus e vocês e escolhas mal feitas. Eu me acostumei com o não. Tanto que já não sinto necessidade em voltar atrás. Já não sinto tanta coisa que enumera-las seria quase impróprio.
Eu só penso que a vida do soldadinho deveria ser mais doce, mais leve, mais brisa.

Penso quero creio.

Eu, o palhaço de mola que sai de dentro da caixinha, acredito no amor da bailarina que dança alegremente por todo quarto. A dança o encanta, e o entorpece, o faz esquecer da dor criada por minhas piadas infames. Eu sempre achei o palhaço o mais sem graça dos brinquedos, mas é esse o meu papel. Se eu fosse a bailarina talvez tudo fosse diferente, talvez fosse mais fácil de entender.

Ah! Soldadinho, se eu pudesse amenizar sua dor sem trair a mim mesma...

O que fode é essa insistência em ver o eterno no perecível, essa vontade de semear ilusões no fundo quintal. Promessas te fodem, me fodem, nos deixam fodidos. Promessas são ilusórias, meu bem. O mundo pode acabar amanhã.

Voltamos.
Nos entrelaçamos, e partimos, enquanto o Soldadinho nos via ir embora. Me olhou, tão estranho, como quem dizia, sem dizer: cedo ou tarde descobrirás que é chuva.

Ah! Soldadinho, suas certezas são tão deprimentes.

Quando vai entender que não há certezas?
Quando compreenderá que eu sou apenas isso que os teus olhos podem ver?
Não há segredo, não há esconderijo, nem vontade de ser bailarina.
Sou palhaço.
Palhaço de mola que sai de dento da caixinha e vive essa piada, às vezes sem graças às vezes feliz.

Mas a cada dia que passa as ilusões, plantadas no fundo do quintal, invadem com mais ferocidade sua casa. Invadem o teu peito e te fere com os espinhos. Ilusões são roseiras sem rosas. Fere. Machuca. Sangra. E quando eu apareço salpicando tudo com álcool, a dor é tão grande que você esquece os espinhos e me culpa por te fazer chorar. Eu tento explicar, você finge entender, mas em terceira pessoa fere tanto quanto, não é?
Pois é.

Você lamenta minha incredulidade teimosa.
A bailarina dança ao som da sua musica.
Eu vivo a piada e lamento por nós.

Agora já não sei, ao certo, o que os teus olhos tentam me dizer; talvez seja apenas descaso pela minha falta de compreensão, talvez seja vontade de me fazer sangrar de outra maneira que doa tanto quanto as ilusões-navalhas — mesmo que pra isso seja necessário provar que estando longe tudo fica mais fácil.

Eu só penso que sua vida, Soldadinho, poderia ser brisa.
Penso quero creio.
Eu vou te deixar ir embora e prometo que não farei com que sinta o peso dos meus olhos.

Vai ser brisa, baby. Vai dançar.
Deixa que o restante o coração ajeita.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Meu lixo

Essa minha insistência em ver uma porra de poesia — mesmo que porca — por trás de cada ato, ou passo dado, me cansa. Não há beleza no mundo todo, eu sei. Existem os cantos empoeirados, os ratos de porões — que de vez em quando saem à procura de companhia; há também os livros rasgados, cuspidos e escarrados, que trazem em si a feiúra de furos feitos por cupins famintos; há também, e obviamente, outros insetos e outras vertigens.
E há os homens; e mais que isso: há os homens que amam.
Quando menos se espera a beleza se desfaz. Tudo feio. Triste. Medonho. Sombrio.
Não há mais nada. Até a poesia — mesmo a porca — foi embora te deixando para trás. Você, sem perceber, começa a contar os dias para que os ratos e baratas procurem sua companhia; conta dia após dia, todos, até o fim brilhar feliz na sua porta.
Um, dois, três, quatro... Olha para frente e o encara.
Encara a boca que te beija, os cuspes, e vômitos, que você depositou ali.
— Me olha, porra!
Encara o homem que te ama. O encara e vai embora. Some no mundo. Desaparece. Percorre milhas, e milhas, atrás do amor – só para matá-lo. Corre. Anda.
— Ainda há tempo!
Mata. Decepa. Mutila o amor que te consome, e te domina, quando os dias são tão claros. Acaba com ele na rua. Com sol. No meio da praça. Rodeada de pessoas e pessoas e pessoas.
— Que isso sirva de lição!
Não vai ser preso, nem premiado, por tal feito; vai ter feito e só. Sem vaias ou aplausos.
Nada.
O Amor morrendo, drasticamente, diante dos seus olhos enquanto recita aquela poesia mal escrita sobre a insistência em ver poesias inexistentes.
Não existimos, amor;
nem você, nem eu.

domingo, 25 de outubro de 2009

Chama no pavio da lamparina

Uma musiquinha para desintoxicar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Dama da noite

"Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota - tá me entendendo, garotão?

[...]

A roda? Não sei se é você que escolhe, não. Olha bem pra mim - tenho cara de quem escolheu alguma coisa na vida? Quando dei por mim, todo mundo já tinha decorado a tal palavrinha-chave e tava a mil, seu lugarzinho seguro, rodando na roda. Menos eu, menos eu. Quem roda na roda fica contente. Quem não roda se fode. Que nem eu, você acha que eu pareço muito fodida? Um pouco eu sei que sim, mas fala a verdade: muito? Falso, eu tenho uns amigos, sim. Fodidos que nem eu. Prefiro não andar com eles, me fazem mal. Gente da minha idade, mesmo tipo de. Ia dizer problema, puro hábito: não tem problema. Você sabe, um saco. Que nem espelho: eu olho pra cara fodida deles e tá lá escrita escarrada a minha própria cara fodida também, igualzinha à cara deles. Alguns rodam na roda, mas rodam fodidamente. Não rodam que nem você. Você é tão inocente, tão idiotinha com essa camisinha Mr. Wonderful. Inocente porque nem sabe que é inocente. Nem eles, meus amigos fodidos, sabem que não são mais. Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. Mocidade é isso aí, sabia? Sabe nada: você roda na roda também, quer uma prova? Todo esse pessoal da preto e cabelo arrepiadinho sorri pra você porque você é igual a eles. Se pintar uma festa, te dão um toque, mesmo sem te conhecer. Isso é rodar na roda, meu bem.Pra mim, não. Nenhum sorriso. Cumplicidade zero. Eu não sou igual a eles, eles sabem disso. Dama da noite, eles falam, eu sei. Quando não falam coisa mais escrota, porque dama da noite é até bonito, eu acho. Aquela flor de cheiro enjoativo que só cheira de noite, sabe qual? Sabe porra: você nasceu dentro de um apartamento, vendo tevê. Não sabe nada. fora essas coisas de vídeo, performance, high-tech, punk, dark. computador, heavy-metal e o caralho. Sabia que eu até vezenquando tenho mais pena de você e desses arrepiadinhos de preto do que de mim e daqueles meus amigos fodidos? A gente teve uma hora que parecia que ia dar certo. Ia dar, ia dar. sabe quando vai dar? Pra vocês, nem isso. A gente teve a ilusão, mas vocês chegaram depois que mataram a ilusão da gente. Tava tudo morto quando você nasceu, boy, e eu já era puta velha. Então eu tenho pena. Acho que sou melhor, sei porque peguei a coisa viva. Tá bom, desculpa, gatinho. Melhor, melhor não. Eu tive mais sorte, foi isso? Eu cheguei antes. E até me pergunto se não é sorte também estar do lado de fora dessa roda besta que roda sem fim, sem mim. No fundo, tenho nojo dela - você?

Você não viu nada, você nem viu o amor. Que idade você tem, vinte? Tem cara de doze. Já nasceu de camisinha em punho, morrendo de medo de pegar Aids. Vírus que mata. neguinho, vírus do amor. Deu a bundinha, comeu cuzinho. pronto: paranóia total. Semana seguinte, nasce uma espinha na cara e salve-se quem puder: baixou Emílio Ribas. Caganeira, tosse seca, gânglios generalizados. Õ boy, que grande merda fizeram com a tua cabecinha, hein? Você nem beija na boca sem morrer de cagaço. Transmite pela saliva, você leu em algum lugar. Você nem passa a mão em peito molhado sem ficar de cu na mão. Transmite pelo suor, você leu em algum lugar. Supondo que você lê, claro. Conta pra tia: você lê, meu bem? Nada, você não lê nada. Você vê pela tevê, eu sei. Mas na tevê também dá, o tempo todo: amor mata amor mata amor mata. Pega até de ficar do lado, beber do mesmo copo. "
Caio F.
Caio é tão fodidamente bom que me dá uma vontade absurda de ouvir Cazuza; e eu ouço.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sem mim, sem nós; sensível.

Tem dias que viver dói até os ossos. Arde. Incomoda feito farpa no dedo. Em dias como esse cada passo demora um século, cada palavra equivale a mil, e todos os sentimentos se juntam num turbilhão. As horas não passam. As pessoas não aparecem. O telefone não toca. Você anda pela casa apagando luzes, procura refugio em todos os quartos, zapeia pelos canais de TV, revê fotos, lê cartas, manda torpedos, assiste a filmes; nada te satisfaz. Nunca. Porque naquele momento viver dói tanto e essa dor te consome tanto que você chega a pensar que é tudo. Fecha os olhos e tenta imaginar qualquer coisa boa para conseguir dormir; o sono não vem e a tal coisa boa também não. Em dias assim tudo é grande demais e pesado demais e dolorido e triste e decepcionante. Em dias assim você se decepciona. Em dias assim, eu escrevo. Rabiscos inoportunos e mil folhas rasgadas; sempre em terceira pessoa. Em primeira pessoa fere demais. Revela demais. Deságua. Apontar o outro é mais seguro. Posso até fechar os olhos, em paz, e contar tudo como se a história não fosse minha, como se as Clarices e Helenas e Luizas, de fato, existissem e vivesse tão dolorido quanto eu. Às vezes viver é um tapa na cara. E não interessa de onde vem a mão e se, ela, teve motivo. Que me interessa a porra de um motivo? A mim não importa os motivos, os princípios ou a culpa. Ta doendo, caramba! Ta doendo como fratura exposta, álcool em dedo cortado, puxão de cabelo, mão na tomada. PUTAQUEPARIU! Em dias assim... Em dias assim EU GRITO! Em dias assim vale tudo. Canto para os surdos, corro de encontro ao nada, te esqueço milhares de vezes, me esqueço o dobro, viro fumante, viro alcoólatra; viro poeta. Em dias assim eu escrevo — disse Ela.
Em terceira pessoa fica mais fácil.




"Escolha feita, inconsciente, de coração não mais roubado”.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Só pra constar:

Enquanto chove lá fora vivo aqui dentro uma utopia grotesca. Vivo NUMA utopia grotesca, gritante por placebo. Utopia é placebo, não é? É; e, por vezes, todos se entorpecem juntos. Todos são culpados - mesmo quando não há culpa -; eu sou você é, Alice e o coelho são, Bukowski e Renato Russo também. Todos trabalhando por uma vida mais digna e sentimental. Todos procurando uma porra de sentimento podre. Pobre. Porre; o maior, e mais nojento, no bar mais porco que existe, só para lembrar que viver é um tapão na cara e que não há, em hipótese alguma, nenhuma luva de pelica. Só para refrescar-nos a memória, para nos lembrar daquelas frases que, daqui uns dias, faremos tudo para esquecer. Talvez, um dia, todos sejam resgatados da torre da princesa. Talvez, um dia, seremos comidos pelo grande, e mau, dragão que cospe fogo. O mais provável, e quase inevitável, é que o príncipe nos coma. Depois ele vira sapo e vai embora. Essa história de sapo virar príncipe? Mentira! É sempre ao contrario, a Walt Disney adora pregar peças. Um pouco de humor não faz mal a ninguém, não é? Pena que ninguém ri. Pena que ninguém acredita. Um pouco de crença não faria mal a ninguém também. Amor, sim. Amor faz mal e sangra e faz a sereia ganhar pernas e pés. Amor é traiçoeiro. Mordida em maçã envenenada. Uma gozada sem graça. Um porre. Uma porra. Um empurrão...
Ah! Vê se me erra, príncipe encantado. Vê se te manca enquanto eu vou cuidar de mim. Cuidar: isso, sim, faz bem.


Na real o Lobo Mau é a Chapeuzinho Vermelho

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

04:23:51

Um copo de água. Uma garrafa. Um litro. Dois. Três. Até sair o gosto da boca. Até eu engolir esse gosto que ta parado, travado, na minha garganta. Espero que ele suma antes que eu morra afogada dentro de mim.
No inicio eu gostava, gostava pra caramba para ser sincera, mas isso só no começo, entende? O começo é sempre bom. É como comer chocolate meio amargo. Você morde o primeiro pedaço, gosta, morde novamente e de novo e mais uma vez; continua comendo até acabar com tudo. Satisfeita, fica com aquele gostinho na boca. E então, dentro de instantes, o gosto começa a se modificar e você percebe que daquele chocolate meio amargo, agora, só existe o amargo; o amor é igual.
Depois você se encontra tomando água e ouvindo Ne Me Quitte Pas sem parar. E dai que você não entende porra nenhuma?
A melodia é tão triste.
Você continua ouvindo e ouvindo e ouvindo.
Até que alguém, cansado, pergunta: por que ouve tanto essa musica?
Silencio.
Você não sabe responder.
Eu não sei; parei para pensar e só descobri que eu faço centenas de milhares de coisas que eu nem imagino o porquê.
Talvez porque seja triste como a melodia de Ne Me Quitte Pas ou porque seja meio amargo como o chocolate.
Como saber?
Um copo de água. Três garrafas. Cinco litros.
Ne Me Quitte Pas
Ne Me Quitte Pas
Ne Me Quitte Pas

Aderindo à moda: http://twitter.com/mamila_caria

"E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down"
Cazuza

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O filme nunca para.

“E enlouquecerás pelo que hás de ver com os teus olhos”
Deuteronômio 28:34

Era só mais um dia comum.
Um dia como outro qualquer em que ela leria livros, encontraria pessoas, conheceria canções e escreveria antes de dormir.
Na monotonia do dia se entorpeceria de Wilde, Sheldon e Dostoiévski enquanto as pessoas, ao seu redor, falariam sem parar.
Inquietar-se-ia.
Pensaria em ir até a cozinha e tomar um gole de café de ontem, chegaria a levantar-se de onde estava, mas então se lembraria do quanto odiava café.
Pensaria na geladeira, vazia, e forçaria sua mente a se lembrar se ainda haveria aquela garrafa de vodca esquecida por lá.
Não lembraria.
Iria até a cozinha a fim de ver com seus próprios olhos.
Abriria a geladeira e encontraria a garrafa vazia, a encostaria em sua boca e sentiria um gosto de algo como "aquilo que já não existe relembrando algo esquecido”.
Pediria: que haja cigarros naquela gaveta.
Não haveria e, então, acrescentaria: ainda tenho meu Rock'n' Roll.
Colocaria um tênis qualquer, prenderia os cabelos com uma fita qualquer enquanto, em seus fones de ouvido, um puta cara gritava sem parar.
Ganharia um cigarro de um andarilho e lhe beijaria a face em agradecimento.
Sorriria para alguns jovens rapazes e pensaria, arduamente, em um.
Sentiria saudades.
Apertaria o pause daquele mpqualquercoisa, como quem diz: há certas horas que nem o velho Rock é a salvação.
Gritaria: o amor é um grande filho da puta; somos grandes filhos da puta, meu bem; grandes, e bons, filhos de uma, puta, puta.
Riria de si.
Olharia, de volta, para as pessoas que a olhariam assustadas.
Sentaria na calçada, já acostumada à sarjeta, pegaria uma bituca de cigarro no chão, a maior delas, e tragaria sem se interessar por seu passado.
Levantaria.
Olharia para os lados e diria - bem alto para que todos a ouvissem: preciso ir.
Acreditaria em sua própria mentira e voltaria para casa.
Voltaria para Dostoiévski, para Wilde, para Sheldon.
Voltaria para mim e para a garrafa vazia - agora quebrada contra a parede.
Jogaria o tênis em qualquer canto da sala.
Ouviria as reclamações de sua mãe sem prestar muita atenção.
Sentiria cheiro de café e lembraria: Odeio tanto!
Iria até a cozinha e encheria uma xícara, inteira, com aquilo.
A mãe diria: tem que adoçar.
Não ouviria.
Não adoçaria.
Amargo...
Concluiria, de súbito: tanto quanto a vida.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

“Queria que o meu pensamento te acordasse (...)”

Eu deveria tentar te impedir de ir embora e me importar e sofrer e chorar e dizer aquelas coisas todas que você espera ouvir antes de sair batendo aquela porta. Eu deveria pedir perdão, pedir que ficasse, assumir toda a culpa e depois pedir um ultimo beijo – para ter do que me lembrar e sorrir.
Eu deveria tantas coisas e já pensei em tantos planos para não te deixar ir embora.
Em tantas, mas tantas, desculpas e chantagens e motivos.
Muitos. Tantos. Mas ainda assim é pouco.
Meu corpo, lasso, não quer me ajudar. Está contra mim, contra nós. Quando você bateu aquela porta eu senti meus pés grudarem ao chão. Tentei correr ou gritar para que você ficasse, gritar que eu te amo e que dessa vez dará certo. Não pude; estava cansado demais para continuar o jogo, muito cansado para comprar outras fichas no caixa da garota de blusa verde.
Numa dessas noites, sem prestar muita atenção, conversei com Deus, e ele disse qualquer coisa sobre paciência e amor e você. Eu não entendi muito bem e talvez não entenda nunca; mas eu te amo e embora não saiba demonstrar, ou gritar verdades em meio à praça lotada de pessoas, eu sinto sua falta.
Sinto uma falta enorme de nós.
É que a vida me impede de voltar atrás; vive dizendo que os passos têm de ser dados para frente e que um, por menor que seja, direcionado ao passado nos rouba litros de alma.
Eu não tenho muita alma, eu não tenho amor e nem tenho você.
Mas eu te amo, entende?
Eu te amo!
E, é por amor, que te deixo ir.

"(...) queria rasgar essas paredes e aparecer ai do seu lado; eu assumo a culpa por ter feito tudo errado"
Ramon M.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Implícito?

pra você
"Chorava às vezes, rezava sempre. Pensava em fadas o tempo todo. E sem ninguém saber, em segredo, cada vez mais: acreditava, acreditava. "
Caio F.
O problema em não ser explicito é que as pessoas acham que você não sente.
É sempre a mesma coisa: esse garoto não tem coração, é tão frio e blá blá blá.
Que merda!
Será que elas não percebem que o que realmente fode é que eu sinto demais? Sentir sempre fode.
Olho para o espelho, toda manhã, e vejo um cara totalmente fodido.
Às vezes passo o dia todo pensando nele; às vezes o esqueço o dia todo, mas quando chego em casa qualquer coisa me traz uma vontade enorme de esquecer, então eu lembro: é necessário esquecê-lo. Dói, às vezes dói um bocado, mas é uma dor consciente, então digamos que, na maior parte do tempo, eu sou mais forte que ela. Quando a dor é consciente nem chega, de fato, a ser dor. A inconsciente, sim; mata, dilacera, destrói. Você está quieto, num canto, quando num repente surge aquele sentimento arrasador, você tenta disfarçar ou fingir que ele não existe, mas inconscientemente começa a sentir saudade; ela se aloja num lugar que você desconhece e, é tão intimo que, é quase impossível tocá-lo, dentro de minutos vai ganhando seu corpo e, quando percebe, já não pode se mover e por mais que você procure o lugar para, com suas próprias mãos, tirá-la dali e se livrar de tudo, não consegue. Não dá.
Então percebe: o quase foi embora; o lugar é, realmente, intocável.
É claro que, após alguns dias - ou horas -, a dor vai embora, mas o tempo que fica é o suficiente para fazer estragos. A dor sempre fode.
Olho para o espelho, toda manhã, e vejo um cara totalmente fodido.
Saio tentando jogar no asfalto todas as minhas frustrações e mentiras. Ando, ando, e quando volto para casa evito encarar o espelho. Não olho. Durmo. Te esqueço, antes de fechar os olhos, já sabendo que amanhã farei o dobro do esforço para relembrar. Sempre me obrigo a lembrar, e é em noites assim que eu percebo o quão ameaçador eu posso ser.
Eu me destruo apenas por pensar, e até acreditar, que um dia tudo voltará a ser como antes. Não vai, eu sei. Não vai. Foi: ele; ele se foi levando o quase. Ele se foi levando tudo e eu nem tive tempo de dizer o que eu sentia, o que eu queria, o que eu faria se ele ficasse. Não tivemos tempo. Nem pude dizer que quando a gente quer que a outra pessoa fique a gente faz de tudo. Eu faria tudo, ou não faria nada, se assim ele quisesse. Se ele ficasse. Mas ele se foi...
O grande problema em não ser explicito é que as pessoas acham que você não sente.
Merda!
A saudade domina todos os meus sentidos.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sobre coisas

Eu não tenho culpa se as coisas mudaram e chegaram a esse ponto que já não sabemos onde tudo começou ou quando irá terminar. Não temos culpa. Talvez seja uma daquelas coisas que tem-de-acontecer mesmo que a gente não entenda e não queira e nem saiba o inicio e o fim e o meio e o motivo e a causa e a razão e a circunstancia. Acontece e só. Não perguntaram: Ei! Posso acontecer? E nem chegamos a responder: Claro! Fique a vontade, aconteça!
Nada.
Quando vimos, claramente, os olhares já nos cercavam buscando entendimento por trás de cada passo dado, ou palavra dita, assim sem-querer-num-final-de-tarde. Eu não tenho culpa se algumas coisas acabaram e outras foram embora; talvez elas façam parte daquelas coisas que tem-de-acontecer, e você sabe que elas não dependem da nossa vontade e, muito menos, da nossa aprovação, não é? Você sabe, eu sei. Por dentro consegue entender que eu não tenho culpa alguma, como ele não tem e você também não. Sem culpas, baby. Você sabe que eu também faço parte dessas coisas que tem-de-acontecer, sabe que eu sempre acabo indo embora e, às vezes, não dou sinal de vida por estar morta. Até que aparece – magicamente – tal impulso vital que nos cospe, e nos empurra, para qualquer coisa ou nada. Tira-nos de um “pause” e nos mostra que é preciso continuar e que, até acabar de vez, o caminho é longo e áspero.
Então não queira me matar, amor; já estou morta há dias – e desde então a porra do impulso vital não deu as caras por aqui.
Talvez essa morte faça parte das coisas que tem-de-acontecer.
Talvez eu morra, por pirraça, durante a noite enquanto procuro respostas e perguntas tão capciosas que não se pode responder ou perguntar.
Mas entenda, amor, não há culpado.
Sem culpas, baby.
Sem culpas.
As coisas acontecem porque tem de acontecer.
E se a merda de impulso vital der as caras, por aqui, talvez eu volte a te amar amanhã, no momento estou cansada demais para comprar fichas naquele caixa da garota de blusa verde.
Do pause ao game over num pulo.
Odeio roubar no seu jogo.



voltei; e agora pra ficar rs

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O vôo

O relógio marcava quatro e trinta e nada parecia nítido àquela altura naquele apartamento vazio. A policia fazia um barulho enorme, junto aos vizinhos assustados, enquanto lá dentro o silencio era ensurdecedor; o silencio normalmente grita nessas horas, e quando o silencio grita é hora de morrer.
Dois corpos jogados na calçada.
Um homem e uma mulher; mortos.
A gritaria aumentara e ninguém era capaz de dizer o que havia acontecido ali. "Um casal de namorados apaixonados", disse um dos vizinhos; "eles nunca brigavam", disse outro; "homicídio", apostava alguns. E o que mais intrigava a todos - menos a mim - era o sorriso, meio perdido, no rosto do rapaz atirado na calçada; um sorriso de desejo atendido, sonho realizado.
Todos se assustaram ao vê-los mortos e as velhotas do prédio diziam a todos que fora castigo divino, que era evidente que eles tinham algum pacto com o "coisa ruim" e que era uma vergonha a vida que levavam. Eu, particularmente, acho que eles apenas viveram - no sentido mais puro da palavra. Havia vida por toda parte, até nos goles de álcool e tragadas de uma erva qualquer. Muita vida. Vazava aquela vontade de viverem e amarem e enlouquecerem; juntos.
Jamais pensaram em suicídio.
Foi desespero, um ato de puro desespero.

Ela chegou batendo a porta e dizendo coisas, para ele, absurdas: não dá não dá mais pra ser assim não quero mais que seja assim acabou vou embora e não me peça pra ficar e nem diga que me ama pois isso pouco me importa me esquece to fora.
Ele tentou - mesmo sem êxito - dizer que a amava e que iria mudar e ainda pediu, insistentemente, que ela ficasse; não deu.
Acabou!
A palavra ecoava na cabeça dele enquanto ela jogava todas as roupas numa mala qualquer. Então ele, sem saber o que fazer, trancou a porta; tentou, ingenuamente, impedi-la de sair de sua vida para sempre. Ele a amava, caramba! Não suportaria vê-la em outros braços. Quando, finalmente, as malas ficaram prontas ele, aos gritos, anunciou o veredicto: você não vai embora você só sai desse apartamento se for pela janela querida e comigo.
(...)

Dois corpos jogados na calçada.
Um homem e uma mulher; mortos.
Paixão no décimo andar.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Aviso:

to sem net e sem pc e, pelo jeito, não sei quando tudo volta ao normal; tenho muitas coisas bacanas - ou não - para postar, então quando tudo se normalizar prometo postar com mais frequencia. rs
enquanto isso é isso.. haha
o texto anterior é bacana (Y) e em breve - espero - volto a acompanhar os meus queridos blogueiros :D
Obrigada.

beijos.

Camila

domingo, 13 de setembro de 2009

Caótica; mente caótica

Escovando os dentes para tirar o gosto amargo da boca; escovo sem parar e por impulso, quase rindo e quase sem perceber, já sabendo que a merda de um creme dental não levará o amargo do beijo embora.
É uma maldição, talvez.
“A maldição do beijo”, um bom titulo para um livro tosco – às vezes insisto também em escrever. A tal maldição é circular, passa de boca em boca, de beijo em beijo. E eu penso que quando encontrar o dono daquela boca maldita tudo se findará.
Circulo fechado; o fim.
Isso me diverte às vezes e me causa náuseas regulares.
Três vezes ao dia.
Três semanas num mês.
Três meses num ano.
Deve ser a porra de um inferno astral – ou não.
E eu procuro uma loucura quase passageira, uma loucura interna que eu quase encontro em algumas noites de cinzeiros cheios e copos vazios.
Corpos vazios.
Muitos. Vários.
“O mundo não merece minha lucidez” é uma frase tão verdadeiramente idiota. O mundo não merece minha porra de lucidez e talvez nem minhas palavras. Por isso eu vivo; só para cuspir na cara desse mundo de merda e dizer que eu sou boa demais para ele. Boa demais para ser boa demais. O suficiente para ser o restante, o escuro, a sombra de qualquer coisa excessivamente iluminada.
A vida me dopa!
Vida filha da puta; porque para ter feito uma vida assim – piegas – só sendo puta mesmo. Puta, tosca, pseudo-escritora que, pra ajudar, não vale nada.
Olhando minhas mãos – precisamente a direita – percebo uma marca vermelha, estranha, deve ser a marca que a descarga – quebrada – deixou ali. Os vômitos são regulares, lembra? Eu já falei sobre qualquer coisa de inferno astral?
O problema é que a marca nunca é só a marca – isso fode tudo. Atrás da marca há sempre outra; e quando eu digo sempre, é sempre mesmo. A saudade, por exemplo, é uma marca e por trás dela há o causador e os motivos que te fazem lembrar e os motivos que o fizeram ir embora.
Marcas se escondem atrás de marcas.
Odeio marcas. Odeio pessoas que vão embora. Odeio sentir saudade e ter de escovar os dentes cem vezes ao dia com uma esperança fina de transformar o amargo em gosto de hortelã.
A escova não alcança o amargo; o amargo nem é amargo; o amargo é doce.
Tão doce que chega a amargar a garganta, entende?
Não, não é?
Você nunca vai me entender. Sempre vou ser estranha demais, quieta demais, caótica demais.
Caótica; mente caótica.
Um dia minha mente se cala; um dia meus dedos se cansam; um dia eu durmo, querida, eu durmo.
E nesse dia...
Ah, nesse dia eu enlouqueço de vez.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

então eu grito...

SÓ QUERO TE DIZER PARA ME DEIXAR EM PAZ.
PARA PARAR DE MASTIGAR MEU CORPO TODAS AS NOITES.
PARA PARAR DE ANOITECER.
AMANHECE, CARAMBA!
AMANHECE DE UMA VEZ E VAI EMBORA.
SERÁ QUE NÃO CONSEGUE VER QUE EU JÁ ENTENDI?
SERÁ QUE NÃO PERCEBE?
AGORA É A SUA VEZ DE ENTENDER:
ME DEIXA!
ME ESQUECE!
ME COSPE, PORRA!

será que assim ele escuta?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Mofo

O gosto de cigarro na boca dele me faz sentir certa felicidade em me ser. Aquela pele de homem colando na minha, como imã. Dois pólos, negativo & positivo, nos atraímos por assim dizer. Nos atraímos, e nos distraímos, perdidos vagarosamente entre si. Puramente impuros e insanos. Putos. Com vodca e soda descendo sem parar.
– Duas pedras de gelo e uma rodela de limão.
Por favor. Por Deus. Por nós. Pelos filhos que não tivemos. Por toda essa droga de amor que acaba com a gente enquanto sorrimos entorpecidos de prazer.
Ah, o gosto de cigarro na boca dele me faz tão bem. Me faz viva. Me faz e só. E assim somos; eu e ele; nós.
A barba roçando minha pele, enquanto declamo os versos que eu fiz só pra nós dois. Ele ri, com graça, da sem-gracice que surge quando eu falo do gosto na boca dele.
– Você odeia cigarros, meu bem.
Eu sei. E é por isso.
Então tudo se encaixa, rapidamente, como num final de filme perfeito. Nos encaixamos, um no outro, envoltos pelo lençol branco da nossa cama bagunçada; ele me beija com avidez, como se quisesse me fazer provar o gosto mais intimo da nicotina em sua língua. Eu provo, prazerosamente, e aprovo esse elo que nos une.
Unidos nos dominamos ali, cheios de prazer e vontade. Ele adormece e eu, sem perceber, me pego velando seu sono de menino-homem.
Meu menino, meu homem, meu gosto favorito.
Meu pólo.
Meu imã.
E, lá, no fundo mais amargo do meu ser, sinto medo pelo fim dos nossos dias. Sinto um desespero, quase que agradável, de ver tudo desmoronar em minha frente; a porta batendo e o meu garoto indo embora.
Ah, como essa imagem me é triste; como é solitária, vazia e nostálgica.
Sem me curar da loucura já sinto saudade daquela língua matando minha sede.
Deito, calmamente, minha cabeça naquele peito nu; antes de adormecer ainda, hesitante, me obrigo a sentir sua barba uma vez mais.
Um beijo.
Um olhar quase que risonho.
Risos contidos.
Digo que lhe amo enquanto ele sonha com morangos; e, então, eu, enfim, adormeço imaginando-os, todos, mofados.


Dormi com Caio F. e acordei assim; meio morango meio mofo, meio ele meio eu.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Wonderland?

Se eu estivesse lá, no País das Maravilhas, eu matava o Coelho e ainda pedia o Chapeleiro Louco em casamento.
Seguia qualquer caminho para chegar a qualquer lugar sem problema algum; fones nos ouvidos e pé na estrada, não é?
Cigarros e bebidas resolvem muita coisa, queridos. Alice faria tudo por um pouco disso - tenho certeza. Alice mataria o coelho, se pudesse, se não tivesse de ser Alice perdida no País das Maravilhas.
Nós mataríamos; juntas.
E não é nada contra o bicho, não. O problema é que ele tem relógio e pressa, e todos nós sabemos que pressa e relógio não são confiáveis, não é?
Não?
Ta; não importa.
To meio perdida aqui.
Querendo voltar para casa só para fugir de lá.
Querendo aparecer só para dizer que estou indo embora.
Querendo atender ao telefone para dizer que não estou; e nem vou estar.
Loucamente perdida.
Malucamente. Doidamente. Perdidamente.

Volto daqui alguns dias ou horas ou qualquer coisa.
E se o Chapeleiro disser sim, volto casada.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

1990

Porque nesse momento presencio uma mutação em mim mesma. Nesse exato momento eu posso ver – e vejo – tudo mudando. Como se aos poucos eu trocasse de pele. Como se, sem dor, eu fosse obrigada a aceitar esse novo eu que já não é tão novo assim.

domingo, 23 de agosto de 2009

domingo

"Certo, muitas ilusões dançaram — mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. "
[Caio F.]

O bicho do desânimo vem comendo minhas entranhas há dias. Mastiga, sem pressa e, com um leve ar de superioridade. Por vezes cospe; joga fora; rejeita. Só falta gritar, na minha cara, "Tosca! Você não me faz bem", como se ele fizesse. Como se ele fosse o bicho fodão que domina o mundo.
Tosco! É você quem não me faz bem.
E em dias assim eu desisto de tudo. Desisto, com um empenho assustador, e não me importo com o comedor de entranhas ruins.
Em dias assim eu me decepciono com freqüência. Penso em não mais ligar, não mais saber, não mais querer; não mais.
Isso até o telefone tocar. O telefone sempre toca.
Então o querer renasce aqui dentro. Ressuscita dentre as coisas mortas que eu deixei para trás. Bate na porta e, sem pedir que se identifique, o deixo entrar. Entra. Se aloja. Domina.
Em dias assim eu me deixo ser dominada com facilidade e por todos.
Deixo o vento me levar.
O tempo me arrastar.
A chuva lavar meus arrependimentos.
Em dias assim sempre chove.
Em dias assim eu sempre me molho.
Em dias assim eu morro; e é incrível, e até difícil de acreditar, mas sempre ressuscito na manhã seguinte.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sinto muito

Sempre me encontro irremediavelmente perdida após alguns passos e uns sorrisos. Quase me entrego. Quase me coloco em suas mãos, como um presente, inesperado, envolto por um laço de fita azul. Sem pedidos ou desejos. Apenas a entrega crua.
Deixo-me lá; e fecho os olhos para fingir que desconheço as mãos que me levaram até você, remoendo histórias, e rezando para eu me enganar, por um tempo, e não contar a ninguém que aquelas mãos eram minhas.
Os sorrisos surgem e lá estou eu mais uma vez escrevendo, em vermelho canalha, "sou tua" bem no meio do meu rosto. Escrevo e me escondo. Finjo. Para depois mentir, para mim mesma, dizendo que foi você quem me achou.

É que eu tenho uma história na cabeça - e no coração.
Eu acredito que um dia, quando eu menos esperar, você vai bater em minha porta, com algumas malas, vai sorrir – é incrível como você sorri – e então dizer "voltei"; como se por todo esse tempo, em que eu venho desfazendo o tal amor, você só estivesse viajando. Uma longa viagem apenas. Longa. Longe. E então, num belo dia, você, finalmente, resolve voltar para casa.

Eu sou a casa.

Talvez pelo tempo que esteve fora não me reconheça.
O tempo arrasa tudo.
O vento arranca as telhas e a umidade trás o mofo para as paredes.
A reforma, muitas vezes, é necessária.
Uma mão de tinta. Duas. Três... E quando se percebe já é outra.

Ele voltou para casa. Bateu em minha porta, após anos, e me entregou o que eu desejei a vida inteira. Havia vestígios de vermelho canalha e fita azul por todo corpo. Era a vez dele de gritar “sou teu"; a vez dele de se entregar. Eu dei alguns passos e sorri. Ele, parado, ali na minha porta, mal sabia o que fazer com as mãos. Sacudi a cabeça mostrando divertimento e ele retribuiu. Tarde demais para retribuir, não?

Agora ele era meu.
Agora ele queria a casa.
Agora ele queria sentir o cheiro do mofo nas paredes.

Eu continuei, ali, sorrindo com uma graça inexistente, enquanto meu coração se comia num puro ato de canibalismo.
Atrasado demais!
Meu coração se recusava. O rejeitava.
A reforma havia acontecido – se ele tivesse aparecido antes.
Um novo dono habitava em mim; e eu sei que disse que esperaria por toda vida, mas é que eu não sabia que, toda vida, demorasse tanto.
E naquele mesmo dia ele saiu em busca de um apartamento com um peso enorme nas costas. Duas palavras, pesadas, ainda latejavam em sua cabeça.

– Sinto muito! – eu lhe disse; levando o sorriso embora.

domingo, 16 de agosto de 2009

Diálogo

- O que te impede?
- A verdade.
- Qual verdade?
- A dele.
- E a sua?
- A minha só me empurra e, nem é tão verdade assim.
- É uma mentira!
- Não!
- Então o que?
- Um talvez; um meio termo.
- E por isso vive a reclamar?
- Não reclamo nunca.
- O que está fazendo aqui então?
- Ta; quase nunca.
- Já que dói tanto, por que não chora?
- Ora, porque não há motivo.
- Você sofre pela verdade dele, reclama da dor e, ainda assim, diz que não há motivo?
- O que você quer que eu faça? Quer que eu chore pela verdade?
- Não! Chore pela dor.
- A dor não é constante.
- O que é constante então?
- A verdade.
- E ela não te machuca?
- Ela me impede. O que machuca está na cabeça.
- Ah! Então tudo se resume a uma simples dor de cabeça.
- Não!
- Não?
- Não é a cabeça que dói.
- Então o que?
- Os pensamentos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Invisivel


Quantas guerras terei de enfrentar para, então, tocar o intocável?
A loucura pinta, com doçura, o meu rosto; ressalta detalhes e defeitos que eu jamais ousei expor. Me pinta como se assim ela pudesse tornar-se dona daquilo que nem eu fui capaz de dominar.
Quanto tempo vai levar até que eu possa, realmente, atingir o inatingível?
Quantas vidas? Quantos passos?
É um calculo perigoso; a cada passo dado, volto três. Três passos que me pegam pelas mãos e me jogam de volta ao nada dentro de mim. Remetem-me ao passado como se eu fosse uma carta mal escrita, empoeirada, esquecida numa gaveta sem tranca. Fazem-me de boba, com todo o poder que é lhes dado. Três passos têm um poder enorme. Um poder, perigosamente, incalculável.
Mas agora o passado me parece tão distante; tão arredio e ultrapassado. Ultra passado. Ficou tão para trás que eu já não consigo vê-lo com clareza. Parece papel queimado, jornal queimado. Cheira a cinzas. E olha que eu nem tive a oportunidade de fazê-lo fogo. Passou por mim e quando pude ver já eram cinzas. Cinzas de um fogo inexistente e sem cor, se ao menos fosse vermelho... Ah... Eu me orgulharia do tom, ao menos do tom.
Agora está tudo tão calmo por aqui; tão calmo que me assusta.
Sinto falta da falta, do barulho, das reclamações e, ainda mais, daquele verme que roeu parte do meu coração. Sinto falta da dor.
O Ser Humano é um porre!
Quando tudo está bem vai logo inventando uma dorzinha à toa. Dessa vez eu não quero. Quero deixar de ser humano ao menos uma vez. Quero sentir seu corpo pulsar sobre o meu, e te fazer sentir minha pulsação descontrolada. Quero mostrar meu descontrole. Quero te beijar a boca como nunca e lhe olhar nos olhos rindo de puro encantamento. Quero te trazer para perto; te ligar de madrugada e saber que você sempre estará aqui, aí ou em qualquer lugar. Só quero saber que sempre estará e que sempre vai ser e sentir como sempre.
Vou te aceitar.
Aceitar esse amorzinho que você me oferece de bandeja. E depois? Depois vou comê-lo; é isso que é pra fazer, não é?
Ou, então, posso aceitar seus beijos e te ligar na próxima semana pra dizer que sinto saudade e te quero por perto.
Quero estar perto.
Quero e é tanto querer que vaza, transborda de mim. É tudo tão estranho e tão descontrolado que no momento sinto falta de coisas que eu nunca vivi. Sinto falta da falta, lembra? E acho que a sua ausência causa incomodo aqui dentro. Quero te aceitar e aceitar muitas outras coisas e pessoas. Quero me deixar levar e me deixar viver. E estendo minha mão se, você, quiser pegá-la e me levar para longe disso tudo.
Me pega.
Me leva pra perto e me mostra que pode ser bom; que vai ser bom.
Me ensina a sentir o que você sente e o encanta.
Me ensina a te amar.
Por favor, me ensina a te amar.

sábado, 8 de agosto de 2009

hein?

Quando se muda de rumo, ou tudo perde a direção, apenas por ver alguém atravessar uma praça, é sinal de que...?
[ainda sem net, mas prometo postar alguma coisa que PRESTE no meio dessa semana]

sábado, 1 de agosto de 2009

A gosto

Acabaram-se as fichas. Os bolsos estão vazios. E os fliperamas estão fechados.
O tempo está escasso. O sorriso amarelo. E as palavras tornaram-se apenas... Palavras. Sabe o quanto isso é grave?
Entende a gravidade da situação?
Palavras se tornaram palavras. Pequenas. Medias. Grandes. Vazias. Opacas. Caóticas como eu. Apenas palavras. E justo em minhas mãos. Justo comigo. Logo eu que sempre procurei entendimento atrás das linhas. Sempre li as entrelinhas e acreditei no inacreditável. No impossível. Se é que existe esse tal impossível, afinal ele pode se tornar possível diante a coragem de algum corajoso. Sempre pode. Sempre. Essa é a verdade, ou não, pois a única verdade absoluta é que não existem verdades absolutas.
É tudo tão... Relativo.
E eu até acho bacana essa historia de que tudo pode mudar a cada instante. Gosto. Aposto. Acredito. Sempre desacreditando, mas acreditando; sabe?
Às vezes quando fico muito tempo trancada em mim, sinto necessidade, grande, de abrir as janelas e ver, só olhar. Toco o mundo com os olhos; eles, assustados, tocam tudo e, tudo continua, assustadoramente, intocado. A vida lá fora continua a mesma independente do fim do meu jogo. Acho que os bolsos alheios continuam cheios; talvez eles saibam administrar as fichas.
As minhas acabaram; ontem.
Meus bolsos estão vazios ou furados; não sei.
Não posso trazer nada pra casa, nem colocar nada na boca.
Fim aos corações mastigados.

[postando rapidin. da casa da Dan :)]

sábado, 25 de julho de 2009

pois é

"Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?"

SEM NET POR TEMPO INDETERMINADO :/
Não me abandone, gente, eu prometo que volto :)

domingo, 19 de julho de 2009

Entre quatro paredes

Atravessei a casa correndo, desesperado, querendo, mais que nunca, me ver guardado por quatro paredes. Entrei no quarto. Bati a porta. Fez barulho. Mas não qualquer barulho. Era barulho de porta batida em quarto vazio. O quarto não estava vazio, eu estava lá. Gritei como louco. E os meus gritos criaram asas e voaram por todo aquele cômodo; voaram, se debateram e caíram, mortos, ao chão. Sujaram o tapete de sangue. Grito sangra. Sangra, sim! Só podia ser sangue de grito. Eu não sangro nunca! E dai que eu estava machucado? E dai que a pessoa atrás daquela porta batida se importava com meu ferimento? Eu quero me curar sozinho. Quero dividir minha vida com as paredes. Mas ela não deixa; a Dona Dos Olhos Grandes insiste em me curar. Eu já disse a ela, trezentas vezes, que eu não estou doente. Não estou. Não sou. E os gritos voam sem parar. Atravessam a janela e acordam os vizinhos. E eu os jogo, para fora, com a esperança de que eles atravessem a parede certa e acordem A Menina Branca. Ontem ela disse tudo o que eu queria ouvir. Teorizou sobre amores e até disse as três palavras que formam a frase mais clichê do mundo. Disse tudo. Falou e falou e beijou. No final sempre acontece o beijo e, no fim, ela beijou. Perdeu-se naqueles braços que não eram meus. Deixou-se levar. Pediu que a levassem. E eu só gritei: Fica! Fica!
E ela ficou; aqui dentro.
Eu tentei sorrir e até coloquei band-aid para disfarçar os machucados. Mas as palavras estavam tão afiadas que eu não pude dar conta de tanto ferimento. Não pude. Eu quase a tive. Quase a toquei. Quase fui amado por ela. Os indícios me mostravam o caminho certo. Tudo parecia certo. E agora eu só me pergunto onde foi que eu errei. Onde foi? Me digam! Digam! Apontem o erro e depois riam de mim. Debochem. Se divirtam as minhas custas. Mas me mostrem o erro. Eu deveria me contentar com o abraço. Os abraços ficam para os amigos. Eu era amigo. Amigo demais para beijar a mocinha. E os gritos não param. Não param. Eu tapo minha boca, mas eles se esvaem pelos cantos. Batem nas paredes. Voam e morrem. Morrem. Sangram. Agora batem na porta. Batem e pedem para entrar. É a Dona Dos Olhos Grandes, eu sei. Ela quer me curar a todo custo. Curar-me da Menina Branca. Ela quer me levar daqui, quer me levar para ela. Não posso. As paredes me protegem, como muros, me impossibilitam de enxergar. Eu não quero ver. Não quis. Eu hesitei até o ultimo instante. Me fiz de surdo para não ouvir o que A Menina Branca tinha a dizer. Ela disse, mesmo assim, como se fosse cega perante minha surdez. E repetiu tantas vezes que quase me mutilou.
— Não diz mais nada, por favor. — pedi.
E então estava feito. Estava desfeito. Amor jogado fora. E foi como se aquela certeza inquestionável fosse quebrada. Como se aquela verdade absoluta fosse mentira. Eu corri. Corri para não chorar na frente dela, para não estragar o carpete com a minha água salgada. Atravessei a casa correndo. Bati a porta do quarto e convidei os gritos a me fazerem companhia. E nessa bagunça já não sei quem sou. A mão de alguém bate, sem descanso, na porta do meu quarto. Os gritos se debatem contra as paredes. E eu procuro, na memória, um erro para facilitar o entendimento. Pessoas batem na porta. Gritos morrem ao chão. Batem. Morrem. Batem. Morrem. Batem. Morrem. Morrem. Morrem. Morro; entre quatro paredes.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

introspecção

Com a mão na boca Ele reza baixinho, pedindo pra que Deus acabe de uma vez com a angustia. Prende as palavras com a mão. Fala e pede; reza. Sabendo que o fim será apenas o recomeço. Sabendo que o ciclo não para nunca. Nada para. A vida continua. Mesmo com esse corte fundo enfeitando sua pele. Mesmo com a ausência dançando balé na sala de estar. Tudo continua como sempre foi. Os carros correm sem parar. As pessoas vêm e vão pelas mesmas ruas. Brincam. Choram. Riem. Só Ele grita. Só Ele sofre.
Só.
Sozinho.


"Repito sempre: sossega, sossega - o amor não é para o teu bico"

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Desabafo, blábláblá e rock'n'roll

Relembrar o passado não me deixa triste, mas ainda não fui capaz de sorrir, abertamente, tendo os olhos voltados para trás. Talvez eu não queira sorrir, com a esperança de que o, tão esperado, sorriso futuro seja maior.
É; eu tenho esperança de um sorriso futuro.
E é essa esperança, essa fé sem propósito, que me destrói. O motivo do sorriso está lá atrás e voltar os olhos naquela direção me impede de sorrir.
Confuso, não é? Eu sei. É complicado demais.
Então essa é a hora em que eu devo reclamar da vida; reclamar de tudo que era para ter sido e não foi e de tudo que foi e não deveria ter sido. Reclamar do que deu errado e blábláblá?
Até gosto de reclamações, mas hoje estou sem saco então prefiro pular essa parte.
Quero simplificar. E aquela história de gritar que eu te amo em frente a sua casa, até minha voz sumir, não saiu do papel. Eu não saí do papel. Nada saiu. Eu nem sei se você mora no mesmo lugar. Eu não sei tanta coisa...
Não sei se ainda usa aquele perfume; se ainda odeia computadores; se ouve as mesmas musicas; se ainda se interessa por história ou, se ainda, me acha a garota mais mimada do mundo. Sei lá. Talvez você tenha mudado seus hábitos; tenha desistido de jogar futebol e decidido usar corretamente seus óculos e, talvez, esteja certo ao dizer que eu mereço uma explicação. Eu realmente mereço, mas não quero. Posso não querer, não posso? Não quero ouvir mais uma vez tudo o que já estou cansada de ouvir.
Desculpa, mas dispenso suas palavras.
É hora de tentar algo novo, hora de voltar os olhos para uma direção menos tensa. Deixar tudo para lá, ou para depois, cansa menos, entende? E eu quero estar menos cansada, e sorrir sossegada, mesmo o meu motivo estando longe.
Existe outros motivos, não existe?
Eu sei que existe, sempre existe.
Eu apenas devo me focar no novo e deixar o velho para trás. Simples. Como uma troca de roupa. Troco o antigo moletom pelo novo. É isso, não é? Simplicidade. Acho que foi isso que você me disse para fazer, não foi?
Não! Não foi.
Você nunca diz nada, apenas insinua. Odeia certezas. E eu odeio parecer tanto com você. Odeio ser, de certa forma, obrigada a entender seus atos apenas por agir exatamente igual. Odeio ser igual. Odeio te entender, odeio essa ladainha toda, odeio desabafos e, odeio ainda mais, não conseguir te odiar. É confuso demais; tanto, que eu já não sei o que lhe dizer. Não sei o que fazer, não sei para onde ir e, muito menos, que nome gritar. Não sei.
Então respiro fundo e fecho os olhos. É uma alternativa, não é?
Fechar os olhos pro mundo e deixar que tudo aconteça sem nenhuma, eu disse nenhuma, interferência minha. Essa historia de abraçar o que eu quero com força já está batida; não tenho força e temo que ele recuse o abraço.
Eu o quero. Assumo. Parei de mentir para mim. Parei de me enganar e fingir que não tenho essa merda de coração. O amo, pra caralho, mas me amo ainda mais. Pode, e vai, parecer egocentrismo, mas é a verdade. Eu me amo e não me permito dar murros em ponta de faca. Não me permito sofrer novamente.
Eu te quero, você sabe, e isso me basta.
Deixo aqui minha angustia de não ter conseguido te fazer feliz, ou de nem ter tentado. Deixo tudo abandonado nessas linhas.
É preciso seguir em frente e sem dor; embora, em segredo, aqui no cantinho, ainda doa. Às vezes a melhor coisa a fazer é deixar o passado no passado.
Eu não tenho escolhas.

E viva o rock'n'roll \o/