sexta-feira, 26 de novembro de 2010

madrugada

"Já não sei dizer se ainda sei sentir
O meu coração já não me pertence
Já não quer mais me obedecer
Parece agora estar tão cansado quanto eu"
Mauricio - Legião Urbana

Às vezes é complicada essa solidão a dois. É muito foda. Dói. Machuca. Machuca ao ponto de pedir arrego. Gritar. Sair correndo no meio da noite sem olhar para trás. Sem querer saber o que deixou para trás. Há noites, como a de hoje, que eu quase morro de vontade de sumir. De me tele transportar para qualquer lugar que não esse que não hoje. Nem Chico rolando no rádio ameniza. Há dias em que nada ameniza coisa alguma. A vontade de gritar só aumenta e o desespero aflora.

Solidão a dois a flor da pele.

Enquanto ouço o sono pesado do meu lado. Não acorda por nada. "Não me acorde por nada": só falta dizer. Meu choro quase inunda o quarto; posso imaginar o colchão flutuando em lagrimas sem que ela se mexa. Ta um calor insuportável em São Paulo, um calor transbordante. Mas a frieza, nessa hora, sempre ganha espaço, então eu só faço calar. Só faço recuar. E recuando eu vou sumindo até me perder. Até perdê-la. Até nos perdermos e fim.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

fail

percorri vários lugares;

vasculhei as entrelinhas;

rabisquei frases riscadas só pra tentar te encontrar.

Se você soubesse o quanto procurei seus olhos pela noite, se soubesse quantas noites procurei o seu olhar. Talvez você voltasse...

e voltaria de bom grado. sem choro, sem suspiro, sem poemas gritados ao vento.

e se assim fosse talvez não tivesse partido, levando pra longe tudo aquilo que era meu, me privando de você.

Passo noites em claro, clareando as idéias - malditas idéias - que não somem, não desgastam.

e nessa angustia infinda, desbotei meus sentimento procurando a cor do amor.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

(...)

You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day


You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day

You're the only thing that I love
It scares me more every day

(...)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ela é minha comédia romântica

nos estreitos becos da vida a gente acaba encontrando aquilo que sempre quisemos, mas nunca procuramos. também encontramos o que sempre procuramos, mas de fato nunca quisemos.
ontem eu fumei meu ultimo cigarro. até o ultimo trago. até sentir a lingua queimar... é preciso se deixar queimar às vezes, deixar arder. é bom.
eu queria poder dizer que quando eu fecho os olhos é numa só pessoa que eu penso, mas não posso. só sei que é por ela que eles se fecham todas as noites e se abrem todas as manhãs. será o bastante? será o suficiente? talvez seja pouco: eu digo. às vezes sinto que é tudo tão pouco, tão ralo e tão vasto ao mesmo tempo. mas não me desespero, ou pelo menos tento não me desesperar. a vida contradiz friamente tudo o que eu escrevo. o amor romantico é tão lindo no papel. mas ele é complicado e dá medo. quando amamos nos transformamos em verdadeiros covardes. mas que se acovardar seja o melhor destino então...
queria mesmo dizer que quando fecho os olhos só penso numa pessoa. não posso. mas, sem duvidas, ela é a unica que me faz arder de ponta a ponta.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

...

o ultimo beijo sempre vai ter gosto de ultimo beijo.
aquele gostinho amargo de saudade, sabe? eu sei...

domingo, 12 de setembro de 2010

pimpão

sinto falta do tênis vermelho inquietante. sinto falta do preto e branco monótono. sinto falta das coisas pequenas, das pequenas coisas. sinto falta do pensamento vazio. sinto falta do livro jogado e da música pela metade. sinto falta da cara de sono o dia todo. sinto falta da tristeza da solidão. sinto falta dos porres e das risadas infindas. sinto falta do som daquelas vozes. sinto falta da facilidade e do brilho que vinha sem saber o porquê. sinto falta da cama desarrumada. sinto falta do toque nas teclas. sinto falta do velho caminho que já desconheço. sinto falta do abraço. sinto falta da inspiração. sinto falta de tudo que eu fui e já não sou... mas em compensação tenho um coração cheio. agora eu tenho. e ela me tem.


quarta-feira, 28 de julho de 2010

A caixa

Eu tenho uma caixa. Não, não é uma caixinha de musica, nem uma caixa de presente. Nada disso. É simplesmente uma caixa. Uma enorme caixa. Uma linda caixa por assim dizer. Ela está lacrada e lotada. Cheia de coisas que não são minhas, cheia de rascunhos antigos e fotos de pessoas que não conheço. Cheia de coisas do passado, de outra pessoa que não eu. Eu tento todos os dias, incansavelmente, abri-la. Tento colocar coisas novas dentro dela, fazer com que ela se torne minha de vez e que aloje as minhas coisas, as minhas angustias, os meus medos e sentimentos soltos. Mas como eu já disse, ela está lacrada. E está tão cheia, mas tão cheia, que tenho certeza que por mais que eu a abra minhas coisas não serão bem vindas ali. Há coisas demais de outra pessoa, há vida demais dentro dela. E uma vida que não é minha, entende? É nessas horas em que eu me pergunto: o que esta caixa está fazendo em minhas mãos? Eu não sei, mas não consigo soltá-la. Às vezes eu a ouço dizer, sem palavras, que é isso que ela quer, que quer que eu a solte de vez, que eu a entregue para seu antigo dono e que só ele sabe como cuidar, como abrir, como guardar suas coisas ali dentro. Ele, sim, sabe tudo e eu, eu nada sei. Tenho medo de desistir, tenho medo de soltá-la no meio do caminho. Tenho um medo enorme de realmente nunca saber.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

16.07

Venho perdendo pedaços pelo caminho.

Às vezes grandes, noutras pequenos, mas sempre pedaços.

Eles são tão meus que por vezes chego a não me reconhecer.

É tão estranho...

Pessoas e desejos escorrem pelas minhas mãos feito água. Eu não sinto falta, não reclamo. Apenas perco sabendo o que estou perdendo.

Não dói.

Perder não é doloroso.

Dizer tchau, sim, me machuca, por isso quase nunca me despeço. Dizemos não, mas nunca tchau. Então fica por dizer, por sentir. Nos perdemos sem maiores estragos. Acontece sempre. Me consolo dizendo que nada é meu e que eu não sou que tudo pode acontecer e que acontece sempre com todo mundo. Milhares de pessoas se encontram e se perdem durante a vida.

Talvez viver seja isso, um não sentir eterno ou um sentir demais.

Eu não me importo, só não quero fazer mal aqueles que eu quero bem.

Já fiz tanto mal, sem querer e por querer. Já segurei tantas mãos e no minuto seguinte dei as costas. Algumas pessoas jamais me perdoarão pelo o que eu não fiz. Algumas são receosas por eu não sentir. Sempre pessoas, sempre um punhado delas. Esperam tanto de mim, esperam que eu não as machuque e não lhes faça mal. Me pedem pra ser sincera e fazer bem e dizer sempre a verdade e sorrir a cima de tudo. Sorriso não se pede. Sinceridade não se pede. Nem carinho e respeito, sabia? Tudo se conquista. Nada é oferecido sem propósito algum. Não sinto vontade de sorrir para aquele que com atitudes me esbofeteia a cara todo dia. Eu tenho os meus limites. Eu sou sensível, embora não demonstre sentimentos claros e sempre diga meias verdades.

Eu vivo me machucando e achando que sangrar é normal, vivo ferida acreditando que toda felicidade vem embrulhada num papel fino de tristeza.

Sou descrente, talvez.

Por isso esse meu jeito torto de amar. Esse sentimento ralo e pobre que eu tenho vergonha de expor. As pessoas, as malditas pessoas, pisam na minha demonstração de afeto e acabam com tudo. Algumas ainda exigem o dobro, como se eu pudesse redobrar o que eu sinto só por querer. Eu não sei sentir. Qualquer sentimento parece ser forte demais pra mim. E mesmo parecendo ser demais, para alguns ele não é suficiente. E para mim é o fim. Cansaço. Cansaço imenso...

Os pedaços caíram sem que eu pudesse evitar, e quando dei por mim só havia uma caneta na mão e um sentimento estranho no peito.

Talvez eu goste tanto que faça do meu tanto tão pouco para que nada seja desperdiçado. Não quero perder esse pedaço, mas às vezes parece que eu não tenho outra saída senão ceder.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

05.07

Não tenho escrito por medo de escrever.

Antes eu pensava que com a caneta na mão eu poderia fazer o que eu bem entendesse, afinal eu comandava. O papel era meu. A caneta estava em minhas mãos. E a letra era minha. E, agora, estranhamente tudo permanece pateticamente igual. Nada mudou. Apenas esse medo idiota surgiu. Uma barreira que me obriga a engolir o que há muito está parado na garganta. Aquele grito que com o tempo emudeceu.

Venho me tornando uma pessoa covarde e, por covardia, me deixo ser.

Eu sei, eu sei que ninguém pode entender.

Eu não entendo. Para ser sincera não venho buscar entendimento nos olhares que me cercam. Só preciso suprir essa necessidade por palavras soltas. Palavras minhas. Minha necessidade. De mim. Para mim.

O telefone tocou, sabia?

Tocou e toca diariamente, várias vezes ao dia. Ela me procura. Ela me deseja. Julia aceitou meu amor ralo e quase miserável. Ela aceitou, me aceitou, nos aceitou, por assim dizer. E eu que a queria tanto, que a pintei com as cores preferidas dos meus olhos, a fiz perfeita nessas linhas e em seus detalhes, me recuso a aceitar. Não que eu não a queira como antes, como sempre. Eu a quero ainda mais, e esse é o problema, entende?

Julia me fez sentir coisas que jamais imaginei sentir. Julia faz com que o telefone toque e eu gosto e espero e conto os dias, as horas, às vezes até os segundos. Não mais desejei me desligar do mundo e me esconder dentre as cobertas para me fazer invisível. Quero ser visível aos seus olhos. Quero ser notada. Notável.

Julia de fato aconteceu, senhores.

E o meu medo vem com ela.

Passo as tardes com medo de errar. Passo dias. Um sentimento que poucas vezes me acompanhou agora me persegue. Tenho medo de errar com o que, mesmo de longe, parece meu único acerto. Acertei ao encontrá-la, ao conhecê-la, ao fazê-la minha. Acertei tão em cheio que agora já não consigo andar com medo de errar os passos. E, acredite, com essa ânsia por acertos, venho errando cada dia mais. Ela aponta os meus erros, vive a dizer que eu não estou pronta e que eu não entendo e que as coisas do meu ponto de vista se tornam sem razão. E eu, pra variar, tenho medo de acreditar nessas suas certezas e aceitar que eu realmente não estou pronta.

Talvez eu não esteja, Julia: digo.

Mas me diz você, quem está? Quem disse que era necessário estar pronto?

Eu não sei, Julia: digo sempre.

Eu nunca sei, ou finjo não saber...

Os meus pensamentos são de Julia; o meu corpo, meus olhos, meus desejos e sentimentos mais bonitos. As minhas palavras, não. Essas são minhas e quase nunca as solto pra ninguém.

Eu tenho muito medo de errar. Não escrevo por isso, não caminho, não me entrego... Não amo.

Talvez eu esteja perdendo um grande tempo com esse medo de ter medo de ter medo. Talvez Julia nem queira ser amada como eu desejo amá-la um dia.

Julia não está pronta, entende?

Não, ninguém entende.

Mas tudo se resume a Julia.

Os dias; o tempo; os beijos; o telefone que toca; a cama vazia no meio da semana; os filmes não vistos; as brigas; as noites mal dormidas; os carinhos; os livros; os desejos; as conversas; a minha vontade de gritar. Tudo é Julia.

Julia se resume em Julia e ponto. Pronto.

No fim a gente sempre recomeça, no fim ela volta para os meus braços e eu volto a dizer que sou somente sua. Digo tudo, prometo mil coisas e até juro não dizer aquela tal frase que pode acabar com tudo. Eu me contenho, sei fazer isso. Mas às vezes parece que se não digo não posso sentir.

Talvez ela tenha razão.

Talvez eu não esteja pronta, não entenda, e veja tudo de um jeito torto.

Talvez tantas coisas...

Mas o medo de escrever ainda não foi embora e, agora, só me resta jogar essa caneta em suas mãos.

domingo, 27 de junho de 2010

(79) dias

Me encontro na linha tênue entre dar a mão e virar as costas. Me equilibro nessa linha oscilante, às vezes até com um guarda-chuva na mão. Sempre sorrindo, é claro. Sorrir é muito importante quando não se sabe o que está fazendo e não tem a mínima certeza sobre o próximo passo a ser dado. Tenho vontade de sair correndo, deixar linha tênue, guarda-chuva, certezas e incertezas e voltar para casa, para um lugar confortável, onde eu possa fechar os olhos e fingir que tudo não passou de um sonho. Ótimo. Perfeito. Se é tão fácil assim, só me resta voltar. Então, com todo cuidado do mundo, desço da corda bamba, jogo fora o guarda-chuva, jogo no bolso os pedaços de verdade, me despeço do publico e me vou. Nessa hora o alívio devia inundar meu corpo, afinal agora eu tenho todo o espaço da solidão para respirar.

Era pra ser assim...

Tinha de ser assim...

Se o meu coração não tivesse ficado lá, nas mãos daquela garota que sorri bonito. Se ela não o tivesse mordido, se não tivesse pego essa merda de aparelho pulsante e enfiado no bolso. Se ao acordar os pensamentos não fossem para ela e as primeiras palavras que chegassem aos meus ouvidos não tivessem o som da sua voz, talvez ,assim, eu ficasse aliviado, eu pudesse respirar. Mas no momento eu estou em casa, morto de saudade, e cheio de vontade de voltar para minha brincadeira do equilíbrio só pra encontrá-la. Morto de vontade de dizer que eu não quero que devolva meu coração mordido, mas que agora ela terá que ficar comigo também, conosco. Que além de ser a garota da platéia com sorriso bonito, ela é a minha quase bailarina. A única no picadeiro. A graça dentre as inúmeras pessoas sem graça e desinteressantes que assiste ao meu show.

Eu sei meu bem, eu sei: não exija o eterno do perecível.

Eu não exijo, só desejo.

E descubro que algumas vezes ser amado é importante. E o que eu venho sentindo me faz bem.

No nosso caso acredito na reciprocidade, mesmo essa ficando escondida às vezes.

No nosso caso será eterno – ou efêmero, não sei; só quero que seja bonito e que eu não caia jamais.

terça-feira, 22 de junho de 2010

"Não quero você mais na minha casa
Corpo e rosto em pedra
Sei o que me fere em você
Eu não quero nada
Com seu riso indecente
Já conheço o seu tempero
Seu segredo e seu suor
Mas não consigo perder mais tempo
Você tem que ir embora
Já começa a amanhecer
Parece outro dia negro"

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"Outra vez, eu tive que fugir
Eu tive que correr, pra não me entregar
As loucuras que me levam até você
Me fazem esquecer, que eu não posso chorar"

quinta-feira, 3 de junho de 2010

aconteceu

Venho tentando me enquadrar nesse quadro que me encontro sem saber por que, sem saber se há um por que. Venho tentando me manter forte, manter a cabeça no lugar e não tomar nenhuma decisão precipitada. Mas às vezes é tão difícil. É tudo tão difícil. Sempre que fecho os olhos a mesma coisa aparece em minha mente. A mesma cena, as mesmas atitudes. Me encontro cansada. Cabeça dispersa e coração machucado. Me encontro perdida e já não sei que caminho tomar... Escrever já não alivia, confunde. Crise geral.




domingo, 23 de maio de 2010

Let me get what I want

Eu gosto do tempo. Ou de tempo. Não sei. Mas eu gosto, sim, gosto. Só não sei a intensidade. Se é muito ou muito pouco eu não sei. O que eu tenho certeza é do medo que sinto de sua densidade. Morro de medo dessas coisas rápidas demais que acontecem no momento exato de uma piscada, sem nos dar a mínima chance de ver. Transformam-se e pronto. Ponto. Passam de suposição a acontecido enquanto na boca fica aquele gosto ralo de estranheza. A estranheza é abundante, somente o gosto é ralo. Tão estranhamente ralo que chega a ser uma vertigem. A vertigem do acontecido que ainda seria suposição se eu não tivesse piscado.

Não pude evitar.

Há coisas que não se podem evitar e por vezes não há como alcançá-las e nem o porquê persegui-las. Deixe-as livres: digo. A liberdade é a mais eficaz de todas as prisões.

No mais estou sem tempo, sem animo e sem muitas esperanças. Como as três coisas nunca me foram úteis, estou bem. Não há motivos pra eu carregar esse sorriso no rosto, não é? Há um. O sorriso é meu companheiro. Passou por aqui, nos demos bem e ele ficou. Normalmente é assim: agarro o que me cativa e deixo o restante passar.

Talvez esse tal tempo cure tudo e transforme todo sofrimento em poesia. Sinto uma inveja enorme dele. Queria poder transformar toda aquela acidez numa poesia suave e só minha. Inteiramente minha. Mas eu não sei, as formas não se moldam às minhas mãos. Sempre peco pela vontade e me encontro amarga pelas palavras não ditas e beijos não dados. A vontade de dizer tudo me corrói. Sei que é necessário que ela saiba que desde aquela noite eu não sou a mesma e que agora os beijos jamais serão os mesmos e que os meus serão somente dela e que aquele perfume só me fará encontra-la, mesmo que ela não esteja por perto. Preciso contar que naquele momento os olhos mudaram de cor e brilharam, os filmes perderam nexo e ganharam vida e desde então tudo me parece confuso, mágico e estranhamente doce. Penso em dizer e em seguida beija-la de um jeito tão nosso, mas não demora muito para os meus pensamentos se calarem.

O tempo também cala.

Silencio absoluto.

Tudo bem, não tem pressa. Não temos pressa. Só preciso que decida se quer que eu saia a sua procura ou que eu esqueça seu gosto de vez.

Quem sabe? Talvez o tempo...

Eu gosto do tempo. Ou de tempo. Não sei.

Talvez eu precise de um pouco de tempo. Talvez eu precise mesmo é esquecer o relógio. Perder a hora. Perder a cabeça. Enlouquecer... Me esquecer.. ... Me perder... Te encontrar!

terça-feira, 18 de maio de 2010

...

meu coração veio à boca, e foi então que eu percebi: odeio gosto de coração. ainda mais do meu. ainda mais assim, acelerado, descompassado, fora de forma. eu fico contando as batidas, tentando pegar no sono, morrendo de um cansaço que por pouco não seria meu. se eu fizer silencio posso ouvi-lo bater, meio sem jeito às vezes, mas com aquele ar despretensioso de quem não sabe a que veio. não sabe pra onde vai e no momento... ah, no momento ele está quebrado. e só.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

madrugada

São 02h19min da manhã e dentro de mim explodem fachos de coisas que eu não posso controlar e nem nomear. 02h19min de uma quarta-feira que provavelmente nascerá cinza, mesmo se houver sol e esse sol for amarelo e quente. Os meus olhos se encontram cinza. há muito eu tento os controlar para não deixar meu jogo ser entregue, mas foi tudo em vão. Há muito muitas coisas vêm acontecendo. Há muito eu já nem sei quem sou. Mas hoje, justamente hoje, quase agora, 02h15min provavelmente, eu descobri que o espelho vive a me enganar e que por mais que eu grite com ele meu monólogo eterno jamais passará a ser dialogo.

Os monólogos me perseguem.

Mesmo rodeada de pessoas eu vivo falando sozinha.

Acabei de descobrir que por menos angustiante que seja a minha situação, fumar um cigarro já não alivia. Não consigo consumir metade daquela fumaça que outrora me nutriu. Descobri que eu sempre vou ter muito que falar e, por isso mesmo, vou permanecer calada até o fim. Vou me magoar e continuar dizendo que está tudo bem, que eu não ligo não me importo; e no fundo pode ser que esteja realmente tudo bem, porque ás vezes deixar tudo bem dói um pouquinho, não é?Eu entendo. Até aceito sem reclamar. Quando reclamo me sinto acuada e envergonhada, parece que eu tenho o dom de nunca ter razão.

Mas hoje, não. Hoje eu só quero não pensar em nada e esquecer o que vem me machucando e confundindo. Quero não pensar na dor da ausência e no caos da presença. Eu juro, jamais quis que tudo fosse assim. Talvez eu tenha o dom de me importar com a pessoa errada. Mas eu queria, um pouco que fosse, que se importasse comigo e que entendesse que eu preciso de atenção e carinho e entendimento. Eu tenho mais sentimentos do que demonstro ter; e tenho medo de um dia não saber demonstrar sentimento algum. Eu gosto tanto dos momentos que são nossos. De como segura a minha mão e diz que sou boba e que não devo me preocupar com as pequenas coisas. Gosto das palavras direcionadas a mim. E não me importei quando me disse "me ame se quiser, mas eu não vou amar você”. Não penso em amar ninguém. Não sei amar ninguém.

Mas não gosto de envolvimentos pela metade. É um problema ser extremista.

Mas hoje, não. Hoje eu estou triste, tão triste que não sei como agir diante a tanto descaso. Não, eu não reclamo. Tento aceitar o que é me dado sem exigir nada além do que ela pode me dar. Só me sinto destroçada quando ela exibe tudo o que é capaz de fazer e sentir e não me dá uma migalha sequer disso tudo. Mas eu não digo nada. Não posso, e não quero cobrar nada de alguém que nem sequer é minha por inteiro.

Eu não tenho ninguém. Eu não sou de ninguém.

São 02h41min e os fachos ainda me cortam. Vejo as pessoas que a amam e exibem seus amores concretos e perfeitos enquanto eu nem sei o que amar significa. Contribuo apenas com o meu sentimento ralo, feio e quase inadequado. Um sentimentozinho insignificante, eu sei, e ela se importa com a pequenez. Cobra tudo. Exige atenção e carinho e presença enquanto me dá as costas e me deixa no frio sem se despedir.

Mas hoje, não. Hoje eu só estou triste, e não quero compartilhar da minha tristeza para fazê-la triste também. Quero que ela me faça feliz, que me mostre que estou errada e que ela se importa e que eu sou realmente uma boba. Mas é muito difícil quando se vive num monologo. Eu posso ser triste, feliz ou indiferente que ela vai continuar irredutível e imóvel na sua redoma de vidro. Eu posso gritar e chorar e pedir que me salve... Mas ela sempre terá razão ao dizer que eu não tenho razão alguma. E eu não tenho, por isso permaneço calada. Desanimada. Triste. Desgastada. Parece que está morto o que eu nem vi nascer. Eu tento ressuscitá-lo com a esperança de que ele renasça belo, mas a cada dia a sinto mais distante e a esperança sempre morre por aqui.

Mas hoje, não. Hoje é quarta-feira e eu estou triste. Estou apática e quase morta. Às vezes sinto vontade de chorar e ligar no meio da madrugada e dizer tudo o que eu nunca saberei como dizer. Às vezes tenho vontade de desligar o telefone e sumir, desaparecer, até ela sentir minha falta – se é que sentirá.

Mas hoje, não.

Hoje eu só estou triste e seca por dentro. Meus cabelos estão molhados e minhas roupas têm cheiro de saudade. Aquela certeza de que o dia nasceria cinza já se tornou um fato.

Uma quarta-feira cinza pra mim, para purificar meu corpo do pecado de não saber... Não saber... Não sei.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

"(...)e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo louco, e vou dizendo longo sem pausa — gosto muito de você gosto muito de você gosto muito de você."

domingo, 25 de abril de 2010

Da janela da frente

Sempre a vejo lá, linda. Debruçada sobre aquela janela verde, procurando com seus olhos rápidos, e inquietos, qualquer indício de possibilidade. Vasculha a rua toda, desvenda cada corpo que por ela ousa passar. Eu a vejo lá, linda, e visto daqui o lá se torna tão longe e o verde chega a ser ralo devido a distancia. Mas é verde. Um verde bonito e um tanto sujo pelos braços da moça triste. Há dias em que sua tristeza inunda a rua e eu quase choro.

Parece minha aquela solidão...

Uma solidão tão singela e singular que se veste de uma beleza desigual.

A moça linda e triste é completamente desigual.

Quisera eu que aqueles olhos me despissem e me revelassem. Quisera eu me aproximar daquela janela verde que de perto deve ser tão mais verde e tão mais janela. E ela permanece lá, fingindo ser inócua a qualquer coisa, a qualquer custo. Fingindo não saber que o seu olhar entorpece todos que por ali passam e que o seu cheiro acompanha todos os corpos e penetra a memória como algo impossível de esquecer. Totalmente inesquecível.

Enquanto ela passa a vida fingindo... Fingindo que não provoca reação alguma nas pessoas que a cercam e que a janela verde não faz com que os seus olhos melados sejam tão mais mel e tão mais doce e que não faz nada para encantar a enfeitiçar a alma dos que a procuram por toda a parte. Passa a tarde fingindo que eu não sou inteiramente sua. Passa a tarde inteira me olhando sem me ver. Passa a vida fingindo não se importar com os deslizes e acasos decorrentes. E eu passo a vida toda por ela, porque uma única vez ela passou por mim. E foi intenso. Tão intenso que ela não soube voltar pra casa e eu, egoísta que sou, não mostrei o caminho de volta. Tudo para mantê-la aqui, quente, como uma canção que nos remete a momentos bons. Ela é o meu momento bom; a janela verde que fica tão mais verde e mais janela quando me aproximo; seus olhos tão lindos e melados e invasores. Posso ver os beijos flutuando sem alcançá-la, milhões deles vindos de todas as partes. Eu fecho os olhos como se assim ela pudesse ser somente minha e intocável. Mas daqui ela parece estar tão longe e o verde parece ser tão ralo...

Por vezes eu gritei para acordá-la desse transe da solidão, mas ela não ouve, ela finge não me ouvir.

E assim se seguem os dias...

Passo as minhas tardes procurando um modo de torná-la minha, querendo-a como jamais quis alguém, enquanto ela segue fingindo não merecer uma gota sequer desse amor...


há coisas que a gente não pode controlar e, eu, tô descobrindo isso de uma maneira tão doce..

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Carta,

pra você

Queria poder me lembrar dos detalhes. De todos os mínimos detalhes e traços e medos que compõem seu corpo. Queria entendê-lo. Saber, de uma vez, porque seu olhar me despe. O porquê de suas marcas serem definitivas. Me sinto transparente e acuada em sua presença, como se a qualquer momento suas mãos ágeis pudessem me invadir e levar o que nunca ninguém levou.
Tenho medo do bem que você pode me fazer. Medo de parar minha busca ao te encontrar. Medo de parar no tempo sem poder, ou querer, evitar. Sinto tantas coisas, beibe, que jamais poderei contá-las sem que meu jogo fosse entregue, sem derrubar essa minha máscara de garota-segura.
Eu queria que você me entendesse sem que eu precisasse explicar. Queria que você sentisse a minha vontade e que entendesse que o desejo é mutuo e que há, sim, reciprocidade nas nossas pequenas coisas. Queria que você entendesse que esse medo que eu sinto é por você. Não quero te assustar com o que sou, nem te mandar embora ao encarar meu egoísmo e meu sentimento ralo.
A vida toda eu só fiz pensar em mim.
Por isso, agora, me desespero ao perceber que estranhamente tenho pensado em você.
Não quero te machucar - como fiz com muitos. Quero te proteger, cuidar pra que tudo dê certo. Ser cautelosa para que esse sorriso que me ilumina nunca se perca na escuridão.
Eu só quero que você saiba que eu me importo e que me machuco a cada vez que, sem querer, te faço triste. Não sou a pessoa perfeita pra ninguém, eu sei, também jamais procurei a perfeição. Sou totalmente errada e errante. Imatura e pouco explicita. Sou um poço de confusão. E o que me surpreende é que, mesmo assim, vejo sua vontade em se perder em minhas águas.
Fico pensando que talvez você seja a pessoa certa.
Talvez você seja a minha grande chance.
Eu não sei, nós não sabemos...
Mas não quero perder um minuto dessa nova história.
Quero todos os beijos e abraços e palavras que me cabem. Quero te ver sorrir todas as manhãs e dormir sentindo aquele perfume que já é tão seu. Não tenho certezas. Nunca tive e talvez nunca tenha. Mas depois de você os dias têm sido mais calmos. Depois de você as pequenas coisas voltaram para seus lugares de pequenas coisas. E desde então nada tem importância se não colocar um sorriso no seu rosto. Desde então não se faz necessário Julias, Clarices ou Helenas.
Desde então tudo se desfez e só você se faz presente.
Não preciso de musas inspiradoras, beibe.
Não preciso de muita coisa se eu tiver você.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Seta e o Alvo

Paulinho Moska

Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.

Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.

Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.

Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

domingo, 11 de abril de 2010

por ora: a liberdade é a mais eficaz de todas as prisões.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Buraco Do Espelho

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

Arnaldo Antunes

quinta-feira, 1 de abril de 2010

sexta-feira, 2

"Não muito confuso, assim confrontado com sua explícita incapacidade de lidar com. A palavra não vinha. Podia fazer mil coisas a seguir. Mas dentro de qualquer ação, dentes arreganhados, restaria aquela sua profunda incapacidade de lidar com. Um instante antes de bater outra, colocar uma velha Billie Holiday e sentar na máquina para escrever, ainda pensou: gosto tanto de você, baby. Só que os escritores são seres muito cruéis, estão sempre matando a vida à procura de histórias. Você me ama pelo que me mata. E se apunhalo é porque é para você, para você que escrevo — e não entende nada."

Caio F.

quarta-feira, 31 de março de 2010

o trago

tem que ser denso. tem que ser fundo. lento. tal como o primeiro trago de um cigarro bom após uma semana sem fumar. tem que ser totalmente maluco e mundano. tem que estar entre os meus dedos e levemente alcançar a minha boca. tem que me levar. pode ser durante um banho. um banho quente. não; um banho excessivamente quente. fumaça se misturando a fumaça, meu corpo nu se perdendo nas sombras. meu corpo perdido entre quatro paredes enquanto a água escorre pelos meus traços. braços e pernas e colos e bocas se desenhando dentro de mim. parece que a única salvação é me manter de olhos fechados. sem nexo, talvez. jamais se ouviu falar em nexo. sentido algum já existiu em lugar algum. demoro mais do que eu imaginava e o que fora cigarro agora são cinzas caídas sobre meus pés. eu nem pude o consumir por completo. somente um trago. somente aquele trago. o único. ao menos foi lento. denso. calmo e eufórico como deveria ser. foi o trago. talvez eu fique sem escovar os dentes durante o banho, só pra sentir aquele gosto por mais alguns minutos. será um banho rápido, prometo. não passará de uma hora. uma hora inteira de água quente, desejos, e gosto de lentidão. uma hora de relaxamento depois de platonismos e platonismos. amor platônico é tão bonito, assim, jogado num papel. mas, eu juro, entre aquelas paredes enquanto a água me consumia, eu o vi como uma opção válida. por hora, apenas. depois passou. sempre passa. só quero que faça bem a ambas as parte. tem que fazer bem. tem que ser denso e eterno - mesmo que dure somente o tempo de um banho. tem que haver sorrisos e filmes e horas de conversa jogada fora. quero sorrisos. com segundas intenções, terceiras intenções, quartas, quintas. múltiplas intenções ou intenção alguma. quero a sutileza de um suspiro e a brevidade de um orgasmo. quero o efêmero e o eterno, juntos, no mesmo ser - sem linha tênue alguma para separar. não quero separação. quero bem perto. entre meus dedos. quero encostando em meus lábios. quero tudo fora da caixa, espalhado pelo chão. quero desordem. quero perder a cabeça. quero viver e sentir, tudo, nessa lentidão que é me dada. tenho tempo. temos tempo. há todo tempo do mundo. sem problemas e sem questionamentos. quero viver a leveza do que é leve e só. quero participar de tudo o que eu sempre achei clichê e cafona e talvez eu seja cafona e clichê por pensar assim. quero ser. eu quero tudo. tanto. e tanta intensidade sempre acaba me iludindo com o que é fugaz. se eu não gostasse tanto da fugacidade das coisas... eu quero. e o que eu quero não é nada além do primeiro trago de um cigarro que, eu sei, quando menos imaginar não estará mais em minhas mãos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

A fugacidade do efêmero

Eu não entendo muitas coisas e outras eu não faço questão de entender, simples assim. Mas eu sei bem onde se localiza o problema, eu sei bem, e o pior de tudo: eu não conto.

Talvez por achar que ninguém de fato se importa, talvez por pensar que, depois de dito, tudo se tornará ainda mais vívido, talvez muitas coisas, tantas coisas; milhares delas.

Esses rabiscos, dessa vez, vieram parar aqui sem formatação alguma. O porquê eu não sei, mas sei que tudo se resume em apenas um nome. Me arrependo várias vezes ao dia, tento traçar o caminho de volta todas as noites antes de dormir. Tenho tentado todo método válido, toda oração forte, todo remédio pra aliviar, mas não consigo sair daqui. A culpa é do sorriso, do maldito sorriso que não me deixa em paz. As coisas deveriam ser mais fugazes. Eu deveria ser leviana o bastante. Tudo deveria girar como sempre girou.

Eu me recuso a voltar pra roda.

Tudo vai girar enquanto eu corro de encontro ao nada, é assim que deveria ser. É assim que deve ser.

Odeio essas minhas tempestades em copos d'água e odeio a tempestade que cai lá fora também. O céu desaba sobre mim sem dor alguma. Não consigo entender o porquê dessa dor rala que não sai de dentro de mim.

É confusão, Camila, é confusão: digo sempre. E eu sei que tudo, de fato, se resume a isso.

Mas eu disse, eu disse que ela me encanta. Eu disse e as palavras têm um poder imensurável. Depois de ditas as palavras ultrapassam todo, e qualquer, limite e já não dependem mais da minha voz e, sim, do entendimento de quem as ouve. O meu medo é o entender alheio. Fico horas pensando que se ela não consegue entender o meu silêncio, jamais entenderá o que eu de fato quero dizer. Por falta de opções me paraliso, talvez essa seja a real solução. Talvez eu não saiba o que eu quero e nem como dizer o que é necessário ser dito. Talvez tantas coisas, lembram-se? Milhares delas.

Acho que Julia apenas foi desenhada por mim pra suprir qualquer coisa desgastada aqui dentro. Talvez eu queira tanto tê-la que imaginá-la impossível me acalma de alguma maneira. Talvez ela seja a minha única, e real, salvação.

Eu não entendo muitas coisas e outras eu não faço questão de entender, mas Julia não se enquadra em nenhuma delas. Julia é apenas Julia.

Julia deve ser a resolução do meu problema, eu sei; mas eu não conto.

Eu me recuso a contar.


Ao som de Daniel na cova dos leões (Legião Urbana)

sábado, 27 de março de 2010

uma nota:

joguei a bomba em outras mãos, como se assim eu pudesse me salvar, mas quando olhei ao redor percebi: estávamos todos no mesmo barco.

quarta-feira, 24 de março de 2010

[...]

"Será que ela quererá?
Será que ela quer?
Será que meu sonho influi?
Será que meu plano é bom?
Será que é no tom?
Será que ele se conclui?"
Caetano Veloso

Não; não se vá. Deixe eu me despedir desse sorriso, desse facho de luz que agora se esvai por entre minhas mãos. Por favor. Por favor, tenha piedade. Não maldiga esse pedaço de alguma coisa que o nosso amor se transformou. Ainda é cedo, Julia. As luzes nem foram acesas e a cidade não vive aquele silêncio que eu odeio tanto. Sorria, sorria pra mim. Me aponte a direção com essa sua luz que me atordoa e me encanta me consome e me nutre. Me consuma, Julia, me consuma e não se vá. Não há motivos para desistir do que ainda não aconteceu. Não há porque fechar os olhos. Eu sei, o sono domina seu corpo, mas é cedo pra transformar dois corpos num fim. Há desejo em nós. Há pele querendo colar na pele. Há certeza, tímida, explodindo nos olhos. Não se vá, meu bem. Por favor. Não antes que eu sinta seu gosto. Não antes que eu prove seu vibrar. Seu sexo. Seu sussurro abrasador. Não se vá antes de dizer as palavras certas e me olhar com aqueles olhos tão miúdos e tão meus. Não, Julia, não tenha medo. Esqueça o medo e a razão. Esqueça o certo e me consuma. Me assuma. É tempo de ser consumado, e que seja hoje. Que seja agora. Que seja imenso e invasor. Não, minha ilusão, não feche a porta desse abismo de possibilidades que o destino nos mostra. Não sem antes sentir meu gosto. Me sinta, Julia. Sinta o novo sem ter medo. Somos amantes há tanto tempo que eu conheço cada traço desse corpo de mulher. Não tenha pressa, minha garota. Não acenda a luz desse cômodo que nos comporta. Não estrague tudo, Julia. Não estrague a curiosidade que nutre nossas madrugadas insones, nossos domingos insossos. Não, Julia, não é tempo de desistir. Não há tempo. Esqueça de ter medo. Somos só eu e você, um quarto vazio e a timidez. Não me dê as costas, Julia, me deixe brindar essa noite que não aconteceu. Não feche a porta, meu bem, é perigoso demais. Não se tranque nesse ser rodeado por certezas que não são suas. Arrisque-se. É a sua chance, eu sou sua chance. Não, Julia, não se afaste, meu corpo não consegue ir tão longe para te alcançar. Não me obrigue a desistir, Julia. Não, Julia. Por favor. Por favor...

quarta-feira, 17 de março de 2010

00:21

para Amandinha

Se a busca fosse minha eu não me importaria.

Talvez isso seja visto como certo egoísmo meu, talvez seja certo egoísmo meu, de fato, mas algo me punha cético diante aquela busca ilusória que os meus olhos pintavam eterna.

Se a busca fosse minha talvez eu entendesse o porquê, mas visto de fora tudo parece oco, mesmo quando há um motivo forte ou sentimento arrasador. Sempre tive medo de sentimentos arrasadores. Os imaginava invadindo minha casa, de soslaio, na madrugada. Inundando tudo, como água de rio quando transborda.

Os imaginava transbordantes; transcendentes.

Lembro-me que em minhas orações, quando pequeno, pedia para que me protegessem desses sentimentos que invadem as pessoas de soslaio. Eu não gosto dessa palavra: soslaio. Parece que póstuma a ela sempre vem alguma invasão, algum tipo de rompimento. Esses sentimentos rompem tudo; e eu não sei até que ponto o meu tudo pode ser rompido ou, então, até que ponto isso que eu tenho pode ser meu tudo.

É complexo e, pra ajudar, ainda há essa busca que não é minha.

Agora, estranhamente, sinto frio nos pés e em partes que eu jamais imaginei sentir frio. O frio é a falta. Eu sinto falta. Eu tenho falta espalhada cuidadosamente pelo corpo. Tenho copos espalhados pela casa e alguns cinzeiros cheios. Do outro lado da porta há corpos vazios - ou apenas o vazio -, mas eu gosto de imaginar que há sempre um ouvido colado na porta, um olho invasor que espia pelo vão ou alguém que, com cautela, faz silencio para ouvir os meus passos pela casa. Às vezes digo qualquer coisa em voz alta para compensar a presença daquele que eu nem sei se existe. Eu nunca abro a porta.

Jamais abra a porta: aconselho a mim mesma.

Do outro lado o vazio pode ser ainda maior; e depois de atravessar aquela linha perde-se todo, e qualquer, limite.

Mas há a busca. Há a busca e as idas e vindas e os laços e tudo o mais que eu não entendo ou procuro não entender. Ela é eterna. E ele não vai encontrar o que procura, jamais vai encontrar o que o faz procurar, desvairadamente, por ruas e ruas a fio. É impossível, eu sei - ou é o que eu desejo.

Talvez eu queira ser encontrado. Talvez eu queira mostrar que eu sou o caminho. O único. O certo. O que o faz sair do vale das sombras da morte.

Não; eu não sou a luz.

Eu sou a escuridão...

Se a busca fosse minha eu não me importaria, mas não suporto vê-lo caminhar, sem destino, enquanto eu tento desatar todos os laços que nos une. Ou nos unia. Ou nos uniu. As lembranças não se apagam facilmente, embora, às vezes, essa seja a nossa única salvação.

E quando não há salvação?

E se não houver salvação?

Batem na porta. Estão batendo desesperadamente na porta. Encolho-me dentro de mim e não abro. Tenho medo. Penso que, talvez, ele tenha decidido me encontrar como deveria ter feito há muito; penso que são os pensamentos arrasadores que vieram invadir minha casa em busca do meu tudo para romper; penso que há corpos vazios me chamando para juntar-me a eles; penso, penso; e só.

tô trabalhando, galera, então tá corrido. Mas vou tentar postar algo decente em breve rs

terça-feira, 9 de março de 2010

dona dos meus olhos

Não que eu tivesse medo.

Não que eu tivesse medo.

É o que eu repito, freneticamente, até me convencer.

Na verdade nem sei se podia chamar aquilo de medo ou se podia chamá-lo de qualquer outra coisa. Era apenas uma sensação, morna, que vinha de dentro, do mais intimo de mim, e que em noites de puro desespero explodia pelos olhos feito água. No momento não me recordo da palavra que as pessoas usam para indicar essa explosão, mas eu sei que não é exclusividade minha – muito pelo contrário. Ela chega de mansinho e quente, muito quente, e se joga pelos olhos como fogos de artifícios que não queimam, não ardem, apenas aliviam. Alguns minutos depois surge aquele nó que fica cravado na garganta. O nó é inevitável e não de desfaz com tanta rapidez; e em muitas vezes ele nunca se desfaz.

O que eu quero dizer é que isso tudo que eu tenho para dizer e que quase nunca consigo se resume apenas nessa minha angustia em provar que não há medo algum. Eu sei que muitos vão dizer que podem ver através dos meus olhos e que me conhecem ou conheceram pessoas que passaram pela mesma situação e que no final assumiram ser sensíveis e delicadas e amedrontadas de fato e que eu vou me encontrar em breve e assumirei que há medo grande se emaranhado entre minhas vísceras e que essa minha cara de quem não se importa é a prova de que eu me importo em não me importar.

Vão repetir tantas vezes que dentro da minha cabeça isso tudo não vai fazer sentido algum. Apenas um amontoado de palavras: pensarei, mas ainda assim os ouvirei com atenção e sorrirei e direi que talvez seja isso mesmo, que eles têm razão, que dentro de mim mora um medo irremediável.

Depois do espetáculo corriqueiro eu voltarei para casa e repetirei, freneticamente, a mesma frase até pegar no sono.

Há vezes em que eu, realmente, acredito neles.

Há outras em que eu não acredito nem em mim.

E em todas elas eu detesto tudo.

Eu gosto mesmo é quando o dia amanhece cinza, me dá vontade de abraçar o mundo todo. Vontade, grande, de sair por aí contando minhas verdades, e vontades, sem me preocupar com a expressão no rosto de quem as ouve.

Os dias cinzas me trazem vida; e se não houvesse esse nó cravado na garganta eu seria capaz de sorrir, abertamente, nesse exato momento.

O nó nunca se desfaz, é irremediável e incorrigível.

Eu posso senti-lo se formar a cada manhã quando abro os olhos e encontro o vazio ao lado da cama. Não levanto. Fico alguns minutos – senão horas – esperando ouvir qualquer barulho que prove a presença dela naquele lugar. Não há barulho, incrivelmente não há barulho algum; e eu sei que ela não existe há tempos.

Demoro a levantar, ainda imaginando que a qualquer hora vou ouvir o barulho da torneira aberta ou da porta sendo trancada, depois me obrigo a tomar um gole daquele café forte que eu odeio - somente para me fazer entender que há coisas que são necessárias independentes da nossa vontade. Me troco tentando não olhar para cama. Olho rápido para o espelho somente para ter certeza que eu, sim, ainda existo. Vou caminhando sem rumo, me deixando ser consumido pelo sol que maltrata minha pele. O mesmo que iluminou as nossas tardes e que agora não passa de um borrão de tinta amarela no céu.

Talvez se eu tivesse corrido e corrido muito e parado na sua frente e dito tudo aquilo que eu sempre quis dizer e nunca disse e tivesse pedido para você ficar e te explicado o quão vazia ficaria a cama sem você e te contado o quão vazio eu ficaria sem ouvir a torneira pingar ou a porta bater num dia comum e que eu precisava ser seu com a mesma intensidade que eu preciso ter você agora e que o nosso amor vale a pena sim e que eu aceito suas maluquices e as suas falhas e esse seu amor pela metade e que eu aceito qualquer coisa e que eu troco tudo por um pouco disso que eu só sinto com você e que trocaria todos os dias cinzas do mundo por um único beijo seu e que não suportaria caminhar sob esse sol sem ter sua mão colada a minha e que sem você os dias passariam a ser insuportáveis e as noites seriam cada vez mais longas e que talvez eu até adoecesse sem nem imaginar o porquê; mas eu não disse.

Talvez se eu tivesse dito...

Se eu tivesse dito, você ficaria?

O silêncio dançava, suave, entre nós enquanto eu sentia suas mãos tocando as minhas como num apelo. A gente se vê: eu disse, e você nem sequer me respondeu, ficou apenas me olhando com aquele olhar raso que até hoje eu não desvendei – ainda não sei, ao certo, se estava triste por destruir meu coração ou se eu já havia destruído o seu com aquela frase curta.

Por um instante eu imaginei nossos corpos, nus, entrelaçados, ali mesmo, naquela rodoviária cheia de pessoas sem rostos e sem nomes e, então, a gente se beijou rapidamente. É incrível a maneira como as coisas são partidas. Foi como um copo que se desfaz ao encontrar o chão: aqui copo, logo ali cacos.

Um beijo rápido e agora a cama vazia.

Uma sensação que, de tão pesada, enche a casa de uma saudade que é só sua.

Todos os dias eu sento em frente a porta e espero você voltar. Alguma coisa em nós me machuca, alguma coisa sua arde, vibra, dentro de mim. Receio que você nunca volte ou talvez não me encontre, e por isso eu deixo todas as portas e janelas abertas e digo a mim mesmo que eu não tenho medo da sua decisão e que eu estou pronto para tudo e que eu sou forte o bastante para te deixar partir, de vez, se for necessário. Sorrio para todos mostrando aceitação, mas eles sabem, tanto quanto eu, que sem ela eu já não sou.

Por vezes me afundo em puro desespero e corro e corro e grito, mas ninguém me escuta.

Não que eu tivesse medo não que eu tivesse medo: grito.

Não que eu tivesse medo...

Eu, simplesmente, não tenho mais nada.


quarta-feira, 3 de março de 2010

“Se você não quiser entender, tudo bem. Mas não me venha com perguntas que você deveria saber as respostas”.

Foi o que eu mostrei para ele, mas acho que ele nem prestou atenção.

Tentei fazer com que ele levasse o livro pelo menos, mas ele também não quis. Para ser sincera, ele não quis muitas outras coisas e deixou de prestar atenção em várias outras; mas eu não o obriguei a nada, em momento algum.

Uma vez, ou outra, pedia que ele ficasse um pouco mais, mas nunca soube ao certo se ele gostava disso ou se isso o incomodava. Para ser sincera, nunca me importei com o que ele pensava. Ele sim, ele se importava demais; mas não comigo, com o outro.

Talvez se eu tivesse dito que o outro, no lugar dele, não pensaria em nada.

Talvez se eu tivesse dito que há coisas que não podemos controlar.

Que eu não queria o outro eu disse, várias vezes, mas ele não se importou.

Eu também não.

Talvez a falta de importância tenha estragado tudo.

Agora faz frio e chove e é difícil pensar em outra coisa.

Não que eu esteja triste, não é isso, eu não to sentindo nada e isso me assusta ainda mais. Para ser sincera eu acredito, meio desacreditando, que o outro seja apenas uma desculpa. Para ser sincera, eu tenho pensado muito em muitas coisas que eu só não digo por saber que após três minutos vai bater um arrependimento enorme e eu vou me achar a pessoa mais tosca do mundo. Por falta de desculpas vou dizer que eu o adoro, e isso é verdade, mas depois de dizer tantas vezes a mesma coisa a gente acaba perdendo a credibilidade, entende?

Não me importa que ele não acredite em mim, só me importo em não me importar.

É a maneira que eu encontrei para ficar de fora enquanto os dados rolam.

Ele não quis muitas coisas e deixou de prestar atenção em alguma essencial, mas, tudo bem, eu o entendo. Eu entendo que talvez não possa ser assim e que não deve ser assim por motivos óbvios (embora os motivos sejam óbvios apenas para ele). Eu só acho que eu deveria ter dito que o outro, no lugar dele, não pensaria duas vezes; mas eu não disse, eu não disse nada.

Ele disse que ia embora e eu nem me importei em pedir que ele ficasse mais um pouco.

Agora, agora faz frio e chove.

E eu não sei quando ele volta.

Nem se um dia ele vai voltar.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sobre o homem da minha vida

por Carolina


Não; eu não estava procurando o homem da minha vida. Não foi por isso que eu deixei tudo para trás e troquei as fechaduras e alguns números necessários. Eu não pensei, em momento algum, em me afastar de tudo para viver um novo, e belo, amor-água-com-açucar-digno-de-sessão-da-tarde. Eu não saí em busca de nada e nem caçando homens por aí, como uma loba selvagem. Não listei os mais interessantes e cultos e canalhas. Esses são os meus favoritos: interessante, culto e canalha.

Aquele amigo que beija bem adora inglês e lê bons livros ou aquele professor de história que todo mundo diz que faz atrocidades na cama: os melhores.

Aqueles que têm tudo para dar certo e que, exatamente por isso, não dão. E você é tão ciente que sabe que vai ceder e que vai rolar, por pura sacanagem, e os telefones não vão tocar no dia seguinte.

Tudo bem, o beijo é bom, o sexo idem. Todo mundo cult, todo mundo zen, todo mundo satisfeito depois do orgasmo.

O Homem da minha vida não existe, é isso que eu preciso te dizer. Porque o homem da sua vida também não existe, e nem o homem da vida da sua vizinha. Pode acreditar.

Há milhões de homens por aí, há milhares de encontros por dia, troca de olhares, telefones trocados, flerte na internet... E você vem dizer sobre O homem da sua vida?

É quase um absurdo.

O problema é que eu cansei dos homens da minha vida.

Cansei de atender ao telefone, cansei de dar explicações e ter de dizer que eu prefiro o serzinho-um ao invés do serzinho-dois. Cansei de dar sempre um sorrisinho de compreensão após aquela conversa chata em que ele se safa e eu me fodo. Eles sempre me fodem; e não há orgasmo algum.

É um porre!

E depois vêm me dizer que eu bebo demais e que eu deveria parar de fumar e que não me entendem e que eu sou estranha. Eu sou é bacana demais; e com os três. Outras, no meu lugar, desligariam o telefone, não passariam noites em claro e jamais, eu disse jamais, aceitariam certas coisas, tão ralas e gastas, como eu aceito.

Sumir: é essa a solução para quando as histórias se atropelam, não é? Sumir. Desaparecer.

Aconselhei-me: Suma, Carolina, suma, desapareça!

Poxa, quando o telefone começa a tocar demais e você já não sabe o que dizer ou gagueja ou se preocupa ou, então, faz as três coisas ao mesmo tempo, é sinal de que acabou. Você não serve mais para o negocio. A sua idéia de juntar três pessoas para montar um amorzinho perfeito foi patética.

Nossa! Como eu odeio usar a palavra "perfeito", deve ser porque eu sei que não existe. O pior é que eu sabia, mas parece que a cada dia fico mais burra, mais patética.

Patética, sim, tem tudo a ver comigo.

E foi então que a CarolinaPatética resolveu sumir. Troquei algumas fechaduras e o número de telefone. Coloquei meus óculos escuros e, quando saí de casa, lá estava ele parado no portão. Pra quê? Por quê? Eu não sei. Eu não sei, mas eu gostei e o beijei como quem diz, sem dizer, que ele era o meu favorito - talvez nem fosse, mas no momento era - e que se eu fosse sumir queria que ele sumisse comigo e eu disse, dessa vez dizendo mesmo, que eu gostava dele e que senti falta daquele beijo - nem sei se eu fui sincera, talvez tenha sido sincera demais.

Mas não, eu não estava procurando o homem da minha vida, e talvez esse tenha sido o grande problema. Ele me achou, saindo de casa, e eu me deixei ser achada por ele que eu adorava tanto - talvez mais que os outros.

Sorri e tive a certeza de que ele era o meu homem.

Não sei se da vida, se da semana, do ano, do mês... Mas o meu homem.

Era ele quem eu queria, era a imperfeição mais bacana que eu já conheci. E tudo isso por que ele estava lá fora me esperando?

É, Carolina, você se contenta com pouco, merece mesmo se foder.

Talvez eu até mereça.

Talvez eu até goste um pouco.

Eu sei quem eu quero; e se for pra foder que, ao menos, haja orgasmos múltiplos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Abril

Livro fechado, página 12.

A nossa fotografia marcando o lugar onde eu deveria voltar após a pausa.

Se eu não tivesse a olhado, se a fotografia fosse outra, se eu não precisasse fazer uma pausa ou se, ao menos, tivesse um marcador de páginas qualquer. Nada. Somente aquela fotografia em preto e branco. Para ser honesta ela nem sequer chegava a me incomodar, sua imagem não me incomodava, nem me invadia ou causava qualquer outra sensação que eu pudesse citar e prolongar somente para te maldizer ao mundo. Sua imagem não causava coisa alguma. Talvez o que tenha me colocado nessa pele frágil, que agora visto, tenham sido as cores.

Monotonia pura. Silêncio.

A ausência, gritante, loucamente muda aqui dentro. Eu não tenho forças, nem fôlego, talvez nem haja voz para gritar a merda de uma verdade que eu trago amassada no bolso. O silêncio é pesado demais. Esse silêncio de camas vazias e mãos separadas, que invade o quarto no meio da noite enquanto ao lado dois corpos se amam.

Não; eu não sinto a sua falta e eu não estou tentando dizer nada alem do que eu já estou dizendo, e quase cuspindo, nesse papel amarelado que talvez você nem chegue a ler. Poderia pontuar, aqui, todas as coisas que eu sempre quis que você soubesse ou adivinhasse ou, quem sabe, entendesse, mas estou tão lúcida agora que eu sei que de nada adiantaria. Os telefonemas, as explicações, as horas de conversa jogada fora, em frente ao portão, não adiantaram, por que um pedaço de papel mudaria alguma coisa?

Palavras, palavras, ando tão descrentes delas.

O tempo todo você esteve errado. A ilusão da sua ótica te levou para o extremo oposto da ilha que pintamos e jamais existiu. Eu lembro das pegadas na areia e do seu cabelo bagunçado indo embora. Eu me recordo, perfeitamente, da sua ida, da roupa que usava e o brilho meio opaco que o sol produzia em seus ombros.

Seria lindo se não fosse triste.

De sua vinda eu não me recordo e, para ser sincera, não me recordo de vinda alguma, e é nessas horas em que eu me pergunto se algum dia você realmente veio. Eu não sei. Não me lembro da cor dos olhos e nem do contorno dos lábios, tampouco de alguma expressão colada em seu rosto. Talvez eu não conheça o seu rosto. Talvez você tenha passado por mim milhares de vezes sem que eu o tenha notado.

Mas você esteve errado durante todo o tempo.

Eu não sou assim, eu não quero ser assim.

E eu não quero afastar ninguém e nem me lembrar das costas se distanciando sem poder me despedir. Não me satisfaz manter essas verdades esmagadas no bolso e muito menos abafar esse grito patético que quer sair daqui.

Não; eu não quero liberdade alguma.

Liberdade demais só faz prender minhas asas e embaçar minha visão. Eu não quero ser presa, eu não quero ser solta. Eu não quero uma lasca sequer desse querer, quase porco, que se faz necessário em mil corpos por aí.

Eu não quero coisa alguma.

E é necessário que você saiba que eu não sinto a sua falta e tampouco sua presença. Nem senti aquela sensação morna que poderia ter se transformado em saudade após uma olhada rápida na fotografia marcando a pagina 12. Nem sequer sinto vontade de olhá-la para poder recordar os traços, finos, do seu rosto tão jovem.

Eu não sinto vontade de nada. Eu não quero.

E você esteve errado o tempo todo, eu não sou assim, eu não quero ser assim.

Nunca pintamos ilhas, nunca houve cama cheia ou mãos unidas. Nunca senti sua falta e não vou sentir agora e não vou sentir nunca.

Não há falta e não há presença.

Não há marcador de paginas em preto e branco.

Nunca mais reabrirei aquele livro.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Vozes

Gessinger, 1987

se você ouvisse
as vozes que ouço à noite
acharia tudo que eu faço natural
se você sentisse
o medo que eu sinto no escuro
se você soubesse
o mal que o sol me faz
não me pediria pra repetir
revoltas banais
das quais eu já me esqueci

se você ouvisse
às vozes que ouço à noite
às vezes me assustam
outras vezes me atraem
se você sofresse
tanto quanto eu sofro
com a solidão
se você soubesse
O quanto eu preciso da solidão
não me pediria pra repetir
frases banais
das quais já me arrependi

duas pessoas são duas verdades
e, na verdade, são dois mundos
a cada segundo, o pânico aumenta
e uma sombra arrebenta
a porta dos fundos

se você sofresse
tanto quanto eu sofro
com a solidão
e precisasse
tanto quanto eu preciso
da solidão
não me pediria pra repetir
gestos banais
iguais aos que eu nunca fiz



eu não conseguiria descrever meu estado tão fielmente

ps: não tô abandonando o blog, talvez eu esteja "me abandonando". momento de transição. procurando novas maneiras e novos caminhos. uma pausa pra respirar, talvez.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O sétimo

Me pego sempre desatando os nós enquanto alguém ri uma risada fina bem longe.

Em meio aos meus devaneios posso garantir que conheço aquela voz.

Algumas horas depois reconheço: é minha.

Eu rio, ao longe, enquanto trabalho; mão roxa de tanto forçar o afastamento das cordas; corpo dele e loucura minha, juntos numa encenação patética sobre laços e pessoas que dizem sentir.

Não sente, eu sei.

Não sente.

Não fique, vá embora.

Eu disse, desde o inicio, que depois de certo tempo seria quase impossível desatar aqueles nós, as cordas se moldariam uma a outra e se acomodariam sem perceber.

Mas mesmo assim ele fez questão de fazê-los, um por um, um atrás do outro, fingindo ser regido por algum sentimento que eu já desconhecia.

E onde está você agora, enquanto as minhas mãos sangram?

Onde está você enquanto meu corpo se rasga ao olhar pra trás?

Está fazendo nós, vários, muitos, e certamente usando o mesmo motivo que me fez acreditar.

Então, com essas mãos ardendo em brasa, eu te odeio!

Simplesmente porque, depois de lançada, a flecha não volta.


meio relapsa, eu sei, mas eu tô por ai. rs