sexta-feira, 28 de junho de 2013

(...)

Ela sente saudade, todas as noites. E até morre um pouco tentando esquecer o que nunca foi seu de fato. Ela briga, ela grita, ela faz de tudo pra se manter sã. Ela se esconde, escapa, corre pro lado oposto. Ela perde o jeito, desconhece o gosto.
Ela não sabe amar.

Ele a provoca, todas as noites. Não quer cuidado, não quer cautela. Ele quer agora, pra ontem. Já esperou tempo demais. Ele quer sorrisos e bocas e beijos. Ele quer o ato, sem delongas, sem demora.
Ele só sabe amar.

E todas as noites ela sente saudades do que nunca teve e morre um pouco tentando esquecer.
Ele cheira à saudade.
Ela sabe, ele sabe.
Mas ninguém conta pra ninguém.
Há um jogo estranho entre eles.
Ninguém ganha, ninguém perde.
Ninguém vive nada ali.
Mas eles cheiram a amor.
Eu sei.
Se conhecem há anos.
Se prometem há meses.
Nunca cumprem!
Ela desiste, ele insiste.
Ela briga e ele ri.
Quase um casal, embora não saibam, embora não vejam.
Cá entre nos, eles cheiram à loucura.
Eles beiram à loucura.
Todos os dias.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Resquícios

E então acordamos e descobrimos que tudo estava fora do lugar. A cama já era outra; os nomes eram outros; outros rostos; outra história, talvez - enfim.
A primeira coisa que me veio à cabeça: como chegamos aqui?
Eu não soube explicar.
Ela não soube explicar.
Ninguém soube e, então, seguimos em frente.

Já não ouvia o som da torneira pingando, não sentia o cheiro de café pela manhã e não ouvia o riso - e, honestamente, não ouvir o riso foi o que mais me machucou.

Outra vez fomos obrigadas a seguir; dessa vez sozinhas (ou quase).
Um abraço no lugar do beijo e um sorriso ameralado de quem sabia o que estava fazendo, mas não sabia o que estava por vir.
Normal.
Natural.

Mas preciso dizer que, às vezes, eu tenho a sensação de que a minha melhor parte ficou lá atrás, entre o riso, a torneira e o café. E é uma parte (quase minha) que jamais recuperarei.
Às vezes penso que o tempo resolverá os estragos e colocará tudo no seu devido lugar, mesmo sabendo que o tempo não tem o poder de resolver coisa alguma.

E há dias, como o de hoje, em que eu apenas não sei o que estou fazendo e me comporto como uma criança assustada e sinto saudade, muita saudade.
Uma saudade imensa, doída, sabe?
Uma saudade que nada tem a ver com os pingos ou com a xícara de café pela manhã, mas que, inevitavelmente, tem a ver com o riso.

Eu não sinto saudades dela.
Eu sinto saudades de mim.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

3h53

Gostaria de pentear meus pensamentos, assim como os cabelos, pela manhã e colocá-los no lugar e seguir a vida pintando aquele sorriso rotineiro no rosto, e olhar no espelho, dar uma piscadela, e dizer: tudo bem, vai ficar tudo bem.
Mas numa dessas manhãs ele disse "É triste. O amor foi embora" e eu fiquei pensando...
Repensando...
E talvez, só talvez, não seja tão triste assim. Talvez, só talvez, o amor tenha sido vítima e não vilão. E que ,talvez, não haja vilões - mas só talvez.
E talvez muitas coisas, várias, milhares delas. São tantas, tantas, que sei que vocês podem imaginar o quão difícil tem sido pentear os pensamentos pela manhã.

Por horas fico pensando no amor que se foi e não volta, até me obrigar a deixar toda essa confusão de lado.
Eu gostaria que fosse fácil, que fosse simples e bonito como nas histórias infantis. Eu gostaria de ter o poder de escolher, de decidir quem fica e quem vai, como se eu fosse dona de tudo e mandasse nessa loucura toda. Mas quando olho pro lado vejo o amor, sorrindo ironicamente, me pedindo pra deixá-lo em paz. E eu deixo.
Vou deixando...
Perdendo alguns pedaços pelo caminho, é claro.
E quase no fim, quase perdida por completo, percebo:
Ele tem razão.
É triste!

Preciso parar de escrever sobre o amor.

Eu queria poder mentir

O caminho me parece o mesmo e o céu continua igual, mas as palavras já não voam, soltas, como antes. Acredito que pela facilidade de calar, calei.
Queria poder dizer que o meu coração permanece puro, meu sorriso sincero e a cabeça no lugar. Queria poder mentir.
A vida tem se mostrado estranha, alheia, piegas. De um jeito que, anos atrás, me faria escrever e reescrever sobre fatos, relatos e amor. Mas, esse - o amor - me deu um tapinha nas costas e se foi; assim, simples, numa tarde morna sem sobressaltos ou avisos.
Eu o chamei de volta, gritei, fiz graça, forcei um sorriso como quem diz "ei, aqui pode ser legal também, eu posso ser", mas, adivinhem?! ele não acreditou. Não o culpo. Eu, honestamente, também não acreditaria naquele sorriso.
E foi assim, senhores, que eu cheguei aqui; com os mesmos tênis gastos, as mesmas músicas e o meu coração no bolso.
Há dias em que tento entender certas coisas, há outros em que só quero esquecer. Esquecer todo esse sentimentalismo barato que nos faz ver tanta beleza no caos. Eu até  gosto do caos. Gosto do gasto. Daquilo que um dia foi lindo e hoje é apenas a sombra de uma beleza morta.
Eu gosto do amor, senhores. Eu gosto do amor, vocês podem entender?
Eu ainda tenho esperança que ele volte, um dia, em outro sorriso e em um novo olhar e que, enfim, me diga "ei, garota, aqui é legal e você também pode ser"
E então serei. E seremos juntos. E não haverá meios sorrisos.
Não haverá corações em bolsos.
Não haverá.
Não verás.
Não verei.
Todos cegos, mais uma vez, diante toda essa beleza que está fadada ao fracasso.