sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Wonderland?

Se eu estivesse lá, no País das Maravilhas, eu matava o Coelho e ainda pedia o Chapeleiro Louco em casamento.
Seguia qualquer caminho para chegar a qualquer lugar sem problema algum; fones nos ouvidos e pé na estrada, não é?
Cigarros e bebidas resolvem muita coisa, queridos. Alice faria tudo por um pouco disso - tenho certeza. Alice mataria o coelho, se pudesse, se não tivesse de ser Alice perdida no País das Maravilhas.
Nós mataríamos; juntas.
E não é nada contra o bicho, não. O problema é que ele tem relógio e pressa, e todos nós sabemos que pressa e relógio não são confiáveis, não é?
Não?
Ta; não importa.
To meio perdida aqui.
Querendo voltar para casa só para fugir de lá.
Querendo aparecer só para dizer que estou indo embora.
Querendo atender ao telefone para dizer que não estou; e nem vou estar.
Loucamente perdida.
Malucamente. Doidamente. Perdidamente.

Volto daqui alguns dias ou horas ou qualquer coisa.
E se o Chapeleiro disser sim, volto casada.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

1990

Porque nesse momento presencio uma mutação em mim mesma. Nesse exato momento eu posso ver – e vejo – tudo mudando. Como se aos poucos eu trocasse de pele. Como se, sem dor, eu fosse obrigada a aceitar esse novo eu que já não é tão novo assim.

domingo, 23 de agosto de 2009

domingo

"Certo, muitas ilusões dançaram — mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. "
[Caio F.]

O bicho do desânimo vem comendo minhas entranhas há dias. Mastiga, sem pressa e, com um leve ar de superioridade. Por vezes cospe; joga fora; rejeita. Só falta gritar, na minha cara, "Tosca! Você não me faz bem", como se ele fizesse. Como se ele fosse o bicho fodão que domina o mundo.
Tosco! É você quem não me faz bem.
E em dias assim eu desisto de tudo. Desisto, com um empenho assustador, e não me importo com o comedor de entranhas ruins.
Em dias assim eu me decepciono com freqüência. Penso em não mais ligar, não mais saber, não mais querer; não mais.
Isso até o telefone tocar. O telefone sempre toca.
Então o querer renasce aqui dentro. Ressuscita dentre as coisas mortas que eu deixei para trás. Bate na porta e, sem pedir que se identifique, o deixo entrar. Entra. Se aloja. Domina.
Em dias assim eu me deixo ser dominada com facilidade e por todos.
Deixo o vento me levar.
O tempo me arrastar.
A chuva lavar meus arrependimentos.
Em dias assim sempre chove.
Em dias assim eu sempre me molho.
Em dias assim eu morro; e é incrível, e até difícil de acreditar, mas sempre ressuscito na manhã seguinte.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sinto muito

Sempre me encontro irremediavelmente perdida após alguns passos e uns sorrisos. Quase me entrego. Quase me coloco em suas mãos, como um presente, inesperado, envolto por um laço de fita azul. Sem pedidos ou desejos. Apenas a entrega crua.
Deixo-me lá; e fecho os olhos para fingir que desconheço as mãos que me levaram até você, remoendo histórias, e rezando para eu me enganar, por um tempo, e não contar a ninguém que aquelas mãos eram minhas.
Os sorrisos surgem e lá estou eu mais uma vez escrevendo, em vermelho canalha, "sou tua" bem no meio do meu rosto. Escrevo e me escondo. Finjo. Para depois mentir, para mim mesma, dizendo que foi você quem me achou.

É que eu tenho uma história na cabeça - e no coração.
Eu acredito que um dia, quando eu menos esperar, você vai bater em minha porta, com algumas malas, vai sorrir – é incrível como você sorri – e então dizer "voltei"; como se por todo esse tempo, em que eu venho desfazendo o tal amor, você só estivesse viajando. Uma longa viagem apenas. Longa. Longe. E então, num belo dia, você, finalmente, resolve voltar para casa.

Eu sou a casa.

Talvez pelo tempo que esteve fora não me reconheça.
O tempo arrasa tudo.
O vento arranca as telhas e a umidade trás o mofo para as paredes.
A reforma, muitas vezes, é necessária.
Uma mão de tinta. Duas. Três... E quando se percebe já é outra.

Ele voltou para casa. Bateu em minha porta, após anos, e me entregou o que eu desejei a vida inteira. Havia vestígios de vermelho canalha e fita azul por todo corpo. Era a vez dele de gritar “sou teu"; a vez dele de se entregar. Eu dei alguns passos e sorri. Ele, parado, ali na minha porta, mal sabia o que fazer com as mãos. Sacudi a cabeça mostrando divertimento e ele retribuiu. Tarde demais para retribuir, não?

Agora ele era meu.
Agora ele queria a casa.
Agora ele queria sentir o cheiro do mofo nas paredes.

Eu continuei, ali, sorrindo com uma graça inexistente, enquanto meu coração se comia num puro ato de canibalismo.
Atrasado demais!
Meu coração se recusava. O rejeitava.
A reforma havia acontecido – se ele tivesse aparecido antes.
Um novo dono habitava em mim; e eu sei que disse que esperaria por toda vida, mas é que eu não sabia que, toda vida, demorasse tanto.
E naquele mesmo dia ele saiu em busca de um apartamento com um peso enorme nas costas. Duas palavras, pesadas, ainda latejavam em sua cabeça.

– Sinto muito! – eu lhe disse; levando o sorriso embora.

domingo, 16 de agosto de 2009

Diálogo

- O que te impede?
- A verdade.
- Qual verdade?
- A dele.
- E a sua?
- A minha só me empurra e, nem é tão verdade assim.
- É uma mentira!
- Não!
- Então o que?
- Um talvez; um meio termo.
- E por isso vive a reclamar?
- Não reclamo nunca.
- O que está fazendo aqui então?
- Ta; quase nunca.
- Já que dói tanto, por que não chora?
- Ora, porque não há motivo.
- Você sofre pela verdade dele, reclama da dor e, ainda assim, diz que não há motivo?
- O que você quer que eu faça? Quer que eu chore pela verdade?
- Não! Chore pela dor.
- A dor não é constante.
- O que é constante então?
- A verdade.
- E ela não te machuca?
- Ela me impede. O que machuca está na cabeça.
- Ah! Então tudo se resume a uma simples dor de cabeça.
- Não!
- Não?
- Não é a cabeça que dói.
- Então o que?
- Os pensamentos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Invisivel


Quantas guerras terei de enfrentar para, então, tocar o intocável?
A loucura pinta, com doçura, o meu rosto; ressalta detalhes e defeitos que eu jamais ousei expor. Me pinta como se assim ela pudesse tornar-se dona daquilo que nem eu fui capaz de dominar.
Quanto tempo vai levar até que eu possa, realmente, atingir o inatingível?
Quantas vidas? Quantos passos?
É um calculo perigoso; a cada passo dado, volto três. Três passos que me pegam pelas mãos e me jogam de volta ao nada dentro de mim. Remetem-me ao passado como se eu fosse uma carta mal escrita, empoeirada, esquecida numa gaveta sem tranca. Fazem-me de boba, com todo o poder que é lhes dado. Três passos têm um poder enorme. Um poder, perigosamente, incalculável.
Mas agora o passado me parece tão distante; tão arredio e ultrapassado. Ultra passado. Ficou tão para trás que eu já não consigo vê-lo com clareza. Parece papel queimado, jornal queimado. Cheira a cinzas. E olha que eu nem tive a oportunidade de fazê-lo fogo. Passou por mim e quando pude ver já eram cinzas. Cinzas de um fogo inexistente e sem cor, se ao menos fosse vermelho... Ah... Eu me orgulharia do tom, ao menos do tom.
Agora está tudo tão calmo por aqui; tão calmo que me assusta.
Sinto falta da falta, do barulho, das reclamações e, ainda mais, daquele verme que roeu parte do meu coração. Sinto falta da dor.
O Ser Humano é um porre!
Quando tudo está bem vai logo inventando uma dorzinha à toa. Dessa vez eu não quero. Quero deixar de ser humano ao menos uma vez. Quero sentir seu corpo pulsar sobre o meu, e te fazer sentir minha pulsação descontrolada. Quero mostrar meu descontrole. Quero te beijar a boca como nunca e lhe olhar nos olhos rindo de puro encantamento. Quero te trazer para perto; te ligar de madrugada e saber que você sempre estará aqui, aí ou em qualquer lugar. Só quero saber que sempre estará e que sempre vai ser e sentir como sempre.
Vou te aceitar.
Aceitar esse amorzinho que você me oferece de bandeja. E depois? Depois vou comê-lo; é isso que é pra fazer, não é?
Ou, então, posso aceitar seus beijos e te ligar na próxima semana pra dizer que sinto saudade e te quero por perto.
Quero estar perto.
Quero e é tanto querer que vaza, transborda de mim. É tudo tão estranho e tão descontrolado que no momento sinto falta de coisas que eu nunca vivi. Sinto falta da falta, lembra? E acho que a sua ausência causa incomodo aqui dentro. Quero te aceitar e aceitar muitas outras coisas e pessoas. Quero me deixar levar e me deixar viver. E estendo minha mão se, você, quiser pegá-la e me levar para longe disso tudo.
Me pega.
Me leva pra perto e me mostra que pode ser bom; que vai ser bom.
Me ensina a sentir o que você sente e o encanta.
Me ensina a te amar.
Por favor, me ensina a te amar.

sábado, 8 de agosto de 2009

hein?

Quando se muda de rumo, ou tudo perde a direção, apenas por ver alguém atravessar uma praça, é sinal de que...?
[ainda sem net, mas prometo postar alguma coisa que PRESTE no meio dessa semana]

sábado, 1 de agosto de 2009

A gosto

Acabaram-se as fichas. Os bolsos estão vazios. E os fliperamas estão fechados.
O tempo está escasso. O sorriso amarelo. E as palavras tornaram-se apenas... Palavras. Sabe o quanto isso é grave?
Entende a gravidade da situação?
Palavras se tornaram palavras. Pequenas. Medias. Grandes. Vazias. Opacas. Caóticas como eu. Apenas palavras. E justo em minhas mãos. Justo comigo. Logo eu que sempre procurei entendimento atrás das linhas. Sempre li as entrelinhas e acreditei no inacreditável. No impossível. Se é que existe esse tal impossível, afinal ele pode se tornar possível diante a coragem de algum corajoso. Sempre pode. Sempre. Essa é a verdade, ou não, pois a única verdade absoluta é que não existem verdades absolutas.
É tudo tão... Relativo.
E eu até acho bacana essa historia de que tudo pode mudar a cada instante. Gosto. Aposto. Acredito. Sempre desacreditando, mas acreditando; sabe?
Às vezes quando fico muito tempo trancada em mim, sinto necessidade, grande, de abrir as janelas e ver, só olhar. Toco o mundo com os olhos; eles, assustados, tocam tudo e, tudo continua, assustadoramente, intocado. A vida lá fora continua a mesma independente do fim do meu jogo. Acho que os bolsos alheios continuam cheios; talvez eles saibam administrar as fichas.
As minhas acabaram; ontem.
Meus bolsos estão vazios ou furados; não sei.
Não posso trazer nada pra casa, nem colocar nada na boca.
Fim aos corações mastigados.

[postando rapidin. da casa da Dan :)]