domingo, 30 de novembro de 2008

Enlouquecendo...

Hoje foi diferente, acordei com um peso gigante na dona consciência e o mais estranho é que não havia culpados. Não conseguia me lembrar o que carregava de tão pesado pra me fazer sentir assim. A verdade é que eu estava cansada demais pra carregar tal fardo, cansada demais de me sentir cansada demais, cansada de me culpar pela tal consciência que eu sempre fingi ter. Entre mil desculpas que já pedi em toda vida, acredito que se três foram sinceras já foi o bastante. Acho que nunca pedi desculpa pra tudo, e aquela onda de "sempre me desculpar" é pura invenção da minha consciência idiota.
- Não acreditem nela!
Sem radicalismo dessa vez. Podem acreditar nela às vezes, se quiserem, mas já vou adiantando que nem eu mesma acredito fielmente nessa senhorinha. Ela é safada. Sempre tenta me fazer sentir culpada, como se eu tivesse cometido os sete pecados capitais e renegado os dez mandamentos simplesmente por abrir os olhos. É incrível. E não adianta eu tentar me safar não, ela é abusada, me persegue até o inferno se for preciso, só pra dizer "Eu disse que você iria parar aqui". Atrevida!
Às vezes ela até tem razão, raramente, quase nunca. Parece que ela só some quando eu bebo, quando estou acompanhada pelos copos ela sempre arruma um jeito de dar uma escapadinha, é sempre assim. Sempre. E o pior é que ela sempre volta, volta me cobrando os detalhes da noite passada e cuspindo tudo na minha cara de uma vez só. Já pensei em passar o dia todo bebendo pra que ela não voltasse jamais, mas me tornar uma alcoólatra aos 18 anos por culpa de uma consciência pesadinha não é o que eu chamo de uma solução brilhante.
Acredito que o grande problema dela é a minha falta de atenção, porque eu sempre finjo não ligar pra nada, sempre me engano tentando enganá-la. A louca vive a apertar a mesma tecla, às vezes ela aperta tão forte que chega a machucar o coração. E eu não aceito, acho injusto, injusto demais pra uma consciência que se diz politicamente correta. Devia se meter com as próprias feridas e deixar a minha em paz. Isso seria o correto. O correto, realmente, seria me libertar desses devaneios múltiplos. Mas como ela sempre diz, é "pro meu bem", não é mesmo?
É, além de impertinente, a danada ainda é craque em dar desculpas. E sempre foi assim, sempre os mesmos jogos, as mesmas perguntas e o mesmo dedo na minha ferida.
Estou começando a achar que deve ser engraçado me ver sangrar, acho que o vermelho combina com a minha pele branca. O sofrimento deve combinar com a minha face também e talvez ela pense que na dor eu serei mais forte. Eu sou, eu acho.
Tento acreditar que meus atos são atos e só. Me convenço disso. Até a tal dona da verdade vomitar os pensamentos sórdidos e sombrios em cima de mim. Vomita sem pudor algum, joga na cara toda a fragilidade que eu guardo há tempos. Escondo há tempos.
Ela é má e grita alto até conseguir minha atenção, eu faço parte do seu jogo preferido: perguntas e respostas. Ela pergunta e eu prontamente sou obrigada a responder, mesmo sem saber o que estou fazendo, e quando chega a minha vez ela simplesmente ri, ri por ter me feito de boba novamente. Por me tomar sem precisar dar nada em troca, por mostrar que pode me controlar sempre que quiser.
- Não pode!
Venho tentando me convencer disso pra que um dia ela acredite em mim. Acredite e pare de me maltratar e fazer essas incisões rotineiras em minha alma.
Ela brinca comigo, eu sei, mas quando não há riso não há divertimento, e eu não to vendo ninguém rindo por aqui. Tenho que aprender a lidar com uma consciência oportunista e uma mente mentirosa, elas estão juntas nesse duelo de gigantes.
Minha consciência não presta. Sempre me encosta na parede e faz vir à tona todos os quase acertos do passado. Quase acerto porque eu errei querendo acertar, ou ela acha que as pessoas erram propositalmente? Ela não entende as pessoas.
E eu estou cansada, cansada e gripada, cansada e triste e fadigada por saber que amanhã será mais um dia daqueles. Mais um dia pesado, cansativo, rotineiro e frustrante.
Ela vai acordar pesada de novo, eu sei, e dessa vez vai me culpar por escrever demais.
- Desculpa!

9 comentários:

Cami disse...

Sabe de uma coisa flor, quando essa danada de consciência quer me encher o saco eu empurro ela na parede, olho bem nos olhos dela e digo: VAI TOMAR NO CÚ E ME DEIXA SER FELIZ DO JEITO QUE EU SOU!

Uffa! Parece que sai uns 10kg de cima das costas.

Não que eu saia por aí, feito uma porra louca, sem me preocupar com nada, mas a consciência, essa doida chata, também não fica aí me zoando a todo momento. Haaa isso não!

Beijão, flor!

Jana Lauxen disse...

Eu fiz as pazes com a minha.
E te digo: isso que você chama de Consciência, eu chamo de Alter-Ego.
Esse sim, é um pilantra!

Belo texto Arlequim.
Beijoca
:)

Junkie Careta disse...

Desculpe a intromissão,

Essa coisa tem nome baby; chama-se CULPA CATÓLICA. Não assombra só vc, assombra muita gente com essa idéia, de que "tudo que te dá prazer, te faz mal". É herança medieval. Não se preocupe com ela,vc me parece muito inteligente pra cair nessa lorota.

Entre muitos outros antídotos, acredito na literatura, no poema, na música, na arte em sí, como reveladora,demolidora e protetora de nossa liberdade e sonhos.

Tenho um espaço onde faço tráfico de letras assim como vc aqui. Lá eu também brinco de ser escritor e poeta: o spleen rosa chumbo.

Quando tiver um tempinho, apareça.

Adorei seu espaço

Grande abraço

Luiz Calcagno disse...

"Superior não é o homem que venceu a todos os exércitos, mas aquele que venceu a si mesmo"

LaoTsé

Além do mais, a consciência, consciência mesmo, é uma voz muito mais safada, que fala bem mais baixo, e que, pior que parece, parece sempre certa. A culpa que ela traz de mais pesada é a de não haver culpa.
Falando nisso, culpa é um sentimento que não ajuda muito, não é verdade? Pra que sentí-lo então?

Beijos

Anônimo disse...

Arlequim,a danada da consciência é uma bela aliada da nossa paz.
O que está acontecendo contigo, aos 18 anos, é apenas uma adaptação a ela.
Não deixe que ela te culpe.
Ninguém erra: apenas nos equivocamos.
E sabe, infelizmente costumamos aprender nos equivocando furiosamente, muitas vezes, até cansar e tomar o rumo certo.
Contigo está acontecendo o que acontece com todos nós: adaptação ao que é bom ou não, na nossa vida. E ela, a danada, nos auxilia bastante nesse processo.
um beijo.

Carioca disse...

os loucos sao os que transformam a fantasia em realidade. voe!

--
http://raciocinioquebrado.blogspot.com/

Mayana Carvalho disse...

Esse peso na consciencia é de matar... mesmo quando ele não existe... Muitas vezes a gente acha que ela tá querendo pregar uma peça na gente, mas ela pode ser um sinal pra muitas coisas que não conseguimos ver, ou melhor enchergar!

*é meio confuso pra comenter esse tipo de situação; Huhsauhsiahsiuah

Beijos

Ramon Mineiro disse...

DESCULPA O BARALHO!!!

BRINCADEIRA...

Anônimo disse...

já ouviu aquela frase:

"o sono da razão produz monstros"



por isso é melhor pensar sem se impressionar.

e siga o seu galope, sempre soberano, tal qual disse o Zé Ramalho.

sorte e luz.