quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fragmento

Para de tentar provar que não tem que me provar nada e que eu tenho que parar de tentar te provar alguma coisa. Para tudo. Gênios não se acham gênios e, quando se acham, são muito chatos. Qualquer um é genial às vezes, eu e você também, mas não somos gênios e tenho certeza de que você tem certeza de que é. Para de me julgar, menino. Porque você é um menino igual a mim. E quanto mais tenta me mostrar que não tem o que provar e que só quer o fácil, mais se enrola. E não adianta ficar bravo com o mundo, ele te leva onde quiser. Ele te trouxe pra cá, pra perto de mim, pra dentro da minha casa, pra dentro da minha cabeça. E você não vai sair fácil, você não vai sair, está trancado aí dentro, morando aí dentro.
Para. Para tudo.
Para de cagar regra sobre como devo fazer o que faço. Para!
Não me julga. Não me olha com pena nem desprezo. Você não pode me olhar com pena ou desprezo porque, sem saber, faz exatamente a mesma coisa que eu e conta que superou tudo na terapia. Yeah, rigth. Se tivesse superado, não precisaria dizer e acenderia o milésimo cigarro com ar de superioridade. Esquece, desce daí, te vejo aqui do meu lado, não quero saber se você é foda e lindo e se vai me dar mais uma chance. Se não der, não vai ser apenas problema meu, não é só virar as costas como quem desiste do restaurante porque é caro ou demorado ou porque o garçom botou o dedo no nariz. Somos dois. A merda foi minha, admito, me ajoelho, não consigo nem chorar porque seria ridículo e exagerado fazer isso na sua frente. Mas conto. Digo que chorei, e chorei mesmo, choro doído, travado, com pessoas de voz aguda que me olham de cima a baixo na casa escura e enorme e gelada e cheia de morangos e comidas e pessoas e longe de você. Longe nada. Longe é agora, longe é quando você ignora minha tentativa de redenção. Fui pra ter ver. Vou de novo. Desisto de tudo, talvez me arrependa mas desistiria de tudo, trabalho, braço, perna, mão. Eu quero você. Mas não tenho, não vou ter porque você fugiu com a maldita garrafa de vodca. Vodca. Bebida. Sou mesmo uma idiota, adolescente descontrolada que faz a maior merda, a coisa mais errada, escolhida inconscientemente a dedo para tornar tudo mais difícil e irreversível e dolorido, porque o drama me move, me mexe, me empurra pra frente ou pro lado ou pra cima ou pra onde quer que eu tenha que ir. Dez dias me tiraram cinco anos em minutos. Dez dias duraram meses. Dois dias duraram meses. Cinco anos duraram meses e voltei ao ponto de partida. O que posso fazer agora além de esperar sentada, comportada, com as pernas cruzadas e um cigarro na mão? Nada. Esperar. Não adianta correr porque você é mais rápido. Sentada esperando, quem diria. Foda-se o drama, eu quero você. Me diz como. Me diz logo. Eu quero você.
Não adianta, ele quer tempo, diz ter nojinho quando imagina seu melhor amigo gozando dentro de mim bêbada e molhada de mar. E o amigo ficando puto porque me arrependi e diz que tentei me matar só porque entrei no mar totalmente sem noção. Homens, eu os amo mas eles fodem com a minha cabeça. Não entendo. Entendo, claro. Mas não entendo. Ou entendo e quero tornar as coisas mais fáceis e perdoáveis para mim mesma. Argh.
Preciso é dar um jeito de arrumar o caos que eu sou.

Do livro Máquina de Pinball de Clarah Averbuck

4 comentários:

Mateus Bonez disse...

Eu tbm to precisando arrumar esse caos aqui chamado Vida. Beijão e espero vs sempre lá :D

http://tiomah.blogspot.com/

Roberta Albano disse...

nunca se entende completamente a cabeça de outra pessoa.
desabafo interessante
cheio de coisas que eu jamais teria escrito, mas legal mesmo assim
=)

espero que um dia vc visite meu blog

Carioca disse...

o toque se sonhar sozinho te leva em qqer direcao...
passo a passo eu passo. :)

http://raciocinioquebrado.blogspot.com/

Blog do Sarge disse...

Nao sei pq, mas esse fragmento se parece tanto com vc, moça rs.

Beijos