domingo, 22 de fevereiro de 2009

Monólogo

Os olhos me seguem; perseguem; assombram.
Me tiram do sério e me cegam com a intensidade desse brilho inquietante. Acompanham com precisão cada passo, toque, ou qualquer coisa que o valha. Seguem minhas mãos a passear por entre os fios de cabelo e, com a mesma atenção, observam as suplicas que faço em silêncio.
Eu sinto que eles me ouvem, ouvem e gritam minhas súplicas deixando, assim, minha privacidade ser invadida.
Eles olham, vêem, mas não enxergam; nunca enxergarão.
Jamais verão algo além de uma menina qualquer numa cama qualquer com um livro qualquer e palavras, arrancadas, no peito; no centro, perto do aparelho pulsante. Arranquei as palavras de uma boca antiga e as guardei por precaução.
Só e sem mais, com muito e um bocado sozinha.
Os olhos seguem meus movimentos, no escuro, enquanto fecho os olhos e finjo conversar com Deus.
Monólogo.
Ele não responde, nada, nunca; jamais responderá.
Peço paz, sossego, descanso; quero seguir sozinha sem ser vigiada por ninguém. Mas eles continuam ali, seguindo meus passos, naquele breu infernal. Num ato de coragem acendo a luz, e os olhos se vão, somem por entre a claridade. O brilho só se mostra no escuro, mas a sensação de vigília nunca acaba.
Quer dizer, nunca se acaba, pois vem acabando comigo há anos

12 comentários:

NiNah disse...

E nossa, não a senhora, mais meu Deus!
Seu texto?
Adorei.
Bjo

Cami disse...

É quando pensamos que Deus não nos ouve, é aí que eles está com seus ouvidos atentos.

Adorei teu texto, moça!

Beijocas

Amanda Galdino disse...

Quando eu entro no meu blog e vejo você dizer que gosta do que eu escrevo, isso me faz muito feliz. É uma sensação muito boa ser reconhecida por alguém que admiramos.

Seus textos sempre me fazem pensar sobre tudo e sobre todos. Eles sempre me tocam profundamente.

Luiz Gonzaga B. Jr. disse...

Agora, no radio, toca "love of my life" do Fred Mercury. Perfeito para o escrito.
bj

Bruna Mesquita disse...

Perseguição...eu sempre acho,sinto alguém comigo mesmo que eu esteja sozinha num comodo!
Sempre caminhando,desde pequena,cobersava com deus,e,ou melhor conversava comigo,pois chega um ponto que num é dele que queremos resposta e sim de nós.
Esse monologo,num acaba.nossos pensamentos sempre estarão ali presentes.

Mateus Bonez disse...

Lindo camila, fiquei sem palavras.
Beijão e aparece ;D

http://tiomah.blogspot.com/

Luiz Calcagno disse...

Enquanto nos encalacramos à solidão, existimos, mas só as vezes, né?

NiNah disse...

Moça tem selo pra você.
Bjo

Anônimo disse...

muito bom o final do texto.

colombina*

Carioca disse...

vc eh uma mala rs., mas escreve bem demais...
o estandarte do sanatorio geral sempre passa. =)

http://raciocinioquebrado.blogspot.com/

Livia Queiroz disse...

Meniiiiiiiiina que forte!!
Qnta intensidade hein???
Mto mto mto bom...

adorei

Wagner Kaiowas disse...

Sabe Arlequim, em setembro de 2000 tive um pesadelo. Sonhei que estava sozinho em casa. De repente, senti a presença de alguém que não via há muitos e muitos sonhos. Logo me veio um enorme medo e tudo pareceu ficar frio, muito frio. Olhei para trás e vi aquela "pessoa" sem rosto que trazia em sua boca o sorriso mais sarcastico que já vi em toda vida. A tal pessoa disse que havia voltado para levar minha alma para o inferno. E dessa vez, ela não falharia!
Lembro de ter sido agarrado por essa "pessoa". Preso, me debatia feito um louco e tentava gritar desesperadamente, mas nada adiantava.
Enfim, acordei suado, tomado por um desespero e por uma enorme falta de ar. Ao acordar, achei que tivesse acabado, mas senti a presença de mais alguém em meu quarto. O desespero aumentou ainda mais. Tomado por um grande medo, me cobri dos pés a cabeça na "tentativa de me proteger" dessa pessoa que havia saído dos meus sonhos e que agora estava ao lado da minha cama, naquele quarto escuro.
Sem sono, fiquei por quase duas horas coberto sem saber o que fazer, até que consegui esticar o braço e alcançar o controle da tv que estava no criado-mudo ao lado da minha cama.
Ao ligar a tv, senti alguém saindo do meu quarto e horas depois, consegui dormir.
O curioso é que, dias depois desse pesadelo, lembrei que quando eu tinha uns 5 ou 7 anos de idade, eu tinha pesadelos do mesmo tipo com essa mesma "pessoa" que sempre dizia que estava ali para levar minha alma.
Bom, isso me deixou bem paranóico a ponto de me fazer não dormir com luzes apagadas durante um bom tempo. Hj algumas coisas mudaram, mas até hj sonho com essa "pessoa".
Beijão, fica bem...