domingo, 11 de janeiro de 2009

Cristian;

estou tentando – pela milésima vez – não depositar, aqui, nessas linhas tortas, toda a pieguice podre que me cabe. Tentando disfarçar todo esse sentimentalismo que está preso em minha garganta. Para ser sincera, todo e qualquer sentimentalismo é um tanto quanto medíocre, mas dessa vez o danado me pegou. Pegou-me de um jeito que, neste exato momento, consigo senti-lo exalando de meus poros. O fato é que, você, garoto estranho, despertou meu lado humano. O lado grotesco que eu sempre repudiei. E para minha infelicidade, nem assim consegui te odiar ou então te amar pelo avesso. Eu tentei. Tentei por vezes, todos os dias e horas desses dois anos perdidos. Fracassei, como esperado. Eu tive inveja. Inveja pura e sem culpa. Queria ser como você que, a meu ver, não sabia amar. Queria ser capaz de arrancar, com minhas próprias mãos, esse bichinho roedor de corações que se alojou no meu aparelho pulsante. Tentei ser capaz. Tentei, e, você tem alguma dúvida sobre o que aconteceu? É evidente...
Imaginei também. Imaginei, por noites, todos os corações que você colecionara. Por noites, dias e horas, eu pensei. Pensei naquela coleção imensa, temendo o dia em que o meu faria parte dessa palhaçada toda. Temi vê-lo em sua estante. Temor um tanto inútil, eu sei. Tive medo de ser traída por esse coração idiota e ser entregue a você. Eu tive medo, mas na primeira oportunidade eu o traí e o entreguei sem pestanejar. E quem era mesmo idiota?
Foi monstruosamente inevitável. Eu fingia ter razão, ser indiferente a tudo; fingia sempre e mal, e eu nem sei a quem eu queria enganar com tamanha bobagem. Quando dei por mim, já não havia coração algum. Aqui dentro se encontrava apenas um vazio imenso, medonho e escuro demais. Vasculhei, procurei desesperadamente, mas não encontrei nada além de um vazio gritante, que ecoava pelas paredes a procura de respostas tão vazias quanto ele. O meu vazio era vazio. Existe coisa mais óbvia? Talvez, mas coisa mais triste não há.
Doeu um bocado no começo, até o dia em que percebi que aquele aparelhinho chato era seu por direito. Droga! Perceber coisas estranhas a essa altura não é algo do qual me orgulhe. E se eu me esforçar, bastante, posso ouvir meu coração batendo desajeitado ao som das gargalhadas de seu novo dono. Sua gargalhada, aquela que eu tanto gostava. Hoje o som é medonho e, às vezes, me causa pânico; o que eu tenho tentado evitar. Não te evito, mas eu tento. Tento e nunca consigo como já é de costume quando se trata de você, garoto. Hoje eu penso numa maneira, menos dolorosa, de obter meu aparelho chato. As batidas já estão escassas, os ânimos não são os mesmos e, ele, está sangrando demais. Sofrendo demais. Amando demais...
Está batendo descompassado, de um jeito novo, jeito que eu mesma desconheço. O entreguei de bom grado, eu sei. Fui idiota o bastante para depositar algo, de tamanha importância, em suas mãos ágeis. Acreditei que, elas, poderiam cuidar daquilo que eu já não sabia como usar. Eu fui a culpada. A única e exclusiva dona da culpa, por ser estúpida o bastante para fantasiar demais em cima de alguém que não merece tanto. Não é nada pessoal, não. Juro! Talvez você até mereça um pouco. Talvez. Mas meu coração não precisa saber disso, não é? E eu mesma estou tentando fugir da verdade.
A aprendizagem foi boa. Mesmo a dor sendo pungente, foi um bocado proveitosa. Aprendi coisas de tamanha importância, que, hoje, me são tão inúteis como escrever toda essa merda aqui. O bom é que, agora, eu sei que sou mais idiota que esse coração que é meio meu e meio seu. Nosso coração.
Por ora é isso que tenho a lhe dizer, garoto.
As lagrimas já me são fartas e, aquele liquido vermelho insiste em escorrer pelas feridas que, há tempos, tento cicatrizar.
Eu o quero. Agora!
Quero como nunca quis alguém. É uma precisão tamanha que já não cabe mais em mim. Não é só o querer, a necessidade já me aflige, entende? E eu preciso. Preciso desse coração ignóbil que já não bate tanto quanto antes. É necessário salva-lo enquanto há tempo e, espero que você entenda.
É inútil, e um tanto desprezível deixá-lo em mãos que o destroem, com tamanha ferocidade, todos os dias.

- Não se preocupe em dizer “sinto muito”, pois eu mesma não sinto nada.

9 comentários:

Cami disse...

Arlequim!
Pior que sofrer por amor, é mesmo tudo isso que vc escreveu: Entragar o coração para quem não merece.
O problema que percebemos isso sempre tarde demais.

Porém, uma ferida de amor se cicatriza com outro amor.
Bola pra frente, lindeza!

Bjão!

Roberta Albano disse...

"Talvez, mas coisa mais triste não há." Concordo. Apesar de todo o sofrimento que você pode sentir agora, não sentir nada é pior. é como não viver. E viver é tudo que importa.
Ahh, também queria dizer que o texto está muito bem escrito, parabéns


...
lettersalbano.blogspot.com

Carioca disse...

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Carioca disse...

o mundo é um moinho ...

Mateus Bonez disse...

É simplesmente tocante. Mesmo sendo algo diretamente forte. Muito bom, adorei. Te espero sempre e um grande beijo :D

http://tiomah.blogspot.com/

Anônimo disse...

"Sofrendo demais. Amando demais..."
Será que para amar tem que sofrer?

Não deixa alguém destruir teu coração! ;D

Luiz Gonzaga B. Jr. disse...

Meros mortais. Sentimos e sofremos e cantamos nosso sofrimento.

Adriano Queiroz disse...

É nobre aprender com as dores.
Felicidade é saber compreender as trsitezas e comemorar as alegrias.

Abraços.

Anônimo disse...

Contraditorio e triste, como só a dor de um amor sabe ser.

Beijocas querida.