quarta-feira, 17 de março de 2010

00:21

para Amandinha

Se a busca fosse minha eu não me importaria.

Talvez isso seja visto como certo egoísmo meu, talvez seja certo egoísmo meu, de fato, mas algo me punha cético diante aquela busca ilusória que os meus olhos pintavam eterna.

Se a busca fosse minha talvez eu entendesse o porquê, mas visto de fora tudo parece oco, mesmo quando há um motivo forte ou sentimento arrasador. Sempre tive medo de sentimentos arrasadores. Os imaginava invadindo minha casa, de soslaio, na madrugada. Inundando tudo, como água de rio quando transborda.

Os imaginava transbordantes; transcendentes.

Lembro-me que em minhas orações, quando pequeno, pedia para que me protegessem desses sentimentos que invadem as pessoas de soslaio. Eu não gosto dessa palavra: soslaio. Parece que póstuma a ela sempre vem alguma invasão, algum tipo de rompimento. Esses sentimentos rompem tudo; e eu não sei até que ponto o meu tudo pode ser rompido ou, então, até que ponto isso que eu tenho pode ser meu tudo.

É complexo e, pra ajudar, ainda há essa busca que não é minha.

Agora, estranhamente, sinto frio nos pés e em partes que eu jamais imaginei sentir frio. O frio é a falta. Eu sinto falta. Eu tenho falta espalhada cuidadosamente pelo corpo. Tenho copos espalhados pela casa e alguns cinzeiros cheios. Do outro lado da porta há corpos vazios - ou apenas o vazio -, mas eu gosto de imaginar que há sempre um ouvido colado na porta, um olho invasor que espia pelo vão ou alguém que, com cautela, faz silencio para ouvir os meus passos pela casa. Às vezes digo qualquer coisa em voz alta para compensar a presença daquele que eu nem sei se existe. Eu nunca abro a porta.

Jamais abra a porta: aconselho a mim mesma.

Do outro lado o vazio pode ser ainda maior; e depois de atravessar aquela linha perde-se todo, e qualquer, limite.

Mas há a busca. Há a busca e as idas e vindas e os laços e tudo o mais que eu não entendo ou procuro não entender. Ela é eterna. E ele não vai encontrar o que procura, jamais vai encontrar o que o faz procurar, desvairadamente, por ruas e ruas a fio. É impossível, eu sei - ou é o que eu desejo.

Talvez eu queira ser encontrado. Talvez eu queira mostrar que eu sou o caminho. O único. O certo. O que o faz sair do vale das sombras da morte.

Não; eu não sou a luz.

Eu sou a escuridão...

Se a busca fosse minha eu não me importaria, mas não suporto vê-lo caminhar, sem destino, enquanto eu tento desatar todos os laços que nos une. Ou nos unia. Ou nos uniu. As lembranças não se apagam facilmente, embora, às vezes, essa seja a nossa única salvação.

E quando não há salvação?

E se não houver salvação?

Batem na porta. Estão batendo desesperadamente na porta. Encolho-me dentro de mim e não abro. Tenho medo. Penso que, talvez, ele tenha decidido me encontrar como deveria ter feito há muito; penso que são os pensamentos arrasadores que vieram invadir minha casa em busca do meu tudo para romper; penso que há corpos vazios me chamando para juntar-me a eles; penso, penso; e só.

tô trabalhando, galera, então tá corrido. Mas vou tentar postar algo decente em breve rs

3 comentários:

Amanda Galdino disse...

Ok, entrar aqui e ver um post novo já alimentou-me por um dia. Entrar aqui e ver o 'para Amandinha' alimentou-me por uma semana. Seu próximo limite pra post caso não queira ter sobre suas costas o peso de minha morte por falta de suas palavras.
-x-
E se houver salvação? E se houver a certeza de que há alguém que cautelosamente ouve os seus passos atrás da porta e roe as unhas de preocupação quando nos os ouve? E se houver alguém que silenciosamente pede para que você tenha um pouco de coragem e abra a porta?
Você abriria a porta se tivesse a certeza de que há alguém do outro lado? Abandonaria a escuridão e permitiria que um pouco de luz adentrasse seu quarto e mandasse embora as sombras negras?
Há alguém. Basta olhar. Eu sei, e você também sabe que há alguém.

Rhaissa disse...

Entrar aqui e ver um post novo já alimentou-me por um dia 2
Muito bom.

E, acho que o medo tem que ser deixado de lado, talvez corpos vazios possam ficar cheios de tudo se houver companhia.
Talvez seja bem mais vazio do lado de dentro.
Talvez só falte coragem de sofrer. Ou de ser feliz.

Adorei, s2

Anônimo disse...

Como sempre sábias palavras...