sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sinto muito

Sempre me encontro irremediavelmente perdida após alguns passos e uns sorrisos. Quase me entrego. Quase me coloco em suas mãos, como um presente, inesperado, envolto por um laço de fita azul. Sem pedidos ou desejos. Apenas a entrega crua.
Deixo-me lá; e fecho os olhos para fingir que desconheço as mãos que me levaram até você, remoendo histórias, e rezando para eu me enganar, por um tempo, e não contar a ninguém que aquelas mãos eram minhas.
Os sorrisos surgem e lá estou eu mais uma vez escrevendo, em vermelho canalha, "sou tua" bem no meio do meu rosto. Escrevo e me escondo. Finjo. Para depois mentir, para mim mesma, dizendo que foi você quem me achou.

É que eu tenho uma história na cabeça - e no coração.
Eu acredito que um dia, quando eu menos esperar, você vai bater em minha porta, com algumas malas, vai sorrir – é incrível como você sorri – e então dizer "voltei"; como se por todo esse tempo, em que eu venho desfazendo o tal amor, você só estivesse viajando. Uma longa viagem apenas. Longa. Longe. E então, num belo dia, você, finalmente, resolve voltar para casa.

Eu sou a casa.

Talvez pelo tempo que esteve fora não me reconheça.
O tempo arrasa tudo.
O vento arranca as telhas e a umidade trás o mofo para as paredes.
A reforma, muitas vezes, é necessária.
Uma mão de tinta. Duas. Três... E quando se percebe já é outra.

Ele voltou para casa. Bateu em minha porta, após anos, e me entregou o que eu desejei a vida inteira. Havia vestígios de vermelho canalha e fita azul por todo corpo. Era a vez dele de gritar “sou teu"; a vez dele de se entregar. Eu dei alguns passos e sorri. Ele, parado, ali na minha porta, mal sabia o que fazer com as mãos. Sacudi a cabeça mostrando divertimento e ele retribuiu. Tarde demais para retribuir, não?

Agora ele era meu.
Agora ele queria a casa.
Agora ele queria sentir o cheiro do mofo nas paredes.

Eu continuei, ali, sorrindo com uma graça inexistente, enquanto meu coração se comia num puro ato de canibalismo.
Atrasado demais!
Meu coração se recusava. O rejeitava.
A reforma havia acontecido – se ele tivesse aparecido antes.
Um novo dono habitava em mim; e eu sei que disse que esperaria por toda vida, mas é que eu não sabia que, toda vida, demorasse tanto.
E naquele mesmo dia ele saiu em busca de um apartamento com um peso enorme nas costas. Duas palavras, pesadas, ainda latejavam em sua cabeça.

– Sinto muito! – eu lhe disse; levando o sorriso embora.

6 comentários:

kyka disse...

bonito texto ^^
beijos

Unknown disse...

Entrei na comunidade *-*
Então... uau... brilhante.
Gostei do diálogo anterior... gosto de dialogos. Não se se você conhece, um blog chamado 'anonimo incognito'... todos os textos de lá são dialogos, eu amo aquele blog, ele e o seu são com certeza os meus preferidos.
:D

beijos.


por: Rhaissa (caspide)

Eu, Thiago Assis disse...

esse sonho é uma historia tão perfeito q a gnt ate desconfia... mas sonhos existem pra um dia, quem sabe, serem realizados, né? ^^

se ngm ocupa a casa, chega o dia em q alguem a invade e a gnt num consegue expulsar..
=]
bem feito pro atrasado em chegar.

EmileJ disse...

MUITOOOOOO bom o textoo!

-que pena ter chegado atrasado,
a casa deveria ter tanto para oferecer.

Aline A. disse...

táqueopariu...

muito bom...
de uma essencia tamanha.

bjos =]

Felicidade Clandestina. disse...

Achei muito bom (: