quarta-feira, 24 de março de 2010

[...]

"Será que ela quererá?
Será que ela quer?
Será que meu sonho influi?
Será que meu plano é bom?
Será que é no tom?
Será que ele se conclui?"
Caetano Veloso

Não; não se vá. Deixe eu me despedir desse sorriso, desse facho de luz que agora se esvai por entre minhas mãos. Por favor. Por favor, tenha piedade. Não maldiga esse pedaço de alguma coisa que o nosso amor se transformou. Ainda é cedo, Julia. As luzes nem foram acesas e a cidade não vive aquele silêncio que eu odeio tanto. Sorria, sorria pra mim. Me aponte a direção com essa sua luz que me atordoa e me encanta me consome e me nutre. Me consuma, Julia, me consuma e não se vá. Não há motivos para desistir do que ainda não aconteceu. Não há porque fechar os olhos. Eu sei, o sono domina seu corpo, mas é cedo pra transformar dois corpos num fim. Há desejo em nós. Há pele querendo colar na pele. Há certeza, tímida, explodindo nos olhos. Não se vá, meu bem. Por favor. Não antes que eu sinta seu gosto. Não antes que eu prove seu vibrar. Seu sexo. Seu sussurro abrasador. Não se vá antes de dizer as palavras certas e me olhar com aqueles olhos tão miúdos e tão meus. Não, Julia, não tenha medo. Esqueça o medo e a razão. Esqueça o certo e me consuma. Me assuma. É tempo de ser consumado, e que seja hoje. Que seja agora. Que seja imenso e invasor. Não, minha ilusão, não feche a porta desse abismo de possibilidades que o destino nos mostra. Não sem antes sentir meu gosto. Me sinta, Julia. Sinta o novo sem ter medo. Somos amantes há tanto tempo que eu conheço cada traço desse corpo de mulher. Não tenha pressa, minha garota. Não acenda a luz desse cômodo que nos comporta. Não estrague tudo, Julia. Não estrague a curiosidade que nutre nossas madrugadas insones, nossos domingos insossos. Não, Julia, não é tempo de desistir. Não há tempo. Esqueça de ter medo. Somos só eu e você, um quarto vazio e a timidez. Não me dê as costas, Julia, me deixe brindar essa noite que não aconteceu. Não feche a porta, meu bem, é perigoso demais. Não se tranque nesse ser rodeado por certezas que não são suas. Arrisque-se. É a sua chance, eu sou sua chance. Não, Julia, não se afaste, meu corpo não consegue ir tão longe para te alcançar. Não me obrigue a desistir, Julia. Não, Julia. Por favor. Por favor...

2 comentários:

Rhaissa disse...

Desejo a flor da pele? xD
Gosei, ops...
HAHAHAHAHAHA
Gostei!

Amanda Galdino disse...

Seu prazo de uma semana foi mantido. Parabéns! Consigo voltar a respirar agora.

-x-

Sobre o texto: o querer latente que aquele não se vá.
A vontade gritando de prender, ou melhor, esperar que a pessoa queira ser prendida em nós.
Não deixemos que nossos amores se vão 'como água entre os dedos fluindo pra outro lugar'.