domingo, 13 de setembro de 2009

Caótica; mente caótica

Escovando os dentes para tirar o gosto amargo da boca; escovo sem parar e por impulso, quase rindo e quase sem perceber, já sabendo que a merda de um creme dental não levará o amargo do beijo embora.
É uma maldição, talvez.
“A maldição do beijo”, um bom titulo para um livro tosco – às vezes insisto também em escrever. A tal maldição é circular, passa de boca em boca, de beijo em beijo. E eu penso que quando encontrar o dono daquela boca maldita tudo se findará.
Circulo fechado; o fim.
Isso me diverte às vezes e me causa náuseas regulares.
Três vezes ao dia.
Três semanas num mês.
Três meses num ano.
Deve ser a porra de um inferno astral – ou não.
E eu procuro uma loucura quase passageira, uma loucura interna que eu quase encontro em algumas noites de cinzeiros cheios e copos vazios.
Corpos vazios.
Muitos. Vários.
“O mundo não merece minha lucidez” é uma frase tão verdadeiramente idiota. O mundo não merece minha porra de lucidez e talvez nem minhas palavras. Por isso eu vivo; só para cuspir na cara desse mundo de merda e dizer que eu sou boa demais para ele. Boa demais para ser boa demais. O suficiente para ser o restante, o escuro, a sombra de qualquer coisa excessivamente iluminada.
A vida me dopa!
Vida filha da puta; porque para ter feito uma vida assim – piegas – só sendo puta mesmo. Puta, tosca, pseudo-escritora que, pra ajudar, não vale nada.
Olhando minhas mãos – precisamente a direita – percebo uma marca vermelha, estranha, deve ser a marca que a descarga – quebrada – deixou ali. Os vômitos são regulares, lembra? Eu já falei sobre qualquer coisa de inferno astral?
O problema é que a marca nunca é só a marca – isso fode tudo. Atrás da marca há sempre outra; e quando eu digo sempre, é sempre mesmo. A saudade, por exemplo, é uma marca e por trás dela há o causador e os motivos que te fazem lembrar e os motivos que o fizeram ir embora.
Marcas se escondem atrás de marcas.
Odeio marcas. Odeio pessoas que vão embora. Odeio sentir saudade e ter de escovar os dentes cem vezes ao dia com uma esperança fina de transformar o amargo em gosto de hortelã.
A escova não alcança o amargo; o amargo nem é amargo; o amargo é doce.
Tão doce que chega a amargar a garganta, entende?
Não, não é?
Você nunca vai me entender. Sempre vou ser estranha demais, quieta demais, caótica demais.
Caótica; mente caótica.
Um dia minha mente se cala; um dia meus dedos se cansam; um dia eu durmo, querida, eu durmo.
E nesse dia...
Ah, nesse dia eu enlouqueço de vez.

5 comentários:

Eu, Thiago Assis disse...

infelizmente nao dá pra escovar a memória, né?

circulo fechado talvez não signifique o fim, mas apenas um ciclo interminável, talvez (se esse for o objetivo) partir o ciclo seja melhor. :)

Aline A. disse...

"E eu procuro uma loucura quase passageira, uma loucura interna que eu quase encontro em algumas noites de cinzeiros cheios e copos vazios.
Corpos vazios.
Muitos. Vários."

E ASSIM CAMINHO MEU BEM.

EmileJ disse...

PQP que textooooooo viu!
perfeiiiiiiiiito

Amanda Galdino disse...

Sempre me pergunto como você consegue se expressar tão bem. É como se você conseguisse unir as palavras em um quebra-cabeças perfeito, onde tudo se encaixa sem ao menos parecer um encaixe, entende? Eu também tenho uma mente caótica. Na verdade todo mundo sempre tem pra todo mundo, apenas ós mesmos nos entendemos e às vezes nem isso. Seria bom um creme dental que apagasse além do gosto do amargo qualquer outro vestígio da existência daquele alguém. Mas o creme só vai tirar o gosto, o sentimento ainda continua impregnado. E é ele que nos corrói.

=***

Unknown disse...

ah como sempre, lindo :D
Muito bom rs...
poste mais!!! espero anciosa *-*