E se eu te dissesse que tudo não passou de um sonho e que eu havia moldado todas as palavras antes de enfiá-las na boca e calá-las para sempre?
Gritei, dentro de mim, espantando todos os fantasmas dos meus sentimentos mortos, enquanto você dormia.
Pintei todas as cores dos nossos olhos e desenhei cada linha do seu corpo com uma minuciosidade desigual, calei a noite e despertei o dia, percorri as estradas da ilusão plantando semente de nós dois, enquanto você dormia.
Conheci rostos e gostos gastos, sapatos gastos, vidas gastas.
Dancei valsa com a saudade, morri e renasci três vezes ao dia, me encontrei no desconhecido, enquanto você dormia.
Se eu te dissesse que tudo não passou de um sonho, você acreditaria?
Talvez tenha sido um pesadelo, loucura talvez.
Ando tão descrente, amor.
Mãos cansadas, pés descalços, coração na boca ou no bolso – não sei.
Ando e procuro em cada passo uma resposta, uma denúncia, um sopro do que ficou. Conto e reconto e desconto tudo e nada, um passo a frente e um litro de alma se esvai.
Sem alma, sem rosto, sem nome, amor.
O seu gosto já está gasto em minha boca.
E se eu te dissesse que nunca houve sonho algum?
Sonhos não existem, amor.
Nós não existimos; nem você, nem eu.
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