sexta-feira, 30 de abril de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
Da janela da frente
Sempre a vejo lá, linda. Debruçada sobre aquela janela verde, procurando com seus olhos rápidos, e inquietos, qualquer indício de possibilidade. Vasculha a rua toda, desvenda cada corpo que por ela ousa passar. Eu a vejo lá, linda, e visto daqui o lá se torna tão longe e o verde chega a ser ralo devido a distancia. Mas é verde. Um verde bonito e um tanto sujo pelos braços da moça triste. Há dias em que sua tristeza inunda a rua e eu quase choro.
Parece minha aquela solidão...
Uma solidão tão singela e singular que se veste de uma beleza desigual.
A moça linda e triste é completamente desigual.
Quisera eu que aqueles olhos me despissem e me revelassem. Quisera eu me aproximar daquela janela verde que de perto deve ser tão mais verde e tão mais janela. E ela permanece lá, fingindo ser inócua a qualquer coisa, a qualquer custo. Fingindo não saber que o seu olhar entorpece todos que por ali passam e que o seu cheiro acompanha todos os corpos e penetra a memória como algo impossível de esquecer. Totalmente inesquecível.
Enquanto ela passa a vida fingindo... Fingindo que não provoca reação alguma nas pessoas que a cercam e que a janela verde não faz com que os seus olhos melados sejam tão mais mel e tão mais doce e que não faz nada para encantar a enfeitiçar a alma dos que a procuram por toda a parte. Passa a tarde fingindo que eu não sou inteiramente sua. Passa a tarde inteira me olhando sem me ver. Passa a vida fingindo não se importar com os deslizes e acasos decorrentes. E eu passo a vida toda por ela, porque uma única vez ela passou por mim. E foi intenso. Tão intenso que ela não soube voltar pra casa e eu, egoísta que sou, não mostrei o caminho de volta. Tudo para mantê-la aqui, quente, como uma canção que nos remete a momentos bons. Ela é o meu momento bom; a janela verde que fica tão mais verde e mais janela quando me aproximo; seus olhos tão lindos e melados e invasores. Posso ver os beijos flutuando sem alcançá-la, milhões deles vindos de todas as partes. Eu fecho os olhos como se assim ela pudesse ser somente minha e intocável. Mas daqui ela parece estar tão longe e o verde parece ser tão ralo...
Por vezes eu gritei para acordá-la desse transe da solidão, mas ela não ouve, ela finge não me ouvir.
E assim se seguem os dias...
Passo as minhas tardes procurando um modo de torná-la minha, querendo-a como jamais quis alguém, enquanto ela segue fingindo não merecer uma gota sequer desse amor...
há coisas que a gente não pode controlar e, eu, tô descobrindo isso de uma maneira tão doce..
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Carta,
pra você
Queria poder me lembrar dos detalhes. De todos os mínimos detalhes e traços e medos que compõem seu corpo. Queria entendê-lo. Saber, de uma vez, porque seu olhar me despe. O porquê de suas marcas serem definitivas. Me sinto transparente e acuada em sua presença, como se a qualquer momento suas mãos ágeis pudessem me invadir e levar o que nunca ninguém levou.
Tenho medo do bem que você pode me fazer. Medo de parar minha busca ao te encontrar. Medo de parar no tempo sem poder, ou querer, evitar. Sinto tantas coisas, beibe, que jamais poderei contá-las sem que meu jogo fosse entregue, sem derrubar essa minha máscara de garota-segura.
Eu queria que você me entendesse sem que eu precisasse explicar. Queria que você sentisse a minha vontade e que entendesse que o desejo é mutuo e que há, sim, reciprocidade nas nossas pequenas coisas. Queria que você entendesse que esse medo que eu sinto é por você. Não quero te assustar com o que sou, nem te mandar embora ao encarar meu egoísmo e meu sentimento ralo.
A vida toda eu só fiz pensar em mim.
Por isso, agora, me desespero ao perceber que estranhamente tenho pensado em você.
Não quero te machucar - como fiz com muitos. Quero te proteger, cuidar pra que tudo dê certo. Ser cautelosa para que esse sorriso que me ilumina nunca se perca na escuridão.
Eu só quero que você saiba que eu me importo e que me machuco a cada vez que, sem querer, te faço triste. Não sou a pessoa perfeita pra ninguém, eu sei, também jamais procurei a perfeição. Sou totalmente errada e errante. Imatura e pouco explicita. Sou um poço de confusão. E o que me surpreende é que, mesmo assim, vejo sua vontade em se perder em minhas águas.
Fico pensando que talvez você seja a pessoa certa.
Talvez você seja a minha grande chance.
Eu não sei, nós não sabemos...
Mas não quero perder um minuto dessa nova história.
Quero todos os beijos e abraços e palavras que me cabem. Quero te ver sorrir todas as manhãs e dormir sentindo aquele perfume que já é tão seu. Não tenho certezas. Nunca tive e talvez nunca tenha. Mas depois de você os dias têm sido mais calmos. Depois de você as pequenas coisas voltaram para seus lugares de pequenas coisas. E desde então nada tem importância se não colocar um sorriso no seu rosto. Desde então não se faz necessário Julias, Clarices ou Helenas.
Desde então tudo se desfez e só você se faz presente.
Não preciso de musas inspiradoras, beibe.
Não preciso de muita coisa se eu tiver você.