Os meus olhos estão pesados, minhas costas doem e minha boca cospe mentiras tão cruéis que deixam um gosto amargo na garganta.
Através da janela posso ver os primeiros raios de um dia nublado de um sábado quatorze em que nada promete, a não ser a promessa de nunca cumprir. Um livro listrado é o meu único companheiro por aqui – sem contar os travesseiros, as canetas e aquele velho caderno – e fico feliz por não estar sozinha e até gostar, um bocado, de listras.
Na sala alguém dorme, no quarto ao lado também; na outra cama alguém esta prestes a acordar enquanto eu rezo baixinho, por um pouco de sono. Rezo enquanto alguém ri as minhas custas; enquanto a sorte, que era para ser minha, é levada de algemas para o extremo oposto.
Os espíritos insistem em me tocar e, a cada instante, posso senti-los mais perto e mais encorajados a desvendarem os meus mistérios. Se eu parar para prestar atenção consigo ouvir suas risadas e suplicas e conversas paralelas;
Conversam alto e cantam demais;
Cantam alto e falam sem parar.
A mistura de passos, pessoas e passado em minha mente, notívaga, não me deixa dormir.
Os espíritos estão por toda parte e sinto que um deles tenta, desesperadamente, invadir meu corpo; tenho medo.
Outros tentam e riem e cantam e choram e não me deixam em paz.
Meu quarto está lotado deles, por todas as partes e em todos os cantos.
Fecho os olhos e balanço minha cabeça, mais uma vez, com a esperança saltando dentro de mim, querendo e acreditando que uma hora ou outra eles se vão ou, então, me levam.
Não sei diferenciar, ao certo, aquilo que eu quero daquilo que eu necessito; talvez minha alma precise de um tempo calada, talvez eu queira soltar meu espírito e deixá-lo invadir o quarto de alguém.
Tenho medo, grande, de nunca me libertar dessa loucura e medo, ainda maior, de ser a intrusa nisso tudo.
Minha assombração...
I want to be alone.
Galera estou no 3:AM Magazine Brasil \o/
passem por lá: http://www.3ammagazine.com/brasil/reticencias/
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