terça-feira, 27 de outubro de 2009
Meu lixo
E há os homens; e mais que isso: há os homens que amam.
Quando menos se espera a beleza se desfaz. Tudo feio. Triste. Medonho. Sombrio.
Não há mais nada. Até a poesia — mesmo a porca — foi embora te deixando para trás. Você, sem perceber, começa a contar os dias para que os ratos e baratas procurem sua companhia; conta dia após dia, todos, até o fim brilhar feliz na sua porta.
Um, dois, três, quatro... Olha para frente e o encara.
Encara a boca que te beija, os cuspes, e vômitos, que você depositou ali.
— Me olha, porra!
Encara o homem que te ama. O encara e vai embora. Some no mundo. Desaparece. Percorre milhas, e milhas, atrás do amor – só para matá-lo. Corre. Anda.
— Ainda há tempo!
Mata. Decepa. Mutila o amor que te consome, e te domina, quando os dias são tão claros. Acaba com ele na rua. Com sol. No meio da praça. Rodeada de pessoas e pessoas e pessoas.
— Que isso sirva de lição!
Não vai ser preso, nem premiado, por tal feito; vai ter feito e só. Sem vaias ou aplausos.
Nada.
O Amor morrendo, drasticamente, diante dos seus olhos enquanto recita aquela poesia mal escrita sobre a insistência em ver poesias inexistentes.
Não existimos, amor;
nem você, nem eu.
domingo, 25 de outubro de 2009
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Dama da noite
[...]
A roda? Não sei se é você que escolhe, não. Olha bem pra mim - tenho cara de quem escolheu alguma coisa na vida? Quando dei por mim, todo mundo já tinha decorado a tal palavrinha-chave e tava a mil, seu lugarzinho seguro, rodando na roda. Menos eu, menos eu. Quem roda na roda fica contente. Quem não roda se fode. Que nem eu, você acha que eu pareço muito fodida? Um pouco eu sei que sim, mas fala a verdade: muito? Falso, eu tenho uns amigos, sim. Fodidos que nem eu. Prefiro não andar com eles, me fazem mal. Gente da minha idade, mesmo tipo de. Ia dizer problema, puro hábito: não tem problema. Você sabe, um saco. Que nem espelho: eu olho pra cara fodida deles e tá lá escrita escarrada a minha própria cara fodida também, igualzinha à cara deles. Alguns rodam na roda, mas rodam fodidamente. Não rodam que nem você. Você é tão inocente, tão idiotinha com essa camisinha Mr. Wonderful. Inocente porque nem sabe que é inocente. Nem eles, meus amigos fodidos, sabem que não são mais. Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. Mocidade é isso aí, sabia? Sabe nada: você roda na roda também, quer uma prova? Todo esse pessoal da preto e cabelo arrepiadinho sorri pra você porque você é igual a eles. Se pintar uma festa, te dão um toque, mesmo sem te conhecer. Isso é rodar na roda, meu bem.Pra mim, não. Nenhum sorriso. Cumplicidade zero. Eu não sou igual a eles, eles sabem disso. Dama da noite, eles falam, eu sei. Quando não falam coisa mais escrota, porque dama da noite é até bonito, eu acho. Aquela flor de cheiro enjoativo que só cheira de noite, sabe qual? Sabe porra: você nasceu dentro de um apartamento, vendo tevê. Não sabe nada. fora essas coisas de vídeo, performance, high-tech, punk, dark. computador, heavy-metal e o caralho. Sabia que eu até vezenquando tenho mais pena de você e desses arrepiadinhos de preto do que de mim e daqueles meus amigos fodidos? A gente teve uma hora que parecia que ia dar certo. Ia dar, ia dar. sabe quando vai dar? Pra vocês, nem isso. A gente teve a ilusão, mas vocês chegaram depois que mataram a ilusão da gente. Tava tudo morto quando você nasceu, boy, e eu já era puta velha. Então eu tenho pena. Acho que sou melhor, sei porque peguei a coisa viva. Tá bom, desculpa, gatinho. Melhor, melhor não. Eu tive mais sorte, foi isso? Eu cheguei antes. E até me pergunto se não é sorte também estar do lado de fora dessa roda besta que roda sem fim, sem mim. No fundo, tenho nojo dela - você?
Você não viu nada, você nem viu o amor. Que idade você tem, vinte? Tem cara de doze. Já nasceu de camisinha em punho, morrendo de medo de pegar Aids. Vírus que mata. neguinho, vírus do amor. Deu a bundinha, comeu cuzinho. pronto: paranóia total. Semana seguinte, nasce uma espinha na cara e salve-se quem puder: baixou Emílio Ribas. Caganeira, tosse seca, gânglios generalizados. Õ boy, que grande merda fizeram com a tua cabecinha, hein? Você nem beija na boca sem morrer de cagaço. Transmite pela saliva, você leu em algum lugar. Você nem passa a mão em peito molhado sem ficar de cu na mão. Transmite pelo suor, você leu em algum lugar. Supondo que você lê, claro. Conta pra tia: você lê, meu bem? Nada, você não lê nada. Você vê pela tevê, eu sei. Mas na tevê também dá, o tempo todo: amor mata amor mata amor mata. Pega até de ficar do lado, beber do mesmo copo. "
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Sem mim, sem nós; sensível.
Em terceira pessoa fica mais fácil.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Só pra constar:
Ah! Vê se me erra, príncipe encantado. Vê se te manca enquanto eu vou cuidar de mim. Cuidar: isso, sim, faz bem.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
04:23:51
No inicio eu gostava, gostava pra caramba para ser sincera, mas isso só no começo, entende? O começo é sempre bom. É como comer chocolate meio amargo. Você morde o primeiro pedaço, gosta, morde novamente e de novo e mais uma vez; continua comendo até acabar com tudo. Satisfeita, fica com aquele gostinho na boca. E então, dentro de instantes, o gosto começa a se modificar e você percebe que daquele chocolate meio amargo, agora, só existe o amargo; o amor é igual.
Depois você se encontra tomando água e ouvindo Ne Me Quitte Pas sem parar. E dai que você não entende porra nenhuma?
A melodia é tão triste.
Você continua ouvindo e ouvindo e ouvindo.
Até que alguém, cansado, pergunta: por que ouve tanto essa musica?
Silencio.
Você não sabe responder.
Eu não sei; parei para pensar e só descobri que eu faço centenas de milhares de coisas que eu nem imagino o porquê.
Talvez porque seja triste como a melodia de Ne Me Quitte Pas ou porque seja meio amargo como o chocolate.
Como saber?
Um copo de água. Três garrafas. Cinco litros.
Ne Me Quitte Pas
Ne Me Quitte Pas
Ne Me Quitte Pas
Aderindo à moda: http://twitter.com/mamila_caria
terça-feira, 13 de outubro de 2009
O filme nunca para.
“E enlouquecerás pelo que hás de ver com os teus olhos”
Deuteronômio 28:34
Era só mais um dia comum.
Um dia como outro qualquer em que ela leria livros, encontraria pessoas, conheceria canções e escreveria antes de dormir.
Na monotonia do dia se entorpeceria de Wilde, Sheldon e Dostoiévski enquanto as pessoas, ao seu redor, falariam sem parar.
Inquietar-se-ia.
Pensaria em ir até a cozinha e tomar um gole de café de ontem, chegaria a levantar-se de onde estava, mas então se lembraria do quanto odiava café.
Pensaria na geladeira, vazia, e forçaria sua mente a se lembrar se ainda haveria aquela garrafa de vodca esquecida por lá.
Não lembraria.
Iria até a cozinha a fim de ver com seus próprios olhos.
Abriria a geladeira e encontraria a garrafa vazia, a encostaria em sua boca e sentiria um gosto de algo como "aquilo que já não existe relembrando algo esquecido”.
Pediria: que haja cigarros naquela gaveta.
Não haveria e, então, acrescentaria: ainda tenho meu Rock'n' Roll.
Colocaria um tênis qualquer, prenderia os cabelos com uma fita qualquer enquanto, em seus fones de ouvido, um puta cara gritava sem parar.
Ganharia um cigarro de um andarilho e lhe beijaria a face em agradecimento.
Sorriria para alguns jovens rapazes e pensaria, arduamente, em um.
Sentiria saudades.
Apertaria o pause daquele mpqualquercoisa, como quem diz: há certas horas que nem o velho Rock é a salvação.
Gritaria: o amor é um grande filho da puta; somos grandes filhos da puta, meu bem; grandes, e bons, filhos de uma, puta, puta.
Riria de si.
Olharia, de volta, para as pessoas que a olhariam assustadas.
Sentaria na calçada, já acostumada à sarjeta, pegaria uma bituca de cigarro no chão, a maior delas, e tragaria sem se interessar por seu passado.
Levantaria.
Olharia para os lados e diria - bem alto para que todos a ouvissem: preciso ir.
Acreditaria em sua própria mentira e voltaria para casa.
Voltaria para Dostoiévski, para Wilde, para Sheldon.
Voltaria para mim e para a garrafa vazia - agora quebrada contra a parede.
Jogaria o tênis em qualquer canto da sala.
Ouviria as reclamações de sua mãe sem prestar muita atenção.
Sentiria cheiro de café e lembraria: Odeio tanto!
Iria até a cozinha e encheria uma xícara, inteira, com aquilo.
A mãe diria: tem que adoçar.
Não ouviria.
Não adoçaria.
Amargo...
Concluiria, de súbito: tanto quanto a vida.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
“Queria que o meu pensamento te acordasse (...)”
Eu deveria tantas coisas e já pensei em tantos planos para não te deixar ir embora.
Em tantas, mas tantas, desculpas e chantagens e motivos.
Muitos. Tantos. Mas ainda assim é pouco.
Meu corpo, lasso, não quer me ajudar. Está contra mim, contra nós. Quando você bateu aquela porta eu senti meus pés grudarem ao chão. Tentei correr ou gritar para que você ficasse, gritar que eu te amo e que dessa vez dará certo. Não pude; estava cansado demais para continuar o jogo, muito cansado para comprar outras fichas no caixa da garota de blusa verde.
Numa dessas noites, sem prestar muita atenção, conversei com Deus, e ele disse qualquer coisa sobre paciência e amor e você. Eu não entendi muito bem e talvez não entenda nunca; mas eu te amo e embora não saiba demonstrar, ou gritar verdades em meio à praça lotada de pessoas, eu sinto sua falta.
Sinto uma falta enorme de nós.
É que a vida me impede de voltar atrás; vive dizendo que os passos têm de ser dados para frente e que um, por menor que seja, direcionado ao passado nos rouba litros de alma.
Eu não tenho muita alma, eu não tenho amor e nem tenho você.
Mas eu te amo, entende?
Eu te amo!
E, é por amor, que te deixo ir.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Implícito?
É sempre a mesma coisa: esse garoto não tem coração, é tão frio e blá blá blá.
Que merda!
Será que elas não percebem que o que realmente fode é que eu sinto demais? Sentir sempre fode.
Olho para o espelho, toda manhã, e vejo um cara totalmente fodido.
Às vezes passo o dia todo pensando nele; às vezes o esqueço o dia todo, mas quando chego em casa qualquer coisa me traz uma vontade enorme de esquecer, então eu lembro: é necessário esquecê-lo. Dói, às vezes dói um bocado, mas é uma dor consciente, então digamos que, na maior parte do tempo, eu sou mais forte que ela. Quando a dor é consciente nem chega, de fato, a ser dor. A inconsciente, sim; mata, dilacera, destrói. Você está quieto, num canto, quando num repente surge aquele sentimento arrasador, você tenta disfarçar ou fingir que ele não existe, mas inconscientemente começa a sentir saudade; ela se aloja num lugar que você desconhece e, é tão intimo que, é quase impossível tocá-lo, dentro de minutos vai ganhando seu corpo e, quando percebe, já não pode se mover e por mais que você procure o lugar para, com suas próprias mãos, tirá-la dali e se livrar de tudo, não consegue. Não dá.
Então percebe: o quase foi embora; o lugar é, realmente, intocável.
É claro que, após alguns dias - ou horas -, a dor vai embora, mas o tempo que fica é o suficiente para fazer estragos. A dor sempre fode.
Olho para o espelho, toda manhã, e vejo um cara totalmente fodido.
Saio tentando jogar no asfalto todas as minhas frustrações e mentiras. Ando, ando, e quando volto para casa evito encarar o espelho. Não olho. Durmo. Te esqueço, antes de fechar os olhos, já sabendo que amanhã farei o dobro do esforço para relembrar. Sempre me obrigo a lembrar, e é em noites assim que eu percebo o quão ameaçador eu posso ser.
Eu me destruo apenas por pensar, e até acreditar, que um dia tudo voltará a ser como antes. Não vai, eu sei. Não vai. Foi: ele; ele se foi levando o quase. Ele se foi levando tudo e eu nem tive tempo de dizer o que eu sentia, o que eu queria, o que eu faria se ele ficasse. Não tivemos tempo. Nem pude dizer que quando a gente quer que a outra pessoa fique a gente faz de tudo. Eu faria tudo, ou não faria nada, se assim ele quisesse. Se ele ficasse. Mas ele se foi...
O grande problema em não ser explicito é que as pessoas acham que você não sente.
Merda!
A saudade domina todos os meus sentidos.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Sobre coisas
Nada.
Quando vimos, claramente, os olhares já nos cercavam buscando entendimento por trás de cada passo dado, ou palavra dita, assim sem-querer-num-final-de-tarde. Eu não tenho culpa se algumas coisas acabaram e outras foram embora; talvez elas façam parte daquelas coisas que tem-de-acontecer, e você sabe que elas não dependem da nossa vontade e, muito menos, da nossa aprovação, não é? Você sabe, eu sei. Por dentro consegue entender que eu não tenho culpa alguma, como ele não tem e você também não. Sem culpas, baby. Você sabe que eu também faço parte dessas coisas que tem-de-acontecer, sabe que eu sempre acabo indo embora e, às vezes, não dou sinal de vida por estar morta. Até que aparece – magicamente – tal impulso vital que nos cospe, e nos empurra, para qualquer coisa ou nada. Tira-nos de um “pause” e nos mostra que é preciso continuar e que, até acabar de vez, o caminho é longo e áspero.
Então não queira me matar, amor; já estou morta há dias – e desde então a porra do impulso vital não deu as caras por aqui.
Talvez essa morte faça parte das coisas que tem-de-acontecer.
Talvez eu morra, por pirraça, durante a noite enquanto procuro respostas e perguntas tão capciosas que não se pode responder ou perguntar.
Mas entenda, amor, não há culpado.
Sem culpas, baby.
Sem culpas.
As coisas acontecem porque tem de acontecer.
E se a merda de impulso vital der as caras, por aqui, talvez eu volte a te amar amanhã, no momento estou cansada demais para comprar fichas naquele caixa da garota de blusa verde.
Do pause ao game over num pulo.
Odeio roubar no seu jogo.